sexta-feira, 30 de setembro de 2022

A morte da música, a morte do sonho...

A ausência da música não é apenas a presença do silêncio,

É ingrediente que potencializa a dor.

Para quem julga que a melodia não importa,

Seus amantes afirmam que, sem ela, existir se torna insosso,

Perde o sabor, o seu real sentido.

É um bom tempero, que não precisa ser notado,

Ao contrário, sem ser percebido, torna tudo diferente.

 

Este é o motivo para você gingar

Quando seu corpo alquebrado exigir

Um esforço ainda maior para ficar em pé.

Transforme em canção a melodia que

O vento murmura acarinhando seus cabelos.

No silêncio de um longo caminho de tristezas,

Assobie enquanto uma lágrima insiste em rolar

E transformar sua face numa pauta

Em que cada traço clama por um acorde...

 

Encontre a trilha sonora da sua vida.

Afinado ou desafinado, a canção é sua.

E ao cantar, deixe que seu corpo cante junto,

Que seus olhos brilhem regados

Por um instante em que o palco é seu,

Os holofotes lhe colocam em cena

E o seu sorriso marca o compasso dos seus sonhos...

 

Na sua vida, você é a estrela principal.

Não é egoísmo, não é maldade,

Há espaço para que abrigue todos os seus amores,

Mas existem momentos em que apenas você

Pode sussurrar a canção que revolve o passado

E devolve a certeza de que quer e merece viver!

 

Existe a melodia que grudou e não lhe sai da cabeça,

A que doeu no peito pelas muitas recordações.

Aquela que lhe fez mais próximo de alguém.

Então, baile, baile no ritmo que lhe for possível.

É indiferente se já não tiver a leveza da juventude,

O importante é não esquecer do prazer

Que os embalos da vida já lhe proporcionaram.

 

Ouça a música nos seus mais doces devaneios,

Dance embalado pelo encanto da sua imaginação,

Se a vida é quimera, não desista das suas fantasias.

Ao morrer a utopia, a música também perde o sentido

E, dolorosamente, definha os horizontes da própria vida!

terça-feira, 27 de setembro de 2022

Prepare seu voto com carinho

Faltando menos do que uma semana para as eleições, este é o tema do qual se precisa falar, embora alguns acreditem que esteja batido e rebatido. Engano, o zelo pela democracia é elemento fundamental para que se respeite a cidadania, tendo no voto o elemento chave. Meus candidatos estão definidos e vou levar uma “cola” para não me atrapalhar. Diferente do segundo turno, quando são até dois votos, ou das eleições para prefeito, a fila contempla deputado federal, estadual, senador, governador e presidente.

Digo isto porque nas eleições passadas não fiz a “cola” e me atrapalhei. Perdi um voto! Para quem defende o voto sempre, é a sensação de que ficou incompleto. Prepare seu voto com carinho. Um pedaço de papel, converse com familiar ou amigo de confiança e complete a cédula. Fique atento: este ano, não pode usar o celular. Não vai ser permitido portar o aparelho enquanto estiver na urna. Segurança justa e necessária para que o meu, o seu, o nosso voto seja apenas o meu, o seu, o voto de cada um, sem interferências...

Difícil dizer o que alguém deve esperar dos candidatos, num tempo em que se ouve a repetição das mesmices de praticamente todas as eleições. Mas você já sabe quem andou por vilas e interior pedindo voto e depois sumiu. Então, suma com o voto nele! Tem também o paraquedista que até já viveu em outros lugares e agora quer dizer que conhece a sua realidade. Desconfie... Se a figura política lhe prometer o óbvio, que já é um direito seu e pelo qual nunca se importou, porque vai fazer isto exatamente agora?

Infelizmente, o brasileiro desconhece o conjunto dos seus direitos e deveres. Quando sabe de alguma coisa é parcialmente, porque alguém o alertou. Então é triste se ouvir um candidato dizer que vai defender direitos óbvios da família ou a liberdade religiosa, por exemplo. Como assim? Sendo uma figura pública, quase todos presentes de alguma forma na vida política, já sabe (e se faz de ignorante) que a proteção da família e o respeito ao credo alheio já estão na Constituição Federal de 1988.

Interpretações deturpadas ou interesseiras (quando não mal-intencionadas) ainda não concretizaram todos os direitos, no caso de dar dignidade à estrutura familiar e, no direito ao credo de cada um, misturando política partidária com crenças, que acirram ânimos e impedem o conhecimento das reais intenções. Poderes públicos – executivo, legislativo e judiciário – devem respeitar o estado laico por representar a todos e não apenas a um grupo que mais do que um projeto de governo tem um projeto de poder.

Infelizmente, não aprendemos com a história o quanto interesses partidários que se instalam em religiões são nefastos à própria religião. A Igreja Católica, assim como as evangélicas tradicionais, tem na sua doutrina social elementos para definir o voto e não passa pela eleição de padres, pastores ou reverendos. Atuar na política partidária é função dos leigos, lembrando o documento de Aparecida (Igreja Católica): “o leigo é a presença do Mundo no coração da Igreja. E a presença da Igreja no coração do Mundo!”

domingo, 25 de setembro de 2022

Um radinho da saudade

Ganhei meu primeiro radinho de pilha quando completei 15 anos. Fico imaginando o sacrifício que meus pais fizeram para comprar. Ainda era uma raridade, no ano de 1970. Os dois trabalhavam no armazém da família e mantinham quatro filhos. Meus irmãos eram dependentes, da mesma forma que eu, que estudava em internato. Em tempos em que assistir televisão era raro, o presente era pelo aniversário, assim como para escutar os jogos da seleção brasileira que, naquele ano, ganhou a copa do Mundo, no México.

Passou a ser meu companheiro inseparável, nos horários permitidos. Além do futebol - por transmissões, noticiários e comentários - se acompanhava programas de humor, por emissoras do Rio e de São Paulo, que, à noite, aumentavam sua potência para barrar a entrada das emissoras do Uruguai e da Argentina. Com alguma sorte, pegávamos emissoras internacionais, como foi o caso do Festival de San Remo, na Itália, em que se apresentou o Roberto Carlos quando se ouvia uma parte e em outras “fugia”.

Companheiro em noites e fins de semana, assim como, depois, ao pé do ouvido (naquele tempo não se utilizavam fones) quando fazia cursos em Porto Alegre e seguidamente estava no Beira Rio, para torcer pelo Internacional, o meu Colorado. Grandes vozes que surgiram na rádio Guaíba e migraram para a Gaúcha, literalmente, ecoando nos campos de futebol. Não era suficiente testemunhar, era preciso a empolgação dos narradores que tornavam o lance mais simples como se fosse uma disputa de final de campeonato.

O padre Olavo Gasperin era um dos responsáveis pela nossa formação. Todos os anos, organizava gincana com atividades físicas e artísticas. Nas físicas, eu ia mal... mas nas artísticas tirava a diferença. Numa disputa, colocou como prêmio um radinho maior, que já pegava ondas curtas, as que permitiam ouvir emissoras mais distantes. Suei para não ficar mal nas atividades físicas e me esmerei na apresentação de uma música italiana – “Guitarra sona piú piano” – levando o rádio e um passeio em Porto Alegre. Foi a glória!

Nem é preciso dizer que um deles – Olavo ou o padre Guerino – tinham que passar pelo dormitório e ameaçar confiscar o rádio se não fôssemos dormir. Eram tempos do governo militar (década de 70) e, embora sem consciência política, se procurava por emissoras como a BBC, Voz da América e uma russa que transmitiam em português, pela curiosidade e o encanto de ouvir outras vozes, de outros cantos do mundo, sem nos darmos conta de que eram os primeiros passos para a comunicação que se tem hoje.

Enquanto trabalho, um rádio retrô me acompanha. De antigo, tem a aparência, pois funciona por bluetooth. Seleciono emissoras do Mundo, porém prefiro as nacionais, como a Saudade FM (de Santos/SP) e a Studio Web Rádio (de Ribeirão Preto/SP). Utilizo o streaming para ouvir orquestras, música italiana, francesa, romântica antiga ou gospel internacional... Bebi de boas fontes e a inspiração vem de lugares especiais. Não é à toa que a Web Rádio brinca com seus ouvintes: “Em sintonia com o seu bom gosto!”

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

O ritmo da sua felicidade


Você suspirou longamente sem ter um motivo.

Você sorriu apenas por uma lembrança.

Você andou pela beira da lagoa

Com o prazer de sentir a água que acariciava seus pés.

 

Você já ouviu muitas vezes.

Mas em algum momento já disse

pra si mesmo que tem o direito de ser feliz?

 

Já lhe disseram, mas passou batido,

Que viver é não desistir dos próprios sonhos.

No entanto, quantas vezes você

Acreditou realmente e fez por merecer?

Os pequenos momentos em que se alcança a felicidade

São o esforço de construir a diferença

Entre quem apenas ouve

E aquele que levanta e assume o seu destino.

 

Olha nos olhos de quem você ama

Encontra a fagulha que lhe desperta.

Não importa a idade,

Se inicia ou já percorreu uma longa jornada.

É sempre um recomeço, com a sensação de que

Ficaram marcas em suas mãos, no seu sorriso, na sua alma...

 

Pensa no atleta que supera barreiras e seus limites.

Na criança especial que segue atrasada no compasso da música.

Na lucidez de quem encanta numa conversa.

O idoso cansado, sem perder a vontade de viver, que

Faz as mãos dançarem diante dos seus olhos.

Ou mesmo a criança que recém deixou de engatinhar e já quer correr.

 

Em comum, a busca por um resquício

Do que almejam da felicidade.

Iniciando a vida, na sua plena forma,

Ou quando já sentirem consciência da finitude...

Não permitem que nada nem ninguém

atrapalhe o que é o seu destino:

Ser e fazer feliz!

 

Gaste a energia que ainda resta

Para abraçar, beijar, acarinhar,

dizer palavras que economizou durante toda uma vida...

Acreditar é a palavra-chave.

Repetir é um mantra que faz o mais importante:

Embora convivendo, não se torne um peso para o outro.

Arrime-se!

Afinal, a brasa que lateja a sua felicidade

Precisa crepitar no ritmo e na intensidade do seu coração!

terça-feira, 20 de setembro de 2022

Os farrapos de ontem e de hoje

Não lembro, mas creio que nunca usei uma bombacha. O que não impede que me considere um gaúcho, não somente por ter nascido na querida terra de Canguçu, mas porque, creio, hoje, ser gaúcho é um estado de espírito. Foi exatamente sobre este tema que resolvi refletir neste 20 de setembro, quando se comemora a Revolução Farroupilha, dez anos que marcaram a terra e o povo. Cantada e contestada, acirra brios de quem a considera incontestável, assim como de quem faz uma releitura dos fatos e personagens.

Muitos não sabem, mas a Wikipédia define: “Gaúcho é uma denominação dada às pessoas ligadas à atividade pecuária em regiões de ocorrência de campos naturais, do bioma denominado pampa, que ocorre no sul da América do Sul: Rio Grande do SulArgentinaUruguai e Paraguai, também aos nascidos no Rio Grande do Sul”. Portanto, não estamos sós, não apenas na denominação, mas nos costumes comuns e nas tradições que mais nos identificam do que diferenciam dos irmãos castelhanos.

As chamadas “tradições gaúchas”, que têm nos festejos do 20 de Setembro um dos seus pontos altos, são relativamente recentes, desde meados do século passado, quando, como movimento cultural, um grupo de jovens resolveu investir na criação do Centro de Tradições 35, em Porto Alegre. Desde então, muitos pesquisadores se debruçaram sobre as origens do Estado, os momentos fortes da sua história e a forma de viver do seu povo. Seus hábitos, canções, jeito de agir e conviver foram sendo recuperados.

Porém, a cultura gaúcha do Rio Grande do Sul também foi influenciada pela imigração europeia, em especial a portuguesa, espanhola, italiana e alemã, a partir da segunda metade do século XIX. O que tornou a região rica em tradições e elementos únicos na culinária e na música, por exemplo. É comum se ver “gaúchos” pilchados em todas as querências, assim como esparramados pelo Brasil e o Mundo. O que demonstra um sôfrego sentimento de identidade e o porquê desta gente se orgulhar do seu jeito de ser.

Gaúcho raiz ou de apartamento apronta mala e cuia e quer lugar ao Sol para conviver e se manifestar. Com as mazelas políticas e econômicas recentes, o amor próprio pode estar em baixa e já não se ter o ufanismo em que se vendia a ideia de que se tinha as melhores lideranças, o melhor pôr do sol, as mulheres mais belas... Ser gaúcho, hoje, como iniciei, é um estado de espírito. Por estradas, coxilhas e vales, se toma consciência de que esta terra não é abençoada por ser “a melhor”, mas por ser a nossa terra.

Se o estrangulamento econômico na Revolução Farroupilha marcou os “farrapos” de então, como consequência da asfixia do Império, hoje se tem “farrapos” que demandam atendimento no emprego, alimentação, saúde, segurança... O sentimento mais “gaúcho” da atualidade se chama “solidariedade”. Nossos antepassados já fizeram suas lutas – certas ou não – e servem de inspiração. As façanhas, hoje, não demandam peleias armadas, mas reflexão e voto consciente para que não se repitam os mesmos erros...

Os farrapos de ontem e de hoje

Não lembro, mas creio que nunca usei uma bombacha. O que não impede que me considere um gaúcho, não somente por ter nascido na querida terra de Canguçu, mas porque, creio, hoje, ser gaúcho é um estado de espírito. Foi exatamente sobre este tema que resolvi refletir neste 20 de setembro, quando se comemora a Revolução Farroupilha, dez anos que marcaram a terra e o povo. Cantada e contestada, acirra brios de quem a considera incontestável, assim como de quem faz uma releitura dos fatos e personagens.

Muitos não sabem, mas a Wikipédia define: “Gaúcho é uma denominação dada às pessoas ligadas à atividade pecuária em regiões de ocorrência de campos naturais, do bioma denominado pampa, que ocorre no sul da América do Sul: Rio Grande do SulArgentinaUruguai e Paraguai, também aos nascidos no Rio Grande do Sul”. Portanto, não estamos sós, não apenas na denominação, mas nos costumes comuns e nas tradições que mais nos identificam do que diferenciam dos irmãos castelhanos.

As chamadas “tradições gaúchas”, que têm nos festejos do 20 de Setembro um dos seus pontos altos, são relativamente recentes, desde meados do século passado, quando, como movimento cultural, um grupo de jovens resolveu investir na criação do Centro de Tradições 35, em Porto Alegre. Desde então, muitos pesquisadores se debruçaram sobre as origens do Estado, os momentos fortes da sua história e a forma de viver do seu povo. Seus hábitos, canções, jeito de agir e conviver foram sendo recuperados.

Porém, a cultura gaúcha do Rio Grande do Sul também foi influenciada pela imigração europeia, em especial a portuguesa, espanhola, italiana e alemã, a partir da segunda metade do século XIX. O que tornou a região rica em tradições e elementos únicos na culinária e na música, por exemplo. É comum se ver “gaúchos” pilchados em todas as querências, assim como esparramados pelo Brasil e o Mundo. O que demonstra um sôfrego sentimento de identidade e o porquê desta gente se orgulhar do seu jeito de ser.

Gaúcho raiz ou de apartamento apronta mala e cuia e quer lugar ao Sol para conviver e se manifestar. Com as mazelas políticas e econômicas recentes, o amor próprio pode estar em baixa e já não se ter o ufanismo em que se vendia a ideia de que se tinha as melhores lideranças, o melhor pôr do sol, as mulheres mais belas... Ser gaúcho, hoje, como iniciei, é um estado de espírito. Por estradas, coxilhas e vales, se toma consciência de que esta terra não é abençoada por ser “a melhor”, mas por ser a nossa terra.

Se o estrangulamento econômico na Revolução Farroupilha marcou os “farrapos” de então, como consequência da asfixia do Império, hoje se tem “farrapos” que demandam atendimento no emprego, alimentação, saúde, segurança... O sentimento mais “gaúcho” da atualidade se chama “solidariedade”. Nossos antepassados já fizeram suas lutas – certas ou não – e servem de inspiração. As façanhas, hoje, não demandam peleias armadas, mas reflexão e voto consciente para que não se repitam os mesmos erros...

domingo, 18 de setembro de 2022

Irmãs de fé: um carinho de Deus

Tenho boas memórias do tempo de formação no Seminário. Chegando a Primavera, quase sempre se fazia um passeio até a praia do Laranjal. Havia duas alternativas, com a participação do padre Guerino, que dirigia a nossa kombi: se ficássemos mais tempo, os caminhos levavam à casa das Irmãs Franciscanas. Se fosse para tirar um dia apenas, no mesmo corredor, cruzávamos a casa, assim como o Carmelo, e pegávamos o rumo de uma figueira frondosa, numa baixada, a cerca de 100 metros da Lagoa dos Patos.

Meu preferido sempre foi a casa das religiosas (hoje remodelada, como centro de formação). Na época, década de 70, tinha uma comunidade que lá residia num ambiente bem rural. Nossa chegada sempre era em busca da irmã Zilá, que cuidava dos animais e das plantações. Em muitas ocasiões, onde hoje se encontra a Capela e um salão para encontros, e havia uma vasta plantação de milho, a encontrávamos e já nos colocava no serviço, auxiliando nas lides domésticas e pequenas atividades da lavoura.

Conheci a Vila Betânia, em Porto Alegre, já na faculdade. Lá fiz curso da pastoral da comunicação, com monsenhor Augusto Dalvit, padre Atílio Hartmann e frei Renato Zanolla, os “top” na comunicação da Igreja Católica no Estado, assim como tive como professores alguns dos maiores profissionais desta área na capital. Em “internato”, cerca de 20 jovens faziam uma formação intensiva aproveitando os meios de comunicação da instituição, como a Rádio e TV Difusora (hoje BandTV), para um processo de imersão.

A casa ficava numa região em meio à mata, próxima ao Hospital da Divina Providência e da Gruta da Glória, onde encontrei duas religiosas especiais: as irmãs Terezinha e Neli (da Divina Providência). Numa ocasião, depois de assaltado, me “adotaram” e providenciaram para não desistir de um curso. Voltava seguidamente para eventos ali mesmo ou em Porto Alegre, já como “sócio”, auxiliando na cozinha e atendimento, com fins de semana de jogos no Beira Rio ou passeios pelo Seminário de Viamão.

No Seminário Diocesano, as irmãs Maria da Paz e Leonida (Congregação de Notre Dame) referenciaram valores religiosos e presença feminina. Em tempo de dificuldades financeiras, não perdiam o bom humor, iniciando o trabalho às 5h30m e encerrando depois do jantar. Já na faculdade, com frio ou tempo chuvoso, chegar em casa era encontrar uma pequena taça de licor. E o sábado iniciava com outro sabor quando nos convidavam para celebrar a Eucaristia com elas e o padre Olavo na sua pequena capela.

Para fazer justiça, deveria citar outros nomes de homens e mulheres religiosas que marcaram minha vida. Hoje, já não conheço muitas daquelas que atuam em Pelotas ou região. Uma grande parte das que conheci já faleceu. Trago-as na lembrança com carinho. São – e foram - mulheres fortes e obreiras por uma causa, na educação, saúde, assistência social, serviços e administração de casas... Num tempo em que diminuíram as vocações, a sua simples presença é um sinal de fé: um carinho e um afago de Deus!

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Foi a lua quem disse...

O silêncio da noite aumenta o tormento da incerteza.

Caminhar sem rumo, até onde desaparecem

As luzes da cidade e resta o brilho das estrelas.

A solidão é compartilhada com a Lua

Que, no seu brilho gélido, oferece abrigo e conforto.

 

É um caminho para encontrar solidariedade,

O lugar da confidência.

Uma necessidade humana da qual os Anjos

Se utilizam para amenizar dores e a solidão...

Transforma-se em cumplicidade.

E também em confiança.

Transita pelo lugar onde duas almas

Encontram sintonia,

Num sentimento próximo ao divino.

 

Um Anjo sussurrou ao ouvido de Deus

Ser um jeito humano de suportar

Segredos revelados ou insinuados.

Assumindo proporções em que se precisa

De um ombro acolhedor.

É uma porta entreaberta permitindo

Acalentar o desejo de que, até na loucura,

Se encontre alguém para compartilhar

Incertezas e agonias.

 

A confidência nasce ao abrigo da alma.

Permite a quem não abre mão

Dos seus sonhos rasgar a tormenta,

Ultrapassar barreiras e sorver as gotas da chuva

Acariciando um corpo cansado,

Sem se deixar abater.

Seu sentido está num tênue filete de vida

Insistindo - e nunca desistindo - de se redescobrir.

 

Se por acaso, numa noite fria e serena,

A Lua lhe fizer confidências, acredite.

A Lua não é apenas e tão somente dos namorados,

Mas daqueles que aprendem a mirar os céus

E encontrar as estrelas, por sobre as nuvens,

Sem deixar de tremeluzir no firmamento

Porque se aproxima uma tempestade.

 

A esperança que viceja na magia do eterno silêncio,

Por caminhos onde se descobrem marcas da própria vida.

Nas confidências feitas aos Anjos ou à Lua,

Quando a escuridão tem gosto de aurora,

Despertando os primeiros raios de sol no amanhecer...

terça-feira, 13 de setembro de 2022

A carruagem dos sonhos e dos negócios

Pelos próximos dias vamos ouvir muito a respeito de uma das instituições mais sólidas da História: a da família real Britânica. A morte da rainha Elizabeth (com mais de 70 anos à frente da corte e 96 de idade), mesmo esperada comove o Reino Unido e a comunidade internacional. Quando se discute a preservação de figuras como reis e rainhas, a Inglaterra institucionalizou a família real como uma marca poderosa, política e economicamente, que a transformou em uma das mulheres mais ricas do Mundo.

O palácio de Buckingham é referência cultural no país e também no cenário mundial, atraindo os olhares de turistas e curiosos. Tendo que lidar com os escândalos que envolveram sua família, a soberana ainda era governante suprema da Igreja da Inglaterra e comandante suprema das Forças Armadas. Seu título mais importante, óbvio, era o de rainha do Reino Unido e de mais 14 estados independentes - os Reinos da Comunidade das Nações – iniciado em 1952 até sua morte na semana passada.

Quem já frequentou alguma das cerimônias - como a troca da guarda, por exemplo - diz que é um ritual impecável, acompanhado por súditos e turistas como se estivessem numa celebração. E é exatamente este fluxo de interessados que alimenta as contas da realeza, somando-se aos inúmeros negócios que levam a grife da coroa britânica. Em qualquer lugar do mundo, se alguém ou uma empresa pensar em utilizar da simbologia real para um produto ou serviço precisa ser licenciado e, claro, recolher o seu “tributo”.

Quem assistiu a série The Crown (a Coroa), uma crônica da vida da rainha Elizabeth II, desde os anos 1940 até recentemente, testemunhou fatos históricos se misturando com a ficção. Este período longo teve tudo o que se poderia imaginar de um bom folhetim: intrigas pessoais, romances e rivalidades políticas que, de alguma forma, fizeram parte do que moldou o século XX, sem que a soberana perdesse a sua fleuma. Era a referência familiar, assim como agiu nos bastidores para ser a referência política em seu reino.

Analista, falando do recente Sete de Setembro, disse que naquele momento havia um “projeto" de nação. Que projeto se tem para o Brasil? Especialmente quando se sabe que, até o último fim de semana, campanhas eleitorais gastaram mais de três bilhões de reais (dados do TSE), tirados de onde? Contrapondo com os gastos da realeza britânica que se sustenta pela própria “marca” ou seus investimentos. Diferente do Brasil, onde se acredita que “alguns” podem sugar recursos públicos para benefício próprio.

A instituição realeza britânica é a carruagem dos sonhos e negócios de quem tem noção do quanto a economia tem que estar em consonância com o que se espera das figuras públicas. O resultado de um projeto de educação cidadã, onde tudo aquilo que se refere à nação e ao país tem respeito e credibilidade. É uma longa história para reverter a desconfiança que, infelizmente, o brasileiro tem com as suas instituições. O primeiro passo, certamente, pode ser dado nas eleições do dia 2 de outubro...

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

A minha e a tua loucura

Qual é o jeito de expressar a tua loucura?

Não, não quero que penses

Em perder a sanidade mental.

Mas quando deixas a rotina e

Abandonas as formalidades

mergulhando no inesperado.

 

Muda o percurso da caminhada

Que fazes todos os dias.

Sorri para alguém que se demora

Olhando pra ti.

Fala sozinho quando acarinha as flores

Ou apenas queres sentir

Que tua voz preenche o silêncio.

 

A loucura impede que a saudade vire

Arrependimento,

A sensação mais dolorosa que se pode ter...

A loucura não é astuta,

Não pensa em governar o mundo,

Apenas viver intensamente um momento.

Pode até ser vista como teimosa,

Mas não resiste em cuidar de qualquer

Ser que esteja fragilizado.

 

Como uma criança que não entende a lógica

E se delicia com o absurdo.

A sua inconsequência a faz perder

O sentido do todo para se encantar,

Apenas, com um simples detalhe.

 

Junta a tua loucura com a minha.

O melhor jeito é através de um abraço.

Demorado, intenso, onde se entrelaçam

Corpos, olhares e sorrisos...

O abraço é a energia que alimenta a alma.

Quando duas pessoas se encontram

Uma centelha do Infinito

Repousa em corações que esquecem

As palavras para entender

Que são apenas uma fagulha.

A fagulha da loucura do tempo,

Regulada pelo riso...

Mas que não dispensa a lágrima

Que pode regar a própria felicidade!

terça-feira, 6 de setembro de 2022

O Sete de Setembro no caminho das eleições

Para quem esperava que a proximidade das eleições (estamos a menos de um mês do primeiro turno) aumentasse o interesse popular pela escolha do presidente, governador, senador, deputado federal e estadual, o que se vê é o mesmo das outras eleições, ou seja, a apatia. Para confirmar, semana passada, pesquisas demonstravam que 60 % dos gaúchos ainda não escolheu seu candidato ao governo e mais de 70% não tem definido seu voto para senador. Sequer debates e entrevistas conseguiram despertar a atenção.

O início da propaganda eleitoral nos meios de comunicação merece, sim, ginástica para o cidadão fugir às inserções dos programas de 25 minutos, assim como institucionais que entram em meio à programação. Raros aqueles que dizem ouvir, uma vez ou outra, o que os candidatos têm a dizer. Por motivo simples: é a repetição do mesmo. Se forem recuperadas campanhas de quatro, oito, 12 anos atrás, vai-se perceber que as promessas são as mesmas, muitas vezes feitas pelos mesmos que apostam na pouca memória do eleitor.

No entanto, no meio do caminho, até as eleições, tem o Sete de Setembro... Se fosse adepto da teoria da conspiração, diria: “cuidado”. São muitas as águas turvas que cruzam por baixo da ponte da Democracia. O problema é que, entre insinuações e boatos, parte da população preocupa-se com o que pode acontecer. Até com uma ruptura institucional. Não creio. Como já aconteceu em outras ocasiões em que se disse que “o país não vai aguentar!” e o país aguentou, agora também, é muito rosnado e pouca mordida...

Amigos e conhecidos perguntam se acompanhei tal debate ou entrevista de candidatos. Digo que não. Quando muito, depois, assisto “os melhores lances” em diversos meios de comunicação. Mas, como sei que vai ser mais do mesmo, não tenho paciência. Para quem classifica de “alienado político” aqueles que não se interessam pela propaganda eleitoral, simplesmente retruco que o brasileiro precisaria de uma educação política que não vejo as elites sociais, econômicas e políticas interessadas em despertar.

Para que isto aconteça é preciso deixar claro que as categorias da administração pública – em todas as instâncias – não prestam favores à população, mas devem devolver em serviços os impostos que lhes são retirados. Quem vende a ideia de que “facilitam” ou lhes trazem “benefícios” apostam no clientelismo, transformam-se em despachantes de luxo. O “toma lá, dá cá” já causou muitos problemas nas relações, inclusive com instituições, até religiosas, que perderam a identidade em troca de um prato de lentilhas.

Como já foi dito: “as eleições deveriam ser a grande festa da Democracia”. Boa parcela dos brasileiros já esteve às portas desta “festa” e foi avisada de que não tinha convite. Tristemente, a pandemia não só acirrou os problemas sociais como aumentou o fosso entre aqueles que se beneficiam da máquina pública e quem vive na penúria e com as sobras do que cai de suas mesas. Um cidadão que silencia, não significa que seja alguém desatento. O voto é secreto e, por que não: surpresas podem acontecer...

domingo, 4 de setembro de 2022

Uma boa roda de conversa

Éramos jovens, muito jovens, na década de 70, e o ponto de encontro era o “salãozinho” do Grupo em Busca de um Novo Sol (os GEBUNS), nos fundos da igreja de Santa Teresinha. Fins de semana em que não se tinha os “bailinhos”, ou praticamente todas as noites de férias escolares, especialmente do verão, as reuniões aconteciam para jogar ping-pong, conversar, juntar os violões da Lucinha, Hilda e o Toninho e cantar músicas religiosas, mas também vasculhar a memória afetiva e os sucessos dos bons tempos...

Quando criança, uma vez por semana, o pai fechava o armazém mais cedo, reunia a família, acendia um lampião e partíamos para um vizinho. Ouvia-se, nos programas de rádio, desde música gauchesca até a jovem guarda, que aparecia no início da década de 60. Sempre lembro da casa do seu Borges e da dona Eva, onde os homens jogavam carta, as mulheres conversavam e as crianças brincavam até cansar e dormir, quando eram “aninhadas” numa cama até voltar para casa, com o próximo carteado marcado.

O professor Jandir conta que os italianos tem o “filó”, quando um grupo de vizinhos se encontra. O esquema é parecido, com jogos de cartas para os homens, os “jovenzinhos” se encontram noutra peça em “namorico”, as mulheres se reúnem na cozinha e as crianças ficam por baixo das mesas, brincando e ouvindo as conversas dos mais velhos. Cada um compartilhava da sua dispensa e fazia-se um jantar em que não podia faltar a macarronada e o galeto. Coroados por copos de vinho e as cantorias da terra de origem.

Na semana passada, a família Osório deu continuidade à proposta de todas as últimas quartas do mês fazermos uma live do programa Partilhando em forma de serenata. Muitos integrantes do que chamamos de família Partilhando alertaram para o fato de que, para além da beleza das músicas e das vozes, havia um reencontro de quem partilha uma vivência e uma história. Era, através das redes sociais, uma roda de conversa em que se demonstra carinho pelos “artistas”, mas também se faz um bom encontro.

Uma roda de conversa. Parece ser uma necessidade que ainda hoje se tem, mesmo com as dificuldades apresentadas pela pandemia, que já foi precedida por muitos problemas de interação. Os lugares do entretenimento e da comida são fundantes para auxiliar nas relações sociais e religiosas. O “ágape” e o “ludus”, que perpassaram muitas lembranças carinhosas, como a dos italianos que já enterraram aqueles que cruzaram os oceanos, mas nos brindam com a mesa farta e seus costumes, em grupos ou através do turismo.

Para muito - incluindo idosos e doentes - as redes sociais são os espaços possíveis.  Foi o que fez o professor Lupi ao propor a roda de conversas chamada Partilhando. Somam-se a Bela e o Luiz que aceitaram o desafio de todos os meses ter nova família cantante, na Serenata. Além dos convidados especiais e a professora Tininha, com a proposta de que se entenda a Liturgia, não apenas como saber teórico, mas para viver melhor o sentido da fé cristã-católica. Uma forma de encontro e de boa conversa. É o que sabemos fazer de melhor, “com gosto de viver Igreja!”

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Primavere-se!

Fecho os olhos e sinto a intensidade

Do perfume da acácia.

Ele dá as primeiras notícias

De que a Primavera desperta.

Por estradas e campos, ao longe,

Numa colina ou nas entranhas de um vale,

Uma árvore acena com a fragrância marcante

E o anúncio de que surge a nova estação.

 

Posso andar pelo lusco-fusco da tarde

Para sentir que o manacá da serra deixou inerte

Seus botões durante todo o inverno

Esperando o tempo de explodir a sua primeira florada.

Os primeiros brotos das folhas precedem

O surgimento de novos galhos, folhas e flores

Anunciando o despertar de luzes e cores.

 

Posso me confundir com muitos outros aromas,

Mas sempre tem um cantinho de Deus

Onde um perfume exala a vida.

Desperta as energias do meu corpo que,

Mais leve e com mais disposição,

Livra-se de todo o supérfluo

Para usufruir do direito de reivindicar

O perfume que entranha o âmago da existência.

 

Posso estar alquebrado e cansado,

Mas preciso dançar no despertar dos sentidos.

É como tecer uma prece invisível

Impregnada de odores e sabores...

Cada semente, cada enxerto, cada muda

Traz em si um germe de felicidade

Na espantosa beleza que explode da vida e do mundo.

 

Posso estar mergulhado no mais absoluto silêncio

Que meu coração diz que chegou

o tempo das canções e de dançar,

De alongar olhares por sobre

Os primeiros raios no horizonte,

Ou perder-se naqueles que despedem a tarde.

Dos pássaros que despertam com a aurora

E os que se recolhem no ocaso.

 

Primavere-se!

Com todos os sentidos que o teu corpo alcança

E aqueles que teu Espírito intui.

Não são apenas indícios de tempos diferentes,

Mas a possibilidade de retomar, de renascer.

Torne-se a semente que, doloridamente,

Imerge em direção à luz.

Na certeza de que, transformada em fruto ou em flor,

Alcança a perenidade de viver apenas uma Primavera!