terça-feira, 27 de maio de 2025

Um coração que sonha em ser bailarino

Artigo da semana:

Gosto de música. Não tenho um gênero específico. Prefiro a boa música. Especialmente as românticas, revestindo uma boa poesia. Minha playlist vai de Roberto Carlos, passando por Toquinho e Oswaldo Montenegro, até chegar a James Blunt, com seu rock com baladas românticas. Fui testemunha de uma época em que a música de qualidade era cultivada e sorvida num ritmo bem mais lento, quando se sabia as canções preferidas de cor e a industrialização ainda não havia banalizado as composições.

Foi o que lembrei ouvindo um programa de sertanejo, domingo pela manhã. Fiquei chocado em ver que os supostos compositores falavam em “parir” músicas como uma chocadeira. Ficou pior quando apresentaram os mais “recentes sucessos”, absolutamente desconhecidos para mim (ainda bem!), com a ausência de qualquer senso de bom gosto nas letras e arranjos musicais. Literalmente, uma produção descartável que, se emplacou esta versão ou os eventos ligados à área, desaparecerão em seguida da memória.

Meu primeiro radinho de pilha chegou quando completei 15 anos (1970). Era presente para acompanhar a Copa do Mundo de Futebol daquele ano. Junto com os fones de ouvido, passou a ser meu companheiro de todas as noites. Era o auge da Jovem Guarda e, claro, Roberto Carlos era o rei. Depois, vieram as festinhas dos grupos de jovens e as discotecas. Ali também havia espaço para a música romântica. Oportunidade para os casais ficarem mais próximos. Quando começamos a receber a música dos estrangeiros.

As canções italianas, em especial, com um romantismo insuperável, por quase três décadas, tornaram-se referencial para jovens apaixonados. O grande propagador era o Festival de San Remo. Em seguida, era lançado um long play com os destaques e os suspiros inevitáveis. Como levava um tempo para chegar, era comum que já houvesse no Brasil versão cantada por um grupo local. E o equívoco engraçado ao se questionar porque os estrangeiros “copiavam” tanto as nossas músicas… Quando era exatamente o contrário!

A música sertaneja teve um tempo forte no Brasil, especialmente na década de 80 e 90. O cancioneiro raiz que, no sul, se ouvia apenas na madrugada, por emissoras de ondas curtas do centro do país, popularizou-se com nomes que estão aí, no mercado, até hoje. Também tenho as preferidas desta vertente. Porque música boa é aquela que acarinha os sentidos quando se precisa ouvir algo que torne o dia a dia mais leve. Nacional ou estrangeira, o importante é que “grude” na memória e aqueça um coração que sonha em ser bailarino…


domingo, 25 de maio de 2025

Simplesmente assim: Bondade

Contagia-me com o teu jeito de ser.

A doçura, o encantamento, a bondade,

São marcas de um coração que

Transborda a disposição de ir ao encontro do outro.

Num tempo em que se valorizam os maus,

É o silêncio dos bons que torna tudo mais difícil.

Quem esquece a própria humanidade,

Endurece a alma, nas pequenas atenções,

As gentilezas que fazem a diferença na vida.

 

Não precisa andar os mesmos caminhos

E, sim, alcançar a mão quando

Desbrava a trilha mais difícil.

Perseguem-se sonhos compartilhados,

Como encontrar a flor que

Desabrocha à sombra de uma árvore. 

A bondade reparte conquistas,

Rememora momentos em que se trabalha a terra,

Semeia, alegra-se com os primeiros brotos e, finalmente, 

O fruto desabrocha no milagre da multiplicação da vida!


sábado, 24 de maio de 2025

Um Deus que Dança - José Tolentino Mendonça

Leituras e lembranças:

José Tolentino Mendonça é cardeal português, nomeado pelo papa Francisco, uma das vozes mais relevantes da Igreja Católica contemporânea. No livro "Um Deus que Dança", transcende os limites da teologia tradicional para explorar a fé de uma maneira poética e humanista. É uma coletânea de crônicas, meditações e reflexões que convidam o leitor a uma jornada íntima de descoberta e redescoberta do divino no cotidiano. Não é um tratado teológico no sentido estrito, mas sim uma obra que se aproxima da literatura sapiencial. 

Tolentino utiliza uma linguagem límpida, por vezes lírica, para abordar temas como a dúvida, a fragilidade humana, a busca por sentido, a beleza, o silêncio e, claro, a presença de Deus. O título, por si só, é uma metáfora poderosa: “um Deus que dança” sugere um divino em movimento, próximo, que se manifesta na alegria, na leveza e na surpresa da vida, em contraste com a imagem estática e imponente muitas vezes associada à divindade.

Dialoga com poetas como Fernando Pessoa, Rainer Maria Rilke, e figuras bíblicas como Jó e Maria Madalena, mostra como a experiência humana, em suas diversas manifestações, é um terreno fértil para a experiência do sagrado. Cada texto é um convite à contemplação, a pausar, a sentir e a refletir sobre as pequenas e grandes epifanias que pontuam a existência. Um dos pontos altos do livro é como Tolentino Mendonça humaniza a figura de Deus. 

 A dança, nesse contexto, pode ser vista como Deus se relaciona com a humanidade: em ritmo, em entrega, em comunhão. "Um Deus que Dança" é um bálsamo para a alma em tempos de aceleração e superficialidade. Em uma sociedade que muitas vezes marginaliza o sagrado ou o reduz a dogmas rígidos, Tolentino Mendonça propõe um reencontro com a dimensão espiritual que é orgânica e profundamente conectada à vida.

Para quem busca uma leitura que instigue a reflexão sobre fé, espiritualidade e o sentido da existência, sem cair em proselitismo, o livro é uma excelente escolha. Não oferece respostas prontas, convite para que cada leitor encontre suas perguntas e, quem sabe, sua “dança com o divino”… A obra é acessível para pessoas de fé e aqueles que se consideram agnósticos ou ateus, pois seus temas são universais e sua abordagem é de uma sensibilidade rara.

A capacidade do autor de transformar o complexo em simples, o abstrato em palpável, e de infundir poesia em cada palavra, faz de "Um Deus que Dança" uma obra singular. Lembrança de que a espiritualidade não se limita a templos ou rituais, mas reside na capacidade de ver o extraordinário no ordinário, de encontrar o sagrado na vida que pulsa, em toda a sua beleza e contradições. (Com pesquisa da i.a. Gemini. Este e outros textos em manoeljesus.blogspot.com).

sexta-feira, 23 de maio de 2025

A profundeza do teu Universo

 Sexta com gosto de poesia:


Teu travesseiro continua no mesmo lugar. 

A cama está arrumada, como se, 

A qualquer momento, abrirás a porta 

E buscarás teu refúgio, sob as cobertas. 

A saudade afofa o lugar na cama 

Onde te encolhias para dormir.

O ninho em que vivias momentos de euforia

Ou de doloroso silêncio. 


Gostava de abrir a porta em silêncio e

Antes de te chamar, contemplar teu sono,

Quando teus sonhos estampavam no rosto

Um sorriso maroto. 

Um jeito bobo, que torna ainda mais difícil 

Pensar que já não estás presente. 

Embalado pelas lembranças, 

Ajeito as cobertas e afofo os travesseiros.

Dou-me conta de que 

Conviver contigo foi o maior de todos os presentes. 


Nos momentos de inquietude, te convidava a

Olhar os céus para te apresentar às estrelas.

Era um tempo de pura magia.

Apontar planetas e constelações 

Fazia teus olhos pesarem e adormecer.

Me sentia privilegiado em contemplar

A serenidade da criança que encontrava 

Abrigo em meus braços. 

Eu era apenas uma testemunha silenciosa,

Pois fazias dos sonhos a viagem pelas 

Profundezas do teu próprio Universo. 


terça-feira, 20 de maio de 2025

Francisco e Leão XIV: continuidade e mudança

Artigo da semana:

Ainda é cedo para dizer algo com maior durabilidade (em definitivo, é praticamente impossível) sobre a escolha do papa Leão XIV para conduzir os destinos da igreja Católica. Uma coisa é certa. Embora sua "juventude", não possui o carisma do papa que sucedeu. E isto é natural. A história vai mostrar que Francisco foi o dirigente religioso adequado para um momento de muitas dificuldades na instituição. O certo é que novos tempos pedem novos protagonistas.

Parece ser este o caso do escolhido no recente conclave dos cardeais, numa cobertura internacional que mobilizou o Mundo. Hoje, embora conservadores vociferem, não têm forças para impor o retrocesso pretendido por grupos políticos que gostariam de transformar a religião em quintal dos seus interesses de poder - político e econômico. No entanto, o peruano (de origem americana) parece não ter medo de ser continuidade. A primeira bênção a Roma e ao Mundo mostrou afinação com a pregação do seu antecessor. 

Na relação com Francisco, a diferença é que, enquanto este precisava sanar problemas internos - como pedofilia, escândalos bancários e tráfico de influência - hoje, os problemas sociais estão exacerbados. A fome, miséria, migrações, guerras, o desequilíbrio climático são pautas das relações institucionais de uma religião que tem sobre os ombros ser referencial moral e ético. Além de representar um estado de direito.

Apesar de Francisco ter carinho popular, não mereceu atenção e respeito no meio da política internacional. Ao que parece, o novo papa tem perfil e preparo para se posicionar com mais firmeza. Afinal, trabalha numa terra que já foi arada, adubada e semeada por seu antecessor. Os sinais dados como homem formado por religiosos agostinianos são o suficiente para se perceber a reverência que tem pelo papa Francisco.

Mesmo que comparações sejam inevitáveis, são desnecessárias. É preciso um tempo para sedimentar seu estilo. As mudanças nos últimos 12 anos recuperaram muito do que foi a pregação do Concílio Vaticano II e da Doutrina Social da Igreja, cujo incentivador foi exatamente Leão XIII. Um caminho traçado para cristãos católicos (e homens e mulheres de boa vontade) que acreditam ser tempo de estabelecer pontes para uma humanidade que vê na religião a oportunidade de fazer do mundo a tão sonhada casa comum.


domingo, 18 de maio de 2025

Simplesmente assim: Perfeição

Retratos e pinturas deveriam envelhecer

Com quem lhes serviu de inspiração.

As mudanças seriam percebidas aos poucos,

Acentuando-se na passagem das estações do ano,

Sentindo que o tempo percorrido

Cinzela a pele, preparada desde a Eternidade,

Para receber os sulcos que tramam imagens

Sem conseguir enganar o destino.

 

Quando a superfície estiver recoberta

Por desenhos aparentemente distorcidos, 

Numa imagem surrealista,

Ganha força o sorriso em que os olhos emolduram

Os vincos que os contornam e reinventam formas.

Entalham as referências de uma vida:

Os caprichos do artista que não

Se preocupa em se curvar à simetria,

Esculpindo mistérios com o olhar sobre 

O que a própria história ainda não contou…


sábado, 17 de maio de 2025

“Temporada de Cura no Ateliê Soyo”, de Yeon Somin.

Leituras e lembranças:

Na vertente literária que chega do Oriente, a Coreia do Norte tem sido pródiga em revelar jovens talentos. É o caso de Yeon Somin que, por lá, faz sucesso publicando livros e na produção para televisão. No recente “Temporada de Cura no Ateliê Soyo” conta a história de Jeong-min que, após sofrer uma crise, isola-se em casa. Por acidente, pensando em entrar num café, entra num ateliê de cerâmica chamado Soyo. 

Passa a interagir com pessoas que têm suas próprias dificuldades e feridas: um adolescente pré-vestibular, uma senhora recém-viúva, uma jovem com inseguranças na carreira e um homem que decide mudar completamente sua trajetória profissional. Através do trabalho com a argila e da convivência, os personagens encontram um caminho para desacelerar, processar suas dores e construir perspectivas de vida. 

O ambiente do ateliê é uma metáfora para a própria vida, como o lugar de expectativas, falhas, novas tentativas e a necessidade de moldar o futuro com paciência. Assim como o lugar, o livro é sensível e acolhedor, abordando temas como burnout, saúde mental, amizade, família e a busca por recomeços de forma delicada e inspiradora. A escrita de Yeon Somin mostra-se leve e cativante, capaz de proporcionar leitura reconfortante, que acalma e oferece profundas reflexões sobre a vida.

A cerâmica é elemento metafórico, ilustrando o processo de cura e transformação dos personagens. Assim como a argila precisa ser moldada com cuidado e paciência, a vida e as emoções também exigem tempo e atenção para se curarem e “descobrirem” novas formas. Segura pela mão quem já vivenciou ou se identifica com sentimentos de exaustão, isolamento ou necessidade de encontrar novo caminho.

A leitura é comparada a assistir a um k-drama (ou dorama, as novelinhas orientais) mais conceitual, com foco no desenvolvimento dos personagens e em temas profundos, o que pode agradar a quem aprecia narrativas mais introspectivas e menos focadas no romance tradicional. "Temporada de Cura no Ateliê Soyo" oferece uma experiência de leitura terapêutica, provocando o leitor a refletir sobre seu próprio ritmo de vida, a importância das relações humanas e a possibilidade de encontrar cura e renovação nos lugares mais inesperados. (Com pesquisa da i.a. Gemeini).

Este e outros textos em manoeljesus.blogspot.com. 


sexta-feira, 16 de maio de 2025

A bênção de ainda respirar

 Sexta com gosto de poesia:


Quando a chuva começar, para no meio da rua.

Ou diminui o passo, entra no ritmo da mudança do tempo

Que marca o breu da noite.

O cheiro da terra molhada preenchendo o ar, 

Na brisa leve que embala o galho das árvores, fará

Sentires o privilégio de estar em sintonia com a Natureza.

Então, não corre ao sentir no corpo os primeiros pingos...


Troca a pressa por chegar pelo gosto de sorver 

A vida que emana das coisas simples,

Escondidas no quotidiano das neuroses e preocupações.

Não te agonies quando raios, trovões e o vento 

Curiscarem, ribombarem, açoitarem.

Andar sozinho sob a chuva é perceber 

Que o Mundo ainda pode ser gentil.

Um momento privilegiado para se ouvir 

Os passos na calçada molhada.

E brincar em suas poças é tudo do que se precisa.


Os pingos que se acumulam sobre folhas e flores

Cachoeiram umas, jogam ao chão as outras,

Desenhando as cores de todas as estações.

O Sol, ao dar a derradeira espiada sob as nuvens,

Será testemunho do teu choro, de ajoelhar-te, de bater palmas. 

Não importa a reação.

Mesmo se apenas quedares em silêncio,

Entenderás que a chuva, removendo a maquiagem, 

O perfume, lava todas as vaidades.

Desafiando a erguer o rosto, fechar os olhos e 

sentir-se aspergido pela bênção de ainda respirar.



terça-feira, 13 de maio de 2025

O urbano e a vila de pescadores

Artigo da semana:

Recentemente, passei uma semana no hotel do SESC, em Torres, no litoral norte. Queria mudar de ares, por alguns dias, mesmo estando aparelhado para preparar algumas palestras que estão agendadas. Para uma delas, precisava ler a obra “As Cinco Linguagens do Amor”, que baseou, recentemente, minha participação numa Escola de Formação do Movimento Familiar Cristão.

O hotel fica encostadinho no rio Mampituba, exatamente ao lado da ponte pênsil, havendo muitas rotas a serem exploradas, de ambos os lados. Estive naquela praia, pela última vez, há cerca de 20 anos. As mudanças, especialmente depois da pandemia, foram muitas. Como a criação da orla gastronômica, no encontro do rio com o mar. Os pontos turísticos da alta temporada valem para quem procura belezas naturais (a Guarita é sempre deslumbrante) ou o "centrinho" comercial, que já não é tão “inho” (pequeno).

Quando fui, início de abril, foi um tempo de "turismo geriátrico". Trabalhava um pouco no início da manhã e da tarde, depois descia para o chimarrão ou um café, quando sempre aparecia alguém para uma conversa. Assim como ao percorrer o caminho até os dois faróis, encontrando pescadores e turistas, sem esquecer as excursões, em muitos casos da serra gaúcha, não faltando as cantorias italianas...

Fui surpreendido ao cruzar a “fronteira”, para Passo de Torres (SC). Ligados por ponte convencional, mas também uma de pedestres, que os antigos chamavam de "pinguela". Para, no máximo, 10 pessoas onde, mesmo os mais valentes, sentem um friozinho na espinha quando começa a trepidar… Do outro lado, um elemento chamou a atenção: é, ainda, uma vila de pescadores e, enquanto do lado de cá se vê, na maioria, idosos "turistando", do lado de lá são famílias aproveitando a orla para negócios, especialmente peixarias.

Todo tipo de pequeno comércio, ao longo do rio, até a barra. Idosos e jovens pescam, alguns por diversão, outros para vender o produto, e uma gurizada se oferecendo como guia turístico, claro, por alguns pilas. Um passeio diferente. A imersão em uma realidade que preserva a simplicidade dos barcos que saem cedo para pescar e de quem espia por sobre o rio os atrativos urbanos de uma cidade grande. Sem se importar em compartilhar o encanto do que permanece muito próximo do que já foi apenas uma vila de pescadores…


domingo, 11 de maio de 2025

Simplesmente assim: Eternamente, filho!

Mãe. Palavra estranha... Como lhe dar um conceito?

O que se encontra em dicionário

Não abrange todo o seu significado.

É como a busca por definir "amor".

A incapacidade de encobrir a essência com palavras

É vencida por um sentimento terno e

Aconchegante, do próprio ser que lhe dá sentido.

De quem a gente esquece de qualquer tratamento adequado 

E dispensa o nome pelo qual a chamaram no Batismo…

Simplesmente, Mãe!

 

Gerar é graça concedida a quem ama ao ponto

De renunciar a uma parte das próprias entranhas.

Uma vida de preocupações por quem

Ensinaste a andar e, quem sabe, a voar...

Sabendo que, bem mais tarde, sentirá a falta

Do abraço que é, em qualquer tempo, um porto seguro. 

Quando partes, semeias um gosto de saudade

Nos lábios de quem fica murmurando preces.

Na tua ausência se aprende que

Para sempre serás mãe… 

E por toda a Eternidade serei teu filho!


sábado, 10 de maio de 2025

Ruy Carlos Ostermann - Um Encontro com o Professor

 

Leituras e Lembranças:

Ruy Carlos Ostermann é uma lenda viva do jornalismo no Rio Grande do Sul. Comentarista esportivo, sem perder a noção de contextualização do tempo em que o futebol (especialmente) era praticado, com plena noção do cenário político e econômico gaúcho. "Ruy Carlos Ostermann, um encontro com o professor", de Carlos Guimarães, é um livro que interessa a quem atenta à história da comunicação no estado, tendo como pano de fundo a figura carismática do professor.

Oferece panorama da trajetória intelectual e profissional de Ruy Carlos Ostermann, um nome fundamental no jornalismo e da academia gaúcha. Através de entrevistas, depoimentos de colegas, alunos e admiradores, além de reproduções de seus próprios textos, o livro permite "encontrar" o professor em diferentes momentos de sua vida. Uma diversidade de vozes, resgate histórico, humanização da figura e, como era o seu feitio, muitas reflexões sobre a Comunicação, passando pela formação de seus profissionais, sem descuidar dos desafios que enfrenta em diferentes contextos. 

Dosando informação com uma de suas características: humor sóbrio, em que o foco regional não perde as características do universal. Para leitores de outras regiões, pode ser até que as referências não sejam familiares, exigindo maior atenção. No entanto, a importância de Ostermann para o cenário da comunicação justifica. Porque possui um tom de homenagem, natural em uma obra como esta, o que pode, em alguns momentos, suavizar possíveis controvérsias ou críticas à atuação do professor.

É leitura valiosa para quem deseja conhecer mais sobre a história do jornalismo e da comunicação no Rio Grande do Sul. Principalmente, para aqueles que foram de alguma forma tocados pela figura inspiradora de Ostermann. É um livro que emociona, informa e convida a refletir sobre o papel do professor e do comunicador na sociedade. Se você teve contato com ele - foi aluno ou ouvinte das rádios Guaíba e Gaúcha - ou se interessa pela área, essa é uma leitura que certamente valerá a pena.

Faz parte das minhas memórias afetivas. Quando frequentava os bancos escolares da Escola de Comunicação da Universidade Católica de Pelotas, já o acompanhava, assim como outras duas estrelas dos comentários esportivos: Lauro Quadros e Paulo Santana. Depois, quando, enfim, passei a ser professor do mesmo curso, contava histórias vividas com o aprendizado da escuta de um filósofo do futebol.


Uma delas era ajudar meus alunos a descobrir que a melhor forma de criar um estilo próprio de texto é iniciar como uma folha em branco. Aprender ouvindo, lendo, observando, quem sabe copiando alguns traços, com a certeza de que a identidade de cada um é, sim, o que se bebe no processo de formação, inspirado em mestres como o sempre lembrado Ruy Carlos Ostermann. (Com pesquisa i.a. Gemini).

sexta-feira, 9 de maio de 2025

Fazer um brinde à vida

Quando se pisam ausências, rememoram-se

Momentos marcantes de uma vida em comum.

Sabores guardados nas lembranças,

Sentindo o odor de ingredientes

Que se persegue, na memória, pelo aroma e o gosto.

Compartilhar receitas do dia a dia, 

Degustar antecipadamente lembranças.

Na doce mistura de sonhos e sedução.

No que, mais do que apenas algo com que se delicia, 

Torna-se o fascínio de um encantamento.

 

O ingrediente que apimenta a saudade,

Se chama ausência,

Presente em muitos e demorados momentos.

Passa pelo manjar feito para agradar ao paladar,

Repleto de intenções, que enleva e,

Fechando os olhos, revisita-se o coração da casa,

Onde a mão manuseia uma espátula

Enquanto o caldo borbulha.


A satisfação de quem encanta os olhos, 

Em prece pela dádiva de um alimento.

No caldeirão, onde o feitiço das mãos mágicas

Transmuta uma simples calda ou um molho,

Intensifica o sabor de um manjar,

Realça encantos que a Natureza 

Ocultou como possibilidades.

Harmonizar sabores é o condão mágico

De quem quer, apenas, fazer um brinde à vida!


terça-feira, 6 de maio de 2025

Obrigado, Francisco, por tua teimosia

O provérbio português “os carvalhos morrem de pé” aplica-se a Franciscus, argentino, batizado como Jorge Bergoglio. O homem que, desde sábado, está sepultado em Santa Maria Maior, no coração de Roma, preenchia, como poucos, o requisito de força, dignidade e resistência diante de qualquer situação, ou mesmo, em frente à morte. Seu último desejo - de que apenas seu nome papal estivesse sobre a lápide - coroou a história de uma liderança inclusiva, tendo incomodado quem desejava (e ainda deseja) fazer da igreja Católica um clube de poucos privilegiados…

A compreensão ao invés de dogmas. Com um humor peculiar que permitia brincar com os brasileiros em diversas situações: “Vocês são ladrões... roubaram meu coração!”; “é muita cachaça e pouca oração” ou, referindo-se à sua escolha, “se Deus é brasileiro, o papa é argentino”. Francisco não foi apenas a referência de uma religião, mas de fé, em Deus e na humanidade. Foi a voz daqueles que precisavam ser visibilizados: gays, mulheres, separados, indígenas, povos naturais…

Fechou um ciclo desde que apareceu pela primeira vez na sacada do Vaticano brincando que seus irmãos cardeais o haviam buscado no fim do mundo, pedindo que rezassem por ele. Marcou com a imagem mais emblemática da pandemia, ao caminhar sozinho em busca de bênçãos para a humanidade na praça de São Pedro. Fazendo a sua Páscoa, na culminância da Semana Santa, quando chegou até o meio do povo, ouvindo sua gente, quebrando protocolo, olhar do pastor que não vê multidão, mas uma determinada senhora, ainda no hospital, que o acompanhou durante toda a internação, e trazia rosas amarelas…

Das entrevistas que vi, depois da sua morte, a que confessou precisar das pessoas me impactou. Deveria residir no apartamento papal, porém, por razões psicológicas, optou em viver em “família”, na casa de Santa Marta. Onde seu corpo foi exposto pela primeira vez, confirmando que estamos órfãos. Órfãos de pai, de avô, de tio que, até o último momento, pediu proteção para as vítimas da guerra. Como disse Bono Vox, “um homem extraordinário para um tempo extraordinário”. Obrigado, Francisco, por tua teimosia!

Já se disse que João Paulo II era para ser visto; Bento XVI, para ser ouvido e, Francisco, para ser tocado. Um tango é a justa despedida: “Francisco, te lloram las calles” (“Francisco, te choram as ruas”). A angústia tomou conta de quem rezou pela sua serenidade, depois do esforço, ao pedir: “não estacionem o coração na tristeza”. O coração que gostaria de não vê-lo partir, quando a gratidão seca as lágrimas por nos contagiar com o bem. Ele mesmo garantiu: “Não vivemos sem meta, sem destino. Somos esperados, somos preciosos. Deus nos preparou o lugar mais digno e belo: o Paraíso”. Segue à nossa frente. Vá em paz, Francisco!


domingo, 4 de maio de 2025

Simplesmente assim: Andanças

Quando dobrares na esquina,

Mudarás o horizonte e o sentido da tua rua.

Ainda não sabes o que te espera,

Apenas acreditas que serão outros rumos,

Outros sonhos, os voos da tua imaginação. 

Restará afagar as memórias,

No distanciamento de tudo o que ficou

Confinado a um passado que embalou

Tuas andanças e o rumo dos teus tenros anos.


Ali encontras as casas com varandas, 

Onde as flores se debruçam por sobre as calçadas. 

As crianças brincando são ecos da

Algazarra que dá razão à vida.

Renovada por onde se anda no cosmos, 

Quando o mundo se ajusta para caber

Dentro das expectativas de cada um.

Ao expandir o olhar pelo que se torna universal, 

Deixam-se as pegadas que carregam 

A poeira de todas as nossas andanças…


sábado, 3 de maio de 2025

Cinco Linguagens do Amor

 Leituras e lembranças:

O livro "As Cinco Linguagens do Amor", escrito pelo pastor americano Gary Chapman, explora diferentes possibilidades pelas quais as pessoas expressam e experimentam o amor. É um exercício de autoconhecimento e de aprendizado no que se refere às pessoas marcantes em nossas vidas: esposos, esposas, filhos, pais, amigos…

Chapman sugere que alguns elementos são referenciais para melhorar os relacionamentos familiares, em especial, entre casais. Começa por “Palavras de Afirmação”, quando se expressa afeto e apreço por elogios, palavras de encorajamento e afirmações verbais. Segue com “Tempo de Qualidade”, onde se dedica atenção exclusiva e focada ao parceiro, realizando atividades juntos e criando momentos de conexão.

Na sequência, vem “Receber Presentes”, como a forma de expressar amor por presentes significativos e atenciosos, que demonstrem que a pessoa foi lembrada e valorizada. Segue “Atos de Serviço”, em que se demonstra amor mediante ações práticas que ajudem e facilitem a vida do parceiro(a).

Por fim, o “Toque Físico”, ao se expressar e receber amor através do contato físico, como abraços, beijos, carícias e proximidade. A vida afetiva e sexual sendo contemplada como laços criados depois do período inicial da paixão. Vencido este período, que define em torno de dois anos, é crucial estabelecer novas relações, baseadas no respeito e afetividade.

O livro argumenta que cada pessoa tem uma linguagem do amor primária, aquela que ressoa mais profundamente e faz com que se sinta verdadeiramente amada. Quando os parceiros aprendem e falam a linguagem do amor um do outro, seus laços emocionais se fortalecem e seus relacionamentos se tornam mais satisfatórios.

O livro não é “bíblia”, mas referencial para reflexão. Foi motivo para uma Escola de Formação do Movimento Familiar Cristão. Deixei claro que já terá prestado um grande serviço se conseguir fazer com que as pessoas se disponham a parar para pensar suas relações. O objetivo final é que importa: ajudar os casais a se comunicarem melhor, a cultivarem um amor duradouro e significativo. (Com pesquisa da I. A. Gemini).


sexta-feira, 2 de maio de 2025

Doces afetos, doces lembranças…

Envelhecer é o tempo em que

As memórias revisitam o passado,

Especialmente, quando preparavas

As folhas secas para a infusão de um chá.

O ritual de reunir plantas ou ervas

Fazia a existência não se importar em esperar.

Desde o momento em que a água estivesse no ponto

E a paciência para imergi-las, ainda borbulhante,

Mexendo com a leveza de uma bênção

E abafando, como quem preserva o Sagrado...

 

Aguardar pelo tempo que o relógio não marca,

Pleno da intuição do momento,

Onde apenas o sentimento trama os minutos e as horas.

Ao levantares a tampa do bule aloçado,

O aroma emerge, penetrando por todos os sentidos.

Cumpre-se a solenidade em que as mãos postas

Oferecem aos céus a xícara em que depositas

O líquido precioso com o qual partilhas a vida.

 

Um dia, quando o chá aquecer as lembranças,

Sentarei na cadeira que embala meus sonhos,

Repousando meu corpo no aguardo.

Ao sorver goles de encantamento,

Com as mãos aquecidas em torno da louça,

Revivo momentos em que esperei por ti 

Para compartilhar doces afetos, doces lembranças. 

Tomando chá… ou, quem sabe, um café,

Fumegante com o perfume da saudade!