O ano era 1982. Até então não havia participado de atividades político-partidárias, mas o envolvimento com as comunidades de base levou a uma mobilização da zona norte de Pelotas pela melhoria no atendimento da empresa de ônibus Esperança. O canal na prefeitura era o secretário (se não me engano, na época, de serviços urbanos) Bernardo de Souza. Muitas reuniões, conversas e melhora significativa do serviço. Foi natural que, naquele ano, me envolvesse na campanha que elegeu Bernardo para prefeito.
Quando assumiu, pensei que minha missão tinha terminado. Fiquei surpreso ao receber sua visita, no secretariado de pastoral, convidando para integrar a equipe que assumia em 1º de março de 1983. Mudança radical: começando pelo fato de que as finanças estavam a zero e, por sete meses, não vimos nem a cor do dinheiro, sobrevivendo de bônus de supermercado, que era uma antecipação de salário. Mas, como diria o professor Marasco, fazíamos a "política da inocência" e tivemos que aprender a lidar e fazer funcionar a máquina pública.
Quando conto minha experiência daqueles quatro anos, digo que foi o complemento do meu aprendizado no curso de Comunicação Social da UCPel. Ali, aprendi a fazer marketing político na prática, com a definição mais clássica: "a capacidade de argumentar e convencer" e não de fazer proselitismo, ou colocar goela abaixo qualquer produto. Um grande número de lideranças vinha dos meios religiosos, populares, sindicais e acadêmicos e, de fato, não pensava em carreira política, mas encontrar formas de melhorar a vida da cidade e de quem nela habitava.
Já tinha percorrido praticamente todos os recantos dos bairros que ficam na zona norte, porém, só então, me deparei com as áreas mais pobre da cidade e tomei conhecimento do seu interior (que era extenso, na época apenas Capão do Leão havia conseguido sua emancipação. Seria seguido por Morro Redondo, Arroio do Padre e Turuçu). As diferentes realidades e atender demandas reprimidas por uma máquina pública que já estava com dificuldades para se manter, quanto mais de prestar os serviços que tinha por obrigação.
Nos momentos mais difíceis, o Bernardo mostrava como não desistir. Numa ocasião, no interior, chegamos cedo tocados por muita chuva. Devia haver uma meia dúzia de gatos pingados no salão para um encontro que aconteceria à tarde. Ao chegar, relatamos de forma negativa a situação. Quando falou, iniciou valorizando quem se fazia presente, dizendo que possivelmente muitos outros gostariam de estar ali e o tempo não permitira. Os presentes mereciam, mesmo assim, que se tocasse o encontro...
Minhas lembranças vêm em função de que no próximo fim de semana teremos eleições para vereadores e prefeito. Num tempo inoportuno em função da pandemia, já tendo mostrado o desinteresse popular e o oportunismo de certos candidatos. Marcadas estão e é necessário que se participe. Deixar de fazer significa, depois, não ter o direito de reclamar. Afinal, no dizer de Edmund Burke: "para que o mal triunfe basta que os bons fiquem de braços cruzados".
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