A primeira semana é tempo de acostumar o corpo. Na segunda, vencidos ajustes físicos como as bolhas e o cansaço, enfrenta-se o período mais difícil: a crise - aparecem os ajustes da interação com os companheiros, quando é necessário negociar e ceder, a mente passa a trabalhar as relações humanas e afetivas. Na terceira, se tem a perspectiva da chegada o que intensifica a experiência de grupo. No final das contas, inicia-se a experiência de fé entre você e Deus e um balanço do que já se conseguiu.
A primeira semana - quando o corpo se acostuma com a jornada - pode ser o objetivo do percurso. E não tem nada demais para quem não se sente em condições de buscar respostas para a sua fé ou amadurecer para vencer mais uma etapa na vida. O segundo caso é mais complicado: pessoas de todos os credos enfrentam um tempo de busca pela identidade. Não são somente cristãos/católicos, mas respostas que o dia a dia não oferece pelo fato de que caímos na rotina das nossas relações ou no cumprimento de "deveres" religiosos que sufocam a capacidade de desafiar os próprios limites.
O exemplo citado por muitos caminhantes, na primeira semana, é um pouco da transição que se espera para a jornada: "a mochila passa a ser integrada no corpo", natural para quem cumpre jornadas de trabalho, convivência educacional, de estudos ou religiosos e sabe que, ao passar do tempo, nossas tendências serão sempre estas: vamos incorporando "penduricalhos" físicos ou psicológicos que formam o peso e dificultam o caminhar, mas não sabemos como nos livrar deles ou resumi-los ao essencial.
Tempo de se aprender o desapego do supérfluo e a ausência de pessoas queridas são capazes de nortear diferentes perspectivas. Mais ainda para quem deseja reencontrar referências religiosas. No momento de silêncio, longe dos templos conhecidos e desafiados pela natureza do entorno ou do próprio corpo, sobra o sentimento de que há outros caminhos e outras perspectivas. Especialmente, ao encerrar a jornada, na celebração da acolhida, participando do momento do desapego...
O "Santiago dos meus sonhos"? Gostaria de fazer um "pequeno caminho" comparado aos 800 km que iniciam na França. Caminhada entre amigos (antigos e novos vizinhos, "jovens" do "Em Busca de um Novo Sol" e outros que a vida trouxe). Não teria preparo físico para todo o percurso. Poderia se fazer por "estações". Os que estivessem melhor iniciariam em Pelotas, mas os mais "velhinhos", como eu, começariam ao pé da serra onde fica o Santuário e Pousada de Guadalupe. Com direito a pernoite e, na volta de uma fogueira, percorrer os cadernos de músicas da Lucinha e da Hilda, contando as muitas histórias que ainda guardamos... Ôh, e que histórias!
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