segunda-feira, 10 de agosto de 2020

Sobreviver: uma questão de persistência

Quando ouvi a notícia de que o Brasil passou das 100 mil pessoas mortas pela infecção do coronavírus, meu primeiro pensamento se voltou para as famílias das vítimas: em cinco meses, sofreram com o momento em que souberam que seu parente positivou, entraram em angústia quando foi hospitalizado e tiveram o pior desfecho. Com as notícias de que um bom número se recupera, mesmo que muitas vezes com sequelas, sempre restava a esperança de que o final não fosse tão trágico e não participassem deste que já é um placar mórbido e macabro.

Notas burocráticas de políticos e administradores de plantão não alcançaram a dimensão de toda uma tragédia anunciada... e concretizada. Disseram o óbvio, sem chegar ao coração de uma sociedade que, por ter sido mal-educada, não responde aos mais elementares apelos por conscientização e postura que confronte a pandemia. Seu desconhecimento é estimulado por aqueles que ainda não entenderam toda a dimensão do problema e geram dúvidas e incertezas, especialmente na cabeça das pessoas mais simples e menos esclarecidas.

Mas não é só: a má educação alcança outros níveis, de melhor poder aquisitivo, que olham o entorno do próprio umbigo e não abrem mão de pequenos e mesquinhos privilégios: passeios de carros por praias e avenidas, compras em centros tumultuados, reuniões de todos os tipos (de jantares entre amigos a jogos de carta). Aqueles que viajam e trouxeram vírus na bagagem, agora deixam que tome o rumo das vilas e bairros onde, com menos recursos e informação, as pessoas balançam entre a necessidade de preservar a vida e a manutenção de uma fonte de sustento.

Meu segundo pensamento foi para meu sobrinho neto que positivou. Dez dias de angústia, maus sonos, maus sonhos, muitas orações, a vontade de falar com ele a toda hora... mas sabendo que somente o preocuparia, assim como à própria mãe. A tristeza e a prece: "Senhor, já enterrei minha mãe, meu pai, meu irmão, minha irmã, um sobrinho neto. Não me apronta mais esta... já não quero enterrar mais ninguém, agora é a hora de que, no momento oportuno, outros me enterrem!" Negativado, faz com que se entenda melhor o que outros estão passando.

Pelos espaços que tenho nos meios de comunicação e redes sociais, pedi que as pessoas respeitem a decisão da Prefeitura de Pelotas: por três dias, cessem todas as atividades e se tente conter o vírus. Não sei se vai dar certo, mas o executivo municipal foi eleito para propor à sociedade o que julga ser o melhor para este momento. Conheço administrações desde o prefeito Ary Alcântara e nenhuma passou por uma situação semelhante. Portanto, é preciso depositar confiança e colaborar para que este número não aumente ainda mais...

Postagens contrárias ou questionadoras é aposta na contra informação: temos uma sociedade polarizada entre aqueles que ainda participam da vida política e uma parcela que não se interessa mais pela organização social e quer, apenas, sobreviver. No olho do furacão, sobreviver é uma questão de persistência... e repetir como Buda: "a mudança é inevitável. A perda é inevitável. A felicidade reside na adaptação em sobreviver a tudo o que é ruim!"

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