Em isolamento social, uma das primeiras atividades do meu dia é a caminhada, acompanhado das irmãs do Convento de San Tanco (de San Juan, Porto Rico). Melhor explicar: simulo o exercício num aparelho elíptico, enquanto assisto à série A Noviça Voadora, onde uma religiosa chega à casa que mantém escola para crianças pobres. O certo é que, como diz a abertura: o peso e o chapéu de freira propiciam a aerodinâmica necessária para que voe. E a vida nunca mais foi a mesma...
Ainda é das histórias clássicas da década de 60, quando sempre há uma lição a ser aprendida e, para os mais velhos, a certeza de que temos todo o direito de sermos nostálgicos com a vida simples que se vivia. No início da segunda temporada, a irmã Bertrille (a noviça) encontra um amigo de tempos escolares, agora líder de uma banda. O convento tem dificuldades financeiras para manter as atividades e acertam para que uma composição da irmã seja cantada e os direitos autorais revertidos para as obras assistenciais. Mas...
O que é uma balada daquelas boas de se ouvir com os olhos fechados é transformada em uma batida de rock, com a letra alterada, mais pesada e mais ousada... beirando ao erótico. Apresentada numa boate, faz sucesso, mas logo depois a madre superiora e a irmã Bertrille se negam a aceitar o dinheiro conseguido com a apresentação e faz, com seu grupo de crianças, um recital em pleno jardim, num ambiente bucólico e acolhedor, quando o empresário trata o cantor como um "herege" e acusa: "você colocou um bigode na Monalisa!".
Sem "sofrência" (não esqueça, ela pode voar) a canção diz: "eu devaneio ao observar as cores das ondas que mudas quebram no preguiçoso litoral da minha mente. É um mundo totalmente novo que vejo" (vinda dos Estados Unidos, se defronta com a pobreza). Cuidando crianças, reconhece que: "meus olhos estão no amanhã (esperança num futuro) e minhas mãos no ontem (resgatar seus pequenos). Todo o panorama é o meu espelho. Eu sou todos e todos os lugares. E é um mundo totalmente novo lá fora".
Minhas "noviças" não podem voar... Nestes tempos de pandemia, querem continuar com um pouco da sua vida anterior, inclusive com a sua ação social. Sabem que já estão mais pra noviças de bengala, do que voadoras, mas não desistem, insistem, querem se manter ativas e participativas. São as "meninas" que integram a Congregação Mariana e as Mães Cristãs. Em função de que preparei vídeos para uma palestra virtual, fui colocado no primeiro grupo e a perspectiva de um trabalho semelhante no próximo mês fez com que me colocassem também na relação de whatsapp do segundo.
As madres superioras devem ser a dona Lea e a dona Eli. Com bastante trabalho, pelo que vejo, pois elas trocam receitas de todos os tipos, partilham reflexões, fazem uma corrente de informações, executam trabalhos... Enfim, estão encontrando alternativas para a nova vida que começa agora e vai se estender para depois do coronavírus. Uma vida de pequenos e possíveis serviços e de oração. O sentido para que os voos não se deem apenas quando o corpo se ergue em direção ao ar... mas quando o espírito encontra sentido em não desistir e partilhar até do pouco de esperança que ainda nos resta...
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