domingo, 27 de setembro de 2020

Santiago dos meus sonhos!

Quem já esteve como peregrino, ouviu a narração ou assistiu documentários e vídeos de viagem de alguém que percorreu os caminhos de Santiago de Compostela (na Espanha), sabe que são necessárias cumprir etapas para as trilhas que duram, em média, de uma semana a um mês, algumas saindo do outro lado do país, ainda na França. Percorrer estradas e caminhos pode ser apenas um exercício físico, uma atividade religiosa, mas também uma parada, um momento de reencontro consigo.

A primeira semana é tempo de acostumar o corpo. Na segunda, vencidos ajustes físicos como as bolhas e o cansaço, enfrenta-se o período mais difícil: a crise - aparecem os ajustes da interação com os companheiros, quando é necessário negociar e ceder, a mente passa a trabalhar as relações humanas e afetivas. Na terceira, se tem a perspectiva da chegada o que intensifica a experiência de grupo. No final das contas, inicia-se a experiência de fé entre você e Deus e um balanço do que já se conseguiu.

A primeira semana - quando o corpo se acostuma com a jornada - pode ser o objetivo do percurso. E não tem nada demais para quem não se sente em condições de buscar respostas para a sua fé ou amadurecer para vencer mais uma etapa na vida. O segundo caso é mais complicado: pessoas de todos os credos enfrentam um tempo de busca pela identidade. Não são somente cristãos/católicos, mas respostas que o dia a dia não oferece pelo fato de que caímos na rotina das nossas relações ou no cumprimento de "deveres" religiosos que sufocam a capacidade de desafiar os próprios limites.

O exemplo citado por muitos caminhantes, na primeira semana, é um pouco da transição que se espera para a jornada: "a mochila passa a ser integrada no corpo", natural para quem cumpre jornadas de trabalho, convivência educacional, de estudos ou religiosos e sabe que, ao passar do tempo, nossas tendências serão sempre estas: vamos incorporando "penduricalhos" físicos ou psicológicos que formam o peso e dificultam o caminhar, mas não sabemos como nos livrar deles ou resumi-los ao essencial.

Tempo de se aprender o desapego do supérfluo e a ausência de pessoas queridas são capazes de nortear diferentes perspectivas. Mais ainda para quem deseja reencontrar referências religiosas. No momento de silêncio, longe dos templos conhecidos e desafiados pela natureza do entorno ou do próprio corpo, sobra o sentimento de que há outros caminhos e outras perspectivas. Especialmente, ao encerrar a jornada, na celebração da acolhida, participando do momento do desapego...

O "Santiago dos meus sonhos"? Gostaria de fazer um "pequeno caminho" comparado aos 800 km que iniciam na França. Caminhada entre amigos (antigos e novos vizinhos, "jovens" do "Em Busca de um Novo Sol" e outros que a vida trouxe). Não teria preparo físico para todo o percurso. Poderia se fazer por "estações". Os que estivessem melhor iniciariam em Pelotas, mas os mais "velhinhos", como eu, começariam ao pé da serra onde fica o Santuário e Pousada de Guadalupe. Com direito a pernoite e, na volta de uma fogueira, percorrer os cadernos de músicas da Lucinha e da Hilda, contando as muitas histórias que ainda guardamos... Ôh, e que histórias!

Nenhum comentário: