A menina aproximou-se do presépio. Depois de olhar com admiração para a cena - com as explicações do pai - perguntou: "Jesus não tinha avós?" O rapaz respondeu que sim. A tradição contava que eram são Joaquim e Sant'Ana. E a pergunta seguinte o surpreendeu: "porque eles não estão no Presépio? Será que estavam numa casa de repouso?" O pai ficou para trás observando os detalhes das pequenas figuras e imaginando o que, naqueles tempos longínquos, teria passado por suas cabeças...
Maria esperando seu primeiro filho. Sozinha, num lugar distante da cidade, longe de casa, apenas com José. As condições eram precárias. Conseguira colocar uma manta sobre a palha estocada. Já pensando no depois, teria que arranjar o cocho onde os animais se alimentavam para acomodar seu filho. Queria ter alguém que a pudesse auxiliar, especialmente a mãe. Ela saberia o que fazer primeiro, como se organizar e ajeitar o menino depois do nascimento. Mas aprendera a ter confiança em Deus...
Sant'Ana caminhava da casa em direção à porteira e voltava. São Joaquim estava nervoso com a mulher. Alertou: "Ana, a Maria tá bem. José tá junto. Vai cuidar bem deles!" Nem recebeu resposta. A mulher pensou: "homens. Não sabem como é difícil viajar esperando um filho. Será que ela levou tudo o que precisava? Meu Deus, não posso fazer nada!" Incapaz de ajudar e aflita por ter visto a filha se por a caminho tão bonita com aquela barriguinha já demonstrando que seu neto nasceria logo.
Dias depois, ao longe, viu a família voltando. Maria montada num burrinho com o menino Jesus no colo. Trôpega, andou em direção aos viajantes. O pequeno fardo era a coisa mais linda de se ver... Reverente, pediu para pegá-lo. Era como se Anjos murmurassem em seu ouvido e dissessem que ali estava o Salvador tão esperado por seu povo. "Ele é lindo! Muito lindo! Que Javé o abençoe!" Não havia mais o que dizer, a não ser contemplar aqueles traços serenos que, agora, a olhavam com atenção.
Ficara atento ao que via no Presépio e levou algum tempo para perceber que a filha e a mulher voltaram e queriam saber porque ficara ali parado. Não sabia explicar. Passou o braço por sobre os ombros da menina: "mana, tu já ligou para a vó e o vô pra dar um abraço de Natal?" "avós", corrigiu a esposa. "Verdade. Vamos fazer isto hoje, quando voltar para casa? E tenho uma proposta: quem sabe a gente procura uma imagenzinha de Sant'Ana e São Joaquim e colocamos em nosso presépio?"
Poderia ser a crônica de um Nata para os avós... Sant'Ana e São Joaquim não ficaram numa casa de repouso na velhice. Esta é uma marca da sociedade do nosso tempo, para o bem... ou para o mal. Parece tão pouco - um telefonema - mas para quem passa um longo tempo sozinho é aquilo que o Natal tem de melhor: a esperança, afago no coração de quem merece cerrar os olhos sabendo que plantou o amor em seus filhos e netos... E tem o direito de colher, ao menos, um pouco de carinho!
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