A foto mostrava a mãe segurando o filho autista de quatro anos no colo enquanto o “barbeiro” explica o material que utilizaria. A cena é resultado de uma história que emocionou as redes sociais: o profissional, na verdade, era o pai, Michael Kratina, que aprendeu a profissão porque o filho ficou traumatizado quando cortava o cabelo numa barbearia e havia uma criança chorando muito. Sua reação foi de pânico e se negava a chegar próximo do local. O carinho e o cuidado pelo Augusto valeu o sacrifício de ter uma formação para a qual, possivelmente, só terá um “cliente”…
Gabriela Mazza é mãe de Sofia. Acompanhei a história da menina “guerreira” desde o nascimento, pelas redes sociais. Com apenas um pulmão, teve todas as compensações por uma família invulgar e capaz de lhe dar a sofreguidão que existe naqueles que são apaixonados pela vida e aceitam os desafios exatamente como são: oportunidades de superação, obstáculos a serem ultrapassados. Venceram mas, agora, encontram novo campo de batalha: adolescente com uma comorbidade, na faixa dos 16 anos, precisa da vacina para voltar a uma rotina o mais próximo possível do normal.
O Edinho mora num condomínio de apartamentos com a mãe, a Marli. Tem síndrome de down e viu uma série de atividades serem restritas àquilo que a internet propicia. Quando podia, era “rueiro”. Meu pai brincava que a agenda da Marli dependia da agenda do Edinho. Neste meio tempo, viu alguns companheiros e familiares serem abatidos pela pandemia. Nem sempre é fácil entender o que pensa, mas é certo que está mais introspectivo, mais preocupado e, embora ainda goste dos contatos e do que pode fazer navegando pelas redes, perdeu bastante da sua energia e alegria.
Dona Dalva não quer mais sair às ruas. Foi vacinada com as duas doses contra o coronavírus e mais a da gripe. Desde o início, respeitou as exigências feitas pelos filhos e saía, apenas, quando alguém a acompanhava, fazendo um “checklist” da máscara, álcool gel e distanciamento. Viu pessoas da mesma idade morrerem e pediu para fazer uma procuração para o filho. Agora, recolhe-se a um tempo de silêncio na sala ou no quarto, acompanhada de uma gata, onde faz o tricô de toda uma vida, como voluntária na produção de enxovais para recém-nascidos em situação de pobreza.
Os sinos que dobram pela vida não podem esquecer que pessoas especiais demandam cuidados especiais e prioridade em atendimento público. Vidas que importam e precisam da cultura do cuidar, onde não se veja pessoas com deficiências ou comorbidade como um estorvo. Apenas como necessitadas de carinho e atenção. Todos sairemos marcados da pandemia. Então, é simples assim: não se muda uma sociedade porque se passou por tempos difíceis, mas se torna melhor ao perceber que o “diferente” não é um estranho, mas a oportunidade de humanizar uma perspectiva de futuro!
Nenhum comentário:
Postar um comentário