terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Medo e ansiedade: o coronavírus acelera o futuro

Uma máxima utilizada por analistas é de que a crise é oportunidade de exercer a criatividade. Ao menos, em tese, uma chance para vislumbrar alternativas, focadas no conhecimento científico, realidades financeiras e criatividade de seus gestores. No entanto, o que se percebe é que também pode ser a chance das pessoas se acomodarem e repetirem os velhos e surrados bordões de que o brasileiro é um povo difícil, mal educado, sem cultura, incapaz de ser solidário, individualista, capaz de correr atrás da satisfação de suas “necessidades” em detrimento do social.

Menos… bem menos… Até concordo que se alguém disser o que está acima pode estar correto, mas não generalizar. Tem-se uma parcela da população que faz e é exatamente assim, mas também uma grande maioria silenciosa capaz de sacrifícios, determinação, empatia, já detectada, especialmente por governantes, que, em muitos casos, eximiram-se do básico dos básicos no atendimento social e financeiro, transformando o ano que passou num tempo em que, enquanto parcela da sociedade se organizava para responder ao grito agoniado dos mais necessitados, fazia um obsequioso silêncio.

O final do ano – com festas do Natal e Ano Novo – deu nova injeção de ânimo nas campanhas que arrecadam doações para cestas básicas, roupas e material de construção. No entanto, a capacidade da população de abrir mão de parte da renda para a solidariedade deixa de ser o que programou para gastos extras e começa a entrar no vermelho... Reconhecendo que, junto com o auxílio emergencial do governo, garantiu a subsistência e, agora, é a vez do governo cortar na sua carne, no que se refere a mordomias e ganhos que, repetindo, podem até serem legais, mas são imorais.

É necessário um passo adiante: mesmo precariamente, ainda havendo a necessidade de pressão sobre os governos para fazer a sua parte, é preciso alimentar o espírito! Este processo precisa da participação real de todos os segmentos que atuam na educação: professores, comunicadores, líderes comunitários, religiosos, enfim, toda e qualquer pessoa que é, na prática, um formador de opinião. As diferenças ficam gritantes quando o ensino a distância precisou de instrumentos que estavam à disposição dos mais abastados, ficando para os mais pobres as migalhas e as sobras...

Minha crítica não é para as pessoas de boa vontade que fizeram doações ou até reciclaram aparelhos. Para qualquer um, é difícil de aceitar que, em imagens de televisão, se vissem crianças em escritórios ou em salas com seus notebooks, assim como aqueles que num espaço comum de convívio de toda uma família sentavam-se num canto de mesa tentando cumprir tarefas utilizando a tela de um celular… O princípio é o mesmo: fizeram aquilo que os governos deveriam ter feito e se omitiram. Na falta dos administradores, o espírito comunitário falou mais alto e fez a diferença.

A discussão dos quesitos básicos não pode ofuscar a necessidade de se estabelecer horizontes possíveis. Como população, seremos mais pobres, sofridos, com marcas de acertos e erros (falo com relação à pandemia), também pela ação enquanto sociedade organizada, onde a omissão política já fez bastante estrago. O coronavírus acelera o futuro. Pelos próximos anos, sentiremos seus efeitos. O medo e a ansiedade precisam dar lugar à certeza de que estaremos juntos: a diferença entre soçobrar num projeto individual ou a perspectiva de uma sociedade, de fato, mais justa e solidária!

Manoel Jesus – Educador – manoeljss21@gmail.com

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