Os números apresentados mostram que o estrago da pandemia do coronavírus é grande. Na medida em que se discute a doença, também se coloca em questão os dados da economia, com reflexos que durarão pelos próximos meses. Os governantes têm ido de declarações contundentes (como o próprio presidente) ao silêncio daqueles que estão, de fato, no enfrentamento direto e preferem trabalhar a discursar. Com histórias em que é fundamental que se entendam os aspectos de humanidade...
Em meio a tudo isto, há o quadro das famílias que começam a ter suas vidas transtornadas para sempre por perdas inesperadas, com histórias onde a lógica nem sempre é predominante: mãe e filha contaminadas e precisaram ser internadas. A primeira em grupo de risco, a segunda não. A primeira sobreviveu, a segunda não... O sentimento de impotência de quem diz não ser aquilo que se espera, que os pais enterrem os próprios filhos, havendo uma quebra da sequência natural da vida...
A técnica da Superintendência de Seguros se considera exatamente isto: uma técnica, para afirmar que "a concentração da doença em idosos (diga-se: mortes) poderia ser positiva para melhorar o desempenho econômico do Brasil ao reduzir o rombo da Previdência". Não conversou com os parentes da avó que gostava de almoços com toda a família. Acabou num hospital por conta de um problema menor. Em poucos dias contraiu o vírus. Embora a idade, ninguém acreditava, mas veio a falecer...
A médica recém formada começou a atuar na área de frente do combate ao coronavírus, atendendo pacientes do sistema único de saúde. Ao fim do primeiro plantão, pediu demissão: faltavam estrutura, material adequado e proteção. Ela tinha condições de fazer opções, mas ficaram para trás médicos, enfermeiros, atendentes que não desistiram, em muitos casos, não porque não tivessem medo e vontade, mas porque a situação de emprego não permite e sentiam o quanto se faziam necessários...
Mesmo especialistas da área econômica sabem que há coisas que não são lógicas e pode ser necessário sacrificar os anéis para não perder os dedos... Confirmando que a população vai ficar mais pobre, mas somente o sentimento de humanidade dá sentido a que se exija dos governantes que encontrem soluções reais e a curtíssimo prazo para as populações que já rondam a miséria. O problema é que resvalar para a miséria também embrutece quem sente que foi marginalizado da vida social e precisa sobreviver...
Ninguém sabe quando tudo isto vai passar, mas há um elemento: a pandemia não vai nos redimir. É precipitado definir a pós-pandemia, mas é certo que não vão acontecer milagres. A deterioração da vida social brasileira deixa marcas em gerações, com a omissão da própria sociedade. Para quem resmunga e não faz nada, vale lembrar Tiago Carossi: "não existe neutralidade na omissão; a omissão já é um posicionamento."
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