Na imensidão dos espaços vazios, uma porta se abre na entrada do teatro e aparece Enderson, enfermeiro, trabalhando em Paraisópolis, arredores de São Paulo, que é recebido com palmas pela cantora. Emocionado, apenas murmura um "brigado", "brigado", antes de sentar para ouvir, com exclusividade, músicas como “Pássaro de Fogo” e “Eu Me Perdi”. Como diz o slogan utilizado pelo promocional que foi ao ar pela televisão e agora está disponível no YouTube e nas redes sociais: "um artista cantando para um herói".
O projeto "Frente à frente" é do Mercado Livre e beneficia a Cruz Vermelha e a ONG Banco de Alimentos de São Paulo. Paula Fernandes afirmou: "fiquei muito feliz com o convite para homenagear heróis como o Enderson, que vêm arriscando as próprias vidas para cuidarem de todos nós. Foi um encontro emocionante e espero que o público também possa sentir a mesma emoção que tivemos ali, juntos". E foi mesmo, o registro foi da apresentação da cantora apenas com voz e violão, para uma conversa amena e descontraída, onde Enderson confessa que estava afastado de casa há 90 dias para atender a uma parcela carente da grande metrópole.
Ele registra: "é um sonho, não esperava mesmo..." E ela retorna: "estou aqui, em nome da minha música, em nome do amor..." e começa a cantar. Faz aquilo que muitas pessoas que sofrem acabam registrando: em muitos momentos em que nos faltam as palavras, às vezes apenas pedaços de uma música ficam gravados em nossas lembranças e servem como bálsamo para a nossa dor. As lágrimas que, muitas vezes, se derramam quando se ouve uma canção que chega lá no fundo é aquela que nos torna mais leves, carrega consigo muitos dos nossos pesos e das nossas tristezas...
As palmas da cantora e do fã ressoam estranhas no espaço vazio... Mas a plástica da imagem é ideal para uma apresentação musical e não para o diálogo que, claro, em alguns momentos, sai truncado e difícil pela situação emocional: ele acossado pelo receio com a própria vida e a da mãe, já idosa, da qual está separado para poder trabalhar. Paula Fernandes diz: "a gente procura palavras neste momento, mas é difícil, né". Mas nem seriam necessárias as palavras. O local, a música, os dois juntos fazem um apelo pela solidariedade, a simpatia e a empatia...
Lá pelas tantas, mexe com o emocional de todos nós ao registrar que é preciso dar "viva aos abraços e aos beijos que a gente não dá. E que muito em breve a gente vai poder dar." Também é verdade. Talvez seja a falta que mais demonstra as nossas carências neste tempo: receber e dar carinho a quem se ama - as nossas referências - a razão para encontrar caminhos que nos levem para um depois da pandemia. Para os braços e abraços de quem se deseja o aconchego e, enfim, respirar e suspirar... fazer a vida ganhar o seu pleno sentido!
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