domingo, 7 de fevereiro de 2021

Uma rainha na terra e uma nau no infinito…

Uma das minhas diversões na pandemia é acompanhar filmes e séries. Não assisto produções sofisticadas, nem intelectualizadas. Meus gostos são diversificados. As séries passam por dramas históricos (The Crown), assim como o “terrir” (terror+rir) juvenil, de Sabrina. Os filmes também atendem a este espectro: Minha querida nora, ou rever Mamma Mia, especialmente a cena em que a Cher canta - com Andy Garcia - Fernando, do ABBA. Já tinha pensado em recomendar, quando li no jornal Zero Hora uma resenha e o comentário da Maria Clara sobre o filme A Escavação.

A segunda grande guerra estava pronta para iniciar, quando a viúva Edith contrata o arqueólogo Basil para escavar formações diferenciadas do solo que existem em suas terras, no interior da Inglaterra. Desde o primeiro momento e as primeiras incursões infrutíferas, até que, finalmente, a grande descoberta emerge do solo, as cenas se passam com a deliciosa sensação de que cada paisagem, cada ângulo, cada jogo de luz servem de moldura para um poeta que coloca nas mãos de pessoas necessitadas de carinho e compreensão a contemplação da própria história…

Um filme para ver e, em muitos momentos, sentir-se atraído por caminhos que deixam a casa em direção à pequena vila ou ao lugar das escavações… quem sabe, acompanhar os personagens tentando resolver seus problemas existenciais, lidar com a finitude de suas vidas e não deixar quem fica perder a esperança. Spoiler (mas não perde a graça de assistir): a cena em que o pequeno Robert leva a mãe para passar uma noite a céu aberto sobre o que ainda resta da nau de um guerreiro da idade média. Ele fantasia a rainha que sobe ao céu - a mãe que está morrendo!

O jeito reservado de ser marca as relações familiares, assim como do pessoal que trabalha na casa. Além de Edith, Basil e Robert, os demais personagens não chegam a ter força para merecer maior atenção. A relação entre mãe e filho prepara o momento em que ela, enfim, se ausentará. A de Basil é de um profissional que, por não ter uma formação considerada adequada, é marginalizado pelos arqueólogos profissionais. Para ela, deixar legado que marque a existência da família; para ele, que reconheçam seu conhecimento em tempos que já levam as marcas da guerra…

Marcas já presentes quando o ambiente bucólico é invadido pela tensão e urgência de aviões que sobrevoam a área (um deles cai nas proximidades, com um piloto britânico morto) e o primo de Edith, Rory, convocado para a guerra. Com exceção desta cena da nave abatida, não há sinais do conflito a não ser por noticiários e pronunciamentos pelo rádio, ou quando Edith vai a Londres para consulta e soldados fazem barricadas para proteger estátuas nas ruas. Momento em que recebe o diagnóstico de sua morte e já não pode contar com o único parente adulto que mora em sua casa.

Vastos e bucólicos campos percorridos por personagens que colocam a história na sua real perspectiva: o próprio homem. O contraste entre uma tumba preservada e a reverência, na candura dos brinquedos e das fantasias de Robert, que não se decide (e será que precisa?), entre ser astronauta ou arqueólogo. No seu “mundo”, há uma rainha na terra e uma nau no infinito. Sabe que precisa cumprir a promessa que fez de cuidar a mãe... mas é duro perceber que ela já sabe o caminho e necessita tomar seu destino… e virar história, adormecendo, em meio às estrelas!

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