quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Aposentados, mas não mortos 4


A discussão dos últimos dias a respeito de como pagar a conta da pandemia colocou na sala um bode e já despertou reações: a equipe do governo federal vazou a informação de que os burocratas da economia pensavam em diminuir os índices de reajustes dos proventos dos aposentados, assim como, voltava-se a acenar com a possibilidade de que a sua atualização não fosse mais vinculada aos índices com que também se tenta recuperar a capacidade de ganho do salário mínimo.

Percorrendo o Brasil, especialmente em lugares onde sua popularidade não alcançou o que julga ideal para tentar um novo mandato, o presidente apareceu na televisão esbravejando e se fazendo de perdido em meio à papelada e números, afirmando que não tiraria dos pobres para alcançar aos miseráveis... Bravata que gerou, em seguida, reação dos economistas, que voltaram atrás e informaram que não foi o ministro o ameaçado de receber cartão vermelho, mas é certo que alguma cabeça irá rolar...

Engraçado é que, nos mesmos dias, o Congresso anunciou o fim de uma ajuda de custo (correspondendo a um salário), quando os deputados se mudam para Brasília ou saem de lá. Mesmo se reeleitos, recebem novamente o recurso e, se morarem na capital federal, também vão ser agraciados. Este é só um dos muitos exemplos de penduricalhos - mordomias e benefícios - que os políticos se dão ou, pressionados por altos escalões dos três poderes, distribuem como mimo entre seus pares...

Uma das maiores excrescências se chama "auxílio moradia", distribuída às custas do erário público com critérios, no mínimo, duvidosos, legalizados às custas de lobismo no Congresso, onde sua capacidade de "convencimento" é altamente comprovada. Pergunta: a lei não é "igual para todos"? Então, porque para alguns ela parece ser "mais igual"? Se os recursos são públicos (para todos), porque alguns se beneficiam, enquanto a população é arrochada e busca um jeito de não cair na miséria?

"Aposentados, mas não mortos" foi uma série de artigos que escrevi mostrando o quanto a categoria dos aposentados dá sinais de que se mobiliza e pressiona para evitar perdas nos seus benefícios. Já levou um golpe com a antecipação do 13% salário, gasto, muitas vezes, no apoio a familiares que perderam emprego ou tiveram seus vencimentos diminuídos. Não foi por falta de aviso: foi alertado que este dinheiro irá faltar no final do ano para gastos anuais e movimentação da economia...

O que se precisa, urgentemente, é reformar a máquina pública, preferencialmente, por uma Assembleia Constituinte, onde se faça valer o princípio da igualdade entre todos os brasileiros. Os cofres estão raspados não pelo auxílio destinado aos mais pobres, mas pelo efeito carrapato que sugou os recursos num sistema que se tornou legal, mas demonstra, na parcela da população que jogou na marginalidade, o quanto é imoral!

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