terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

Que sejas muito feliz!

Fenômeno até algum tempo atrás pouco comentado, hoje se tornou comum, causando uma sensação difícil de ser definida: a síndrome do ninho vazio - a condição caracterizada pelo surgimento de quadro depressivo por parte dos pais (especialmente da mãe) após a saída de um filho de casa, a partir do momento em que já se acha em condições de abrir mão da proteção paterna, ou mesmo por sua morte.
O que era caracterizado por condições financeiras independentes ou pelo casamento, hoje foi aumentado por busca de espaços universitários, acidentes (ou incidentes) dos mais variados, além de portadores de síndromes que, até o início da década de 1980, eram diagnosticados com a possibilidade de viver até os 30 anos e, hoje, tiveram sua expectativa de vida ampliada, alguns já tendo ultrapassado os 50 anos.
Pessoas aparentemente bem ajustadas têm dificuldades quando as perdas (ou perspectivas delas) são em família. As naturais - por idade ou doenças sem volta - podem ser difíceis, mas são trabalhadas com o tempo. A dificuldade está em abrir mão de "acompanhar" quem se está acostumado a "policiar" se cuida da higiene, toma medicações nos momentos certos e, até num suspiro, se pergunta se está tudo bem...
Explicitamente - ou implicitamente - filhos acabam dando um grito de independência, dizendo (e é pena quando não dizem) que estão sufocados e precisam de um tempo para saber se já estão preparados para a vida... Infelizmente, preparados, preparados, nunca se está, mas como dizia um deles: "mãe, sou teu filho, saber o que fazer, eu sei, porque aprendi de vocês, mas preciso batalhar no dia a dia para tocar a minha vida..."
A distância (pode ser de apenas quarteirões) é suficiente para agonias, policiamento e não transformar a nova moradia apenas na filial da própria casa. É quando se percebe o amadurecimento do filho... e também dos pais. Porque, se possível, manteriam os filhos sob suas asas, mas sabem que, em algum momento (aceitem ou não) terão que jogá-los no espaço para que alcancem a sua própria realização.
Meu pai costumava guardar pendurados numa árvore do pátio todos os pedaços de arame que sobravam de obras. A certeza era de que um dia iria precisar. E teria guardado. Lá pelas tantas, em alguns lugares, havia uma penca de pedaços de fios (talvez seja exagero) que esperaram por toda uma vida para serem utilizados, até que o sucessor, numa das limpezas, acabou com todos, até aqueles que, hoje, precisa.
Não há preparação para a perda que evite o impacto da ausência. Porém, namorar e dar espaço para a depressão é flertar com a morte. Não no sentido de terminar com a vida, mas deixar de atender família e amigos, integridade física e espiritual. Ao contrário, é preciso "estocar" energia para valorizar telefonema, visita, um carinho... Oportunidade de dizer: "te amo filho, Deus te abençoe... que sejas muito feliz!"

Nenhum comentário: