terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Um tempo precioso para se viver

Ler ou assistir adaptações da obra de Charles Dickens, “Um Conto de Natal”, é mergulhar num mundo diferente para viver este tempo. Faltando uma semana para as festas de final de ano, o também chamado "Espírito de Natal" é convite a que se mergulhe na busca pela compreensão da própria história, desde encantamentos, passando por decepções e a capacidade de amadurecer, com o que é mais certo que se faz na vida: acertar ou errar, cair ou levantar, a busca por amar e ser amado...
A garota voltou para casa. Durante muito tempo abominara tudo o que sua família representava. Vagou pelo Mundo e mergulhou de cabeça na busca pela realização pessoal e profissional. Em todos os lugares, encontrava muita coisa que a satisfazia, mas também não conseguia deixar de comparar com o lugar de onde tinha saído. Era a sua "aldeia", onde era "vigiada", "aconselhada", e sentia "tolhida a sua liberdade".
A mãe acomodou-se na cadeira. O filho sofrera acidente de moto. Estava inconsciente, possivelmente passaria o Natal naquele leito. Ela não sairia dali. O seu "menino" andava em más companhias e pensava nas vezes que responsabilizara o marido por não ser mais firme. Um jogo de empurra/empurra em que ninguém saiu ganhando. As relações estavam desgastadas e seria difícil pensar em comemorações, até as religiosas.
A mãe cuidava da filha na cadeira, comendo com a colher. Algumas colheradas na boca e outras na volta. Doiam-lhe as costas, braços e o sono estava atrasado. Os filhos mais velhos estariam fora e o esposo trabalhava até tarde. Faria encomenda na padaria e que o marido pegasse o que serviria na ceia, para não esquecer a data. Foi atingida por uma colherada de comida e deu-se conta de que havia muita sujeira para limpar...
Véspera de Natal, tocou a campainha e esperou. Ouviu o cachorro do irmão, que, para implicar, chamava de vira-lata. E o tradicional: "já vou", da mãe. Quando abriu a porta, um susto e um sorriso. Apenas um murmúrio: "filha", sem mais nada a não ser um abraço. Estava de novo no que nunca entendeu, mas que sempre seria o seu lar!
A mão que a mãe segurou no leito de hospital reagiu pela primeira vez. Chorou baixinho pedindo a graça de não perder o filho... e tornar-se a mãe que, sabia, ainda poderia ser! E quando os foguetes espoucavam na rua, o pai abriu a porta do apartamento e se deu de cara com a cena: televisão ligada baixinho, a mulher dormindo na poltrona e a pequena sorrindo aconchegada em seus braços...
É o espírito de Natal: momento de voltar, de reencontrar a vida, de entender que nem para tudo o que se vive se precisa de explicação. Não são coisas novas que fazem valer a pena viver: há motivos para reencontrar velhas e surradas rotinas; entender a fragilidade da dor e do desamparo, sem perguntas ou "conselhos"; ou viver a "doçura sem sentido" de gastar uma vida para que outra se desenvolva. Um tempo precioso para amar e cuidar... Um tempo precioso para se viver!
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