domingo, 23 de agosto de 2020

Juventude: uma promessa de eternidade

Final da década de 70, início da década de 80. Vindos de diversas vilas, jovens se reuniam na Igreja Católica de Santa Teresinha, formando o grupo Em Busca de Um Novo Sol. Aos domingos, antes da Missa - a reunião era na sequência - ficávamos no entroncamento da avenida São Jorge e a Vinte e Cinco de Julho (popular Barbuda de outros tempos) aguardando amigos que, em muitos casos, levávamos uma semana para encontrar, mas já para combinar programas para a tarde e a noite, além de comentar os bailinhos do sábado...

O mais interessante é que, de longe, reconhecíamos cada um dos meninos (as meninas sempre foram mais discretas), pela roupa, aqueles que começavam a usar cabelos compridos, ou mesmo pelo jeito de andar. Alguns eram mais tímidos, outros mais ousados e já tinham uma bossa diferente (ainda se usa esta expressão?), para nós, lançando moda. Não esqueçam que não existiam as redes sociais e os modismos das revistas, que faziam sucesso, então, levavam mais tempo para serem conhecidos.

Televisão, então, nem se fala. As transmissões em nível nacional engatinhavam e, em muitos casos, recebíamos as novelas uma semana depois. Pouco antes disto, uma das maiores preciosidades daqueles tempos - Jovens Tardes de Domingo, que acabou em 1968 - passava, óbvio, no Rio, aos domingos, mas, por aqui, chegava no sábado seguinte, à tarde, pela então TV Gaúcha! Isto não importava, a gente não tinha muita pressa e quem, de alguma forma recebia informação antes, acabava ditando moda. Ou, como se dizia então, fazendo bossa.

Estava próximo ao portão, quando dois homens vieram em minha direção. Logo reconheci o mais velho como sendo um dos muitos companheiros de grupo jovem. Me apresentou o mais novo, seu filho e o rapaz foi logo dizendo: o velho sempre conta muitas histórias do tempo de vocês. Prontamente, o pai afirmou: velho é a tua mãe. Retrucou o mais novo: vou contar pra ela. Voltou o mais velho: não me ferra. O interessante não era o que foi dito, mas como foi dito. O olhar era de sorriso e cumplicidade. Pai e filho, amigos e companheiros.

Brinquei que eles pareciam da mesma idade. O mais novo continuou provocando que o pai não era muito velho, mas que tava mal conservado. Retrucou que não ia dar uma resposta por respeito a mim. Mas foram contando histórias, sendo que o pai - representante comercial - confessou que, quando pode, tirou o menino de debaixo da saia da mãe e passaram a viajar juntos e fazer pescarias, pelas quais ambos são apaixonados. 

Vê-los assim me deixou mais leve, mesmo em tempo de pandemia. Quando se foram reparei que o mais velho caminhava, agora, normalmente, mas o jovem tinha um gingado que me levou àqueles dias no cruzamento em frente da Igreja: a bossa que identificava o pai, agora estava presente no filho. Não creio que seja genético, mas sei que pode ser afetivo: o afeto que perdura e faz a diferença - ficam as lembranças e a saudade. Todos os tempos até podem ser bons, mas a juventude tem um gosto de eternidade que não se cumpre. O melhor é pensar como o grande Mario Lago: "fiz um acordo de coexistência pacífica com o tempo. Nem ele me persegue, nem eu fujo dele. Um dia a gente se encontra".

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