O Tales Godinho repercutiu postagem da Eliane Sá Britto Bitencout. Um depoimento precioso para entender situação vivida por milhares de pessoas que têm, na família ou entre amigos, alguém “especial”, como um autista. Se consultar o Google, verá que o autismo é uma síndrome que “causa alterações na capacidade de comunicação, interação social e comportamento, o que provoca sinais e sintomas como dificuldades na fala, bloqueios na forma de expressar ideias e sentimentos, assim como comportamentos incomuns, como não gostar de interagir, ficar agitado ou se repetir...”
O título não é nenhuma novidade, mas necessita ser repetido: “é preciso falar sobre autismo!”. E conta a história vivenciada com o Márcio, seu filho, que levava para sessão de terapia. O primeiro susto veio quando uma moto acelerou alto ao ultrapassar. O Márcio fechou os olhos, começou a se balançar e “não mais me ouvia”. Houve um novo encontro e o fato se repetiu, quando foi necessário parar o carro e tentar contornar a situação. Rezando para que não tornasse a acontecer, continuaram o caminho… Repito o ditado: Quem disse que o raio não cai duas vezes no mesmo lugar?
Num entroncamento, o fato aconteceu novamente e estava feito o estrago. Márcio fechou os olhos e começou a balançar. Eliana desejava uma oportunidade para falar com o dono da moto. Acabou acontecendo. Parou, cumprimentou, identificou-se e perguntou se já ouvira falar de autismo. Contou os lances vividos em cada vez que acelerava e o que causou. Educado, o rapaz disse que não sabia. Eliana completou: “as pessoas não são obrigadas a saber o que afeta nossos filhos. Nós também não sabíamos, até que o autismo bateu à nossa porta. É preciso conscientizar… é preciso falar sobre...”
“É preciso falar sobre o autismo…” assim como sobre todas as síndromes, que tornam pessoas especiais, por questões psicológicas, deficiência física, envelhecimento (porque não?), doenças que lhes retiram a capacidade plena de interação. O que o texto cobra – conscientização – é o reconhecimento de que o fato de eu estar em plenas posses de todas as minhas faculdades mentais e físicas não me dá o direito de invadir o território do outro, onde se abrigam os seus medos, os seus pânicos, as reações que se pode causar e transtornam longos períodos de tratamento.
Uma das cenas mais tristes que vivenciei foi quando, chegando em casa, ao abrir o portão, ouvi uma música alta vinda da casa de um vizinho. Incomodado, entrei na morada de meus pais onde os dois, já idosos, estavam sentados em silêncio, televisão desligada, rostos abatidos, porque a altura do som não permitia ouvirem os programas ou entabular uma conversa. Uma das regras mais claras que tornam as relações sociais civilizadas é: “a minha liberdade acaba onde começa o nariz do outro”. O que satisfaz meus prazeres, não pode prejudicar a quem não pediu para ser incomodado.
A conscientização pedida no desabafo é uma questão de educação e informação. Processo que demanda afeto, compreensão, aceitação, espaços onde o autista seja acolhido e reconhecido. Foi-se o tempo em que pessoas com síndromes eram chamadas de “coitadinhas”, com o estigma da segregação marcado na testa. A ciência tem tratamentos para realizarem suas potencialidades. Tomara que o Márcio esteja bem e a Eliane continue a sua cruzada por algo tão elementar: que seu filho, como qualquer outro ser humano, mereça respeito e tenha o direito de um lugar ao Sol!
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