A senhora contou que havia passado por duas experiências: a primeira quando saia do supermercado e entregou o alimento para o grupo que recolhia donativos. A menina recebeu, agradeceu e completou: "Deus a abençoe". Achou que não havia entendido e disse: "como?" Ganhou um sorriso e a repetição: "Deus a abençoe!" Na outra ocasião, a filha saia para uma prova quando parou diante da porta e falou: "falta alguma coisa..." A mãe perguntou o que era: "a senhora ainda não me disse 'Deus te abençoe'."
Tenho repetido nos diversos grupos que me chamam para conversar: abençoar é um jeito de transmitir energia positiva para as pessoas que amamos. E também uma forma de estreitar solidariedade com aqueles que cruzam os nossos caminhos e vêem em nós um sinal de bondade e de carinho. Somos frutos de bênçãos espirituais que nos fazem melhores não quando deixamos aflorar nossas vaidades, mas sim a capacidade de cuidar e zelar pelo outro.
Ao se aproximar o final de ano, multiplicam-se grupos preocupados em conseguir alimentos, roupas, brinquedos que não vão resolver, mas minimizam o sofrimento de quem está em dificuldade. Pertencem a igrejas, sindicatos, associações, vizinhança, mas, especialmente, os bancos de alimentos - da Madre Tereza de Calcutá e o de Pelotas - emblemáticos na luta que fazem em conseguir ser uma ponte entre a sociedade e a população mais pobre. Miram este tempo tão especial sem perder a perspectiva de que a preocupação com quem está fragilizado deve ser permanente.
Uma destas postagens das redes sociais dizia: "se você não pode fazer o milagre da multiplicação dos pães - como Jesus - faça o da divisão". Dar e receber são partes inerentes à vida. Todos nós, um dia, precisamos receber algo de alguém, assim como também seremos capazes de suprir as necessidades alheias. Se por algum motivo deixamos de fazer uma das duas vemos tolhida a nossa capacidade de amadurecer e de ser feliz. Os ideiais são sempre muito bons quando, de alguma forma, nos tornam mais humanos e capazes de humanizar aqueles que, por algum motivo, se degradaram.
A senhora que me contou as duas histórias disse que saiu mais leve de suas compras. Ao chegar em casa colocou as chaves sob a prateleirinha onde fizera um "cantinho do sagrado". Ao lado estava a fotografia da filha. Murmurou um "Deus te abençoe" e soube que sua vida fazia sentido. Não era apenas por sua fé ou religião, mas porque estava feliz sabendo que ao ajudar também fora ajudada. Mais que uma bênção, era um sereno raio de luz, num Mundo de tantas injustiças e de tantas tristezas...
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