domingo, 16 de agosto de 2020

Esperando a primavera

Não sei o nome daquele arbusto...

Confesso que aí está uma das minhas grandes dificuldades:

Sempre gostei de flores, mas nunca fui bom de memória com seus nomes.

Não me preocupei em descobrir a sua identidade.

Sempre foi "a muda da comadre Ibraíma",

A tia que morava no interior e que, periodicamente, visitávamos.

E a referência que fazia memória à parente, bastava.

 

Veio de alguma visita ao interior de Canguçu ou São Lourenço,

Por onde se espalharam tios e primos.

A mãe gostava de andar pelos arredores das casas vendo o arvoredo e as flores.

Sempre havia um lugar reservado e fechado que era um jardim,

Distante do acesso aos animais do pátio...

Difícil quando se voltava sem um galho, uma muda, um enxerto...

 

Ficou ali, junto ao pé da Camélia - a rosa de inverno -

e a laranjeira do céu - sem ácido e reservada para a mãe e meu sobrinho.

Nestes tempos em que a natureza já guarda os embriões da primavera,

encorpa seus talos e adiciona pingentes coloridos.

Onde ainda se pode ouvir a voz que recomendava:

Quando as flores caírem, pede pro seu Otílio podar...

 

A poda e a primavera,

a morte e o renascimento,

a entrega e o ressurgir de galhos e brotos...

 

Abençoada e carinhosa lembrança de outros tempos, de outras vozes...

Vozes que vão ficando na memória, diluídas em feições que já esmaecem...

E ainda libertam a natureza que cumpre todas as estações e marca os nossos rostos:

os sulcos que se ressecam no verão, em lugares em que os anos vão sendo amontoados;

desprendem as folhas no outono, trocando a cor rosada e a pele firme;

adormecem no inverno, anunciando que a finitude é possível;

Envelhecer é passar por todas as estações, sabendo que, enfim,

A vida segue seu rumo, alimentada pela esperança de uma sempre renovada primavera!

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