Recentemente, num encontro na comunidade São Francisco (bairro Py-Crespo) comecei a conversa recuperando a história daquele grupo, assim como da área urbana onde foi instalado. Preciosidades. É como classifico os depoimentos das pessoas mais velhas que lembraram de suas origens (o bairro é bem mais velho), no Salão Xavante, início dos anos 80. As Missões Populares realizadas pela Igreja Católica agregaram famílias inteiras que tinham uma origem comum: o interior. E a migração.
Vieram de diversos municípios, a partir da década de 50, e constituíram as vilas que se tornariam os bairros Santa Terezinha, Py-Crespo, Lindóia, Fragata, Areal... Tentavam melhorar a própria vida e sabiam que a terra não era suficiente para sustentar e dar perspectivas para seus filhos. A migração se deu para a periferia das cidades, fazendo a transição entre população predominantemente rural - até os anos 70 - para a urbana.
Alguns emocionados porque os pais que os trouxeram já não existem mais... Os mesmos que precisavam de terrenos amplos onde - na ausência dos campos e lavouras que faziam seus horizontes - plantavam árvores, tinham um pomar, criavam animais de pequeno porte. A vizinhança com novos conhecidos e parentes ajudava e as cercas eram apenas contenção para os animais. A generosidade se manifestava na solidariedade e capacidade de cuidar de quem enfrentara a mesma sorte.
Os que davam depoimentos são a última geração de homens e mulheres que vieram da terra. Entendem a linguagem do meio rural, mas se dividem entre quem ainda guarda saudades do tempo de infância e quem jura nunca mais voltar para aquela vida. Os que deixaram o interior mais "taludos" já compreendiam as dificuldades; os que vieram mais novos talvez lembrem de brincadeiras e uma vida mais próxima com a família.
Estão formando uma nova geração, de homens e mulheres do asfalto. Este salto dado sob a influência dos novos meios de comunicação faz a transição em que valores estão sendo abandonados: proximidade física, família patriarcal, lideranças personalistas, influência das religiões cristãs; e novos incorporados: relações mediadas por redes, família difusa, lideranças oportunistas, influência de espiritualidades e espiritualismos...
Para os "saudosistas", há sempre a lembrança de tempos que não viveram, mas que transformaram em valores: uma vida no interior bucólica ao invés da fome e das dificuldades; uma linguagem desconectada de valores rurais e um caminho onde as mudanças não dão chance de retorno... Entre a terra e o asfalto, há o homem, com os mesmos sonhos de felicidade que trouxeram seus pais para as cidades, quando estavam com um pé no caminho e o outro na esperança!
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