Minha participação no retiro das Mães Cristãs chegava ao fim quando uma senhoras fez a pergunta: "o que se diz para a família que recém perdeu um filho ainda pequeno?" Não tive tempo de responder. Outra mãe deu um depoimento que manteve em silêncio qualquer argumento: "não há o que dizer. Não há como medir ou sentir a dor de quem perdeu um filho. Mesmo para quem tem fé, é necessário um tempo para viver o luto, que não passa por chavões repetidos, mas por solidariedade, ombro amigo, companheirismo. O direito ao silêncio e, até, a se fazer "acertos" com Deus..."
No dia 2 de novembro (próximo sábado), celebra-se o Dia de Finados, um momento para se pensar naqueles que já nos deixaram; no caso dos cristãos, não com o sentido de finitude, mas de privilegiados que alcançaram, antes, um patamar que alimenta a esperança. Num momento de tantas perdas (recentemente o Tufy, a Aura, a Zênia...), dá-se sentido ao pensamento que fala no quanto o passar do tempo e as ausências vão acumulando lembranças. O peso é suficiente para que se comece a mancar do lado esquerdo... até que se alcance a Eternidade!
Nascer e morrer são como o exercício da própria fé: é pessoal, exige aprendizado e paciência... O certo é que passamos a vida sorvendo o tempo que já nos encaminha para o fim. O que colocamos no horizonte não depende dos outros, mas da capacidade de dar valor ao caminho e aos caminhantes que podem nos acompanhar. Um dia a mais na vida significa um dia a menos neste insondável desafio que é dar sentido à própria existência. Muita gente morre cedo, exatamente porque perde o entusiasmo pela vida.
A proximidade da morte - seja para uma pessoa doente ou um idoso - é um tempo em que as pessoas mantêm um olhar profundo e silencioso. Não é apenas a ausência de vida, mas a compreensão de que todas as dúvidas, em breve, serão sanadas. O olhar de minha mãe - dona Francinha - foi exatamente assim: a ausência de palavras não significava um silêncio pesado, mas a certeza de que já havia vivido o suficiente, passara por tristezas e alegrias. Cansara da vida e tinha o direito de descansar em paz...
Uma súplica para que se relaxassem os laços. Agora, existiriam numa outra dimensão: a da certeza de que, um dia, o reencontro será inevitável. Ir ao cemitério ou a uma Igreja no próximo fim de semana é celebrar a saudade. Saudade que já deixou tantas marcas: sorrisos, lágrimas, abraços, olhares carinhosos, enfim, uma existência marcada por compartilhar a vida nos momentos fáceis e difíceis. Como uma longa e bela estrada onde, possivelmente, numa próxima curva, reencontremos aqueles que já amamos e, também, a resposta para todas as nossas perguntas e todas as nossas angústias...
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