As memórias afetivas da infância têm muito a ver com pessoas, lugares e odores. Em tempos idos, em que os costumes de higiene não eram os mesmos de atualmente, até o cheiro de fumaça que muitas vezes aderia às roupas era a identidade de pessoas que passavam muito tempo próximas ao fogão à lenha, em todas as estações do ano. Ali coziam alimentos e, no inverno, era o aconchego dos familiares e amigos, muitas vezes com o pão no forno, o pinhão sobre a chapa e correndo na volta um bom chimarrão.
Dia destes, um domingo, esqueci o varal cheio de roupas na rua e, quando fui recolher, lá estava um dos cheiros quase esquecidos impregnando as peças, já que algum vizinho havia feito churrasco e a fumaça veio para a minha área. A lembrança da casa de tios, especialmente do tio Ciano e tia Toninha, com seu jeito acolhedor e carinhoso, para onde seguíamos nas férias e nos sentíamos como em nossa segunda casa, a segunda família. A comida sobre o fogão e a tia insistindo que precisávamos comer mais...
Associei com a postagem feita pelo whatsapp da comunidade Santa Teresinha, que tem a Cláudia por responsável. Contou que a ministra Clarice "visitou alguns idosos e doentes, aqueles que ela leva a Eucaristia em épocas normais, e, mesmo sem entrar, alcançou um pãozinho abençoado. Gesto de carinho e delicadeza, que trouxe alegria e consolo." E acrescentou: " a mãe tá numa felicidade que só chora. Realmente, foi de muita bênção a visita. Quando cheguei a mãe estava muito feliz e revigorada".
Em Porto Alegre, o dono de uma empresa viu diminuir a atividade de seu negócio e resolveu manter os empregados, direcionando a atividade para um trabalho com moradores de rua. Providencia roupas, assistência, sacos de dormir para minimizar os efeitos do frio. Um dos rapazes atendidos conta que conheceu o benfeitor quando andava pela rua com pacotes de massa que tinha ganho e não tinha como cozinhar. O empresário pediu a doação, levou e voltou com um prato feito.
A partir da empresa de Eventos, também consolidaram o "Rango na Embalagem", que arrecada, cozinha e distribui, além do pão, o necessário para um número cada vez maior de pessoas que entram na fila dos necessitados... Ao final de um programa de rádio, citava o papa Francisco: “a vida é boa quando você está feliz, mas é muito melhor quando os outros estão felizes por sua causa.” Pai de família, diz que é esta lição que tenta aprender todos os dias e repassar para seus filhos e colaboradores.
O pão que tem gosto de saudade daqueles que nos cuidaram na nossa infância; o pão que lembra a Eucaristia, presença do Sagrado, levado às casas com um carinho especial; o pão que minimiza o sofrimento dos desassistidos, que, também na rua, precisam sentir-se respeitados. O alimento que mais representa a nossa capacidade de acolhida. Entre as lembranças e a necessidade, a certeza de que, repartido, aumenta a nossa capacidade de viver em sociedade... e praticar a solidariedade.
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