domingo, 11 de outubro de 2020

O mundo da fantasia e a magia do "faz de conta"

Um programa de rádio lembrou de brinquedos que apresentadores e ouvintes tiveram na sua infância. Entrevistas de jornalismo normalmente têm um público mais velho, passando dos 30, consequentemente, daqueles que são pre-eletrônicos, quando muito puderam usufruir dos games de tipos restritos e preços que não cabiam nos bolsos de todo o mundo. Um dos comentaristas mais velhos, voltou um pouco mais no tempo e contou da sua experiência, sem artefatos de plástico ou industrializados. Fiquei atento, porque era a descrição do que aconteceu na minha infância.

Raros e restritos eram os brinquedos em série, mas a criatividade fazia com que se "torneasse" um pedaço de madeira e transformasse em taco. Uma lata de óleo servia como "casa" para o jogo. A mesma lata que poderia servir para fazer um carrinho. Duas latas arredondadas eram o suficiente para que se fizesse um andador ou pés de latas. A Vanessa e sua turma lembraram das "cinco marias" (que eu já não lembrava, mas eram aqueles saquinhos que se atirava um para o ar e se recolhia outro no chão, até errar), "telefone sem fio", "pião", "mola maluca"... e também havia um terreno em toda a extensão da rua, com proteção de Maricás, que era o "esconderijo" nas brincadeiras de mocinho/bandido, durante o dia e, nas noites de verão, o lugar preferido para o "esconde-esconde".

Quando começaram a entrar os saudosistas dizendo que hoje as crianças tem muitos brinquedos mas já não usufruem da rua. O mesmo comentarista disse que são outros tempos, com outro tipo de satisfação, e que as crianças, tendo um ambiente propício, exercitam a criatividade e são capazes de encontrar suas próprias formas de diversão. Não quero discutir aqui os erros e acertos pedagógicos que colocaram as crianças dentro de uma embalagem e colaram o carimbo de "frágil"... Tão pouco falar da violência que retirou praticamente toda a atividade social da rua. Embora, em muitos condomínios populares, o que se encontra é o microcosmo das vilas de antigamente...

Já disse que uma das minhas metas enquanto aposentado é colecionar. Semana passada falei a respeito dos carros que tive e pretendo conseguir em miniatura. Verdade que tem gente desistindo até de andar comigo a pé porque, depois do que leram ou ouviram, não acham que eu seja uma companhia segura... Mas, vamos lá: a outra coleção é de brinquedos que, de alguma forma me marcaram. Minha primeira leitura, como a de muitos do meu tempo, foram os gibis. Em priscas eras, como se dizia, reinavam o pato Donald, o Mickey, o tio Patinhas, o Pateta, a Margarida, a Minnie, a Maga Patológica, Madame Mim... Os pilas para comprar  do jornaleiro, o seu Ananias, eram poucos, e então, depois de ler, trocávamos nas portas dos cinemas, nas sessões matinés do domingo.

Talvez já existissem, mas, para nós, os brinquedos não eram acessíveis. Na verdade, nem sabíamos que existiam. Fui tomar contato com eles já na minha adolescência e, então, a gente já tinha outras preocupações... Passamos a assistir televisão e, de lá, foram surgindo outros personagens, que viraram bonecos: da série "Perdidos no espaço", o doutor Smith e seu robô, que chamada de "lata de sardinha enferrujada"; a fofura do ratinho Topo Gigio, que marcava o final das nossas noites, no Brasil, conversando com o Agildo Ribeiro; ou ainda o Fofão, que teve seu momento alto no programa Balão Mágico, que a gente dizia ser "coisa de criança", mas todos sabíamos de cor e salteado a sua música. Mais recentemente, os personagens centrais de Harry Potter, que recuperaram o gosto pelo mundo encantado da leitura...

O mundo da criança é o mundo da fantasia. Aterrissar na realidade é coisa de adulto, que nunca pode esquecer que já foi criança e, especialmente, manter um pé no encantamento que toda a magia do "faz de conta" é capaz de dar. O dia é da criança, mas também da mãe Aparecida. E mãe sempre tem a ver com aqueles anos passados em que aprendemos os primeiros passos, as primeiras palavras, onde encontrar nosso lugar de abrigo e carinho. No dia das crianças, o brinquedo que se dá, na verdade, é um pouco da saudade do lugar de onde saímos, por onde andamos e que, de alguma forma, não se quer esquecer...

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