domingo, 14 de junho de 2020

Pandorga: a marca de uma saudade

Passando o inverno, logo vai ser tempo de primavera. Os primeiros ventos trazem a euforia de ir para as ruas. Reunir papel de seda, pedaços de bambu, barbante - de preferência linha 10 de algodão - cola branca, ou aquela feita à base de farinha de trigo, com a ajuda dos pais...
E depois correr, correr muito até que a pandorga ganhe os céus e se torne a coisa mais linda que a gente já viu. Tem que aprender a manobrar, a lutar contra as condições da rua, especialmente do vento. Ah, o vento! Muitas vezes é mais forte e a joga para o alto, ou a prende sobre uma árvore, ou a transpassa numa rede elétrica...
Tem uma pandorga pendurada nos fios, no meio da minha rua…
Os meninos que corriam para fazê-la levantar voo, agora ganham uma despedida e seguem em bandos para as escolas… Depois, eles - jovens - partem para se encontrar no Mundo, enquanto ela ainda balança ao vento, na certeza de que ali sempre encontrarão o conforto de encontros e da acolhida…
Muitos voltaram, outros ficaram pelas estradas... Na última despedida, já restavam apenas alguns barbantes e pedaços de bambu. Mas o mesmo sentido: a vida passando não permite que se esqueça do lugar da partida. Os bracinhos que empinavam a pandorga com a certeza de levantar voo
foram ficando cansados e com passos trôpegos... Muitas vezes passaram pelo mesmo lugar que ainda tinha sabor de lembrança.
E viram outras pandorgas penduradas nos fios da rua, acalentando ou desfiando sonhos… o combustível que o vento embala e o tempo grava em cada coração… com uma marca certa: a marca da saudade!

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