Tinha 11 anos quando fiz estágio para ingresso no Seminário. O diretor de então era o padre Jayme Chemello. Creio que eram algumas dezenas de meninos. Todos foram convidados, em algum momento, a conversar pessoalmente com o senhor reitor. Na caminhada no entorno do casarão da avenida Dom Joaquim tínhamos a primeira chance de conhecer o homem que assumiria os destinos da Igreja Católica em Pelotas.
Em 1969, já iniciara meus estudos naquele instituição, dom Jayme se tornou bispo auxiliar. No entanto, durante muito tempo as pessoas o chamavam pelo tratamento de “padre”, especialmente jovens e casais que buscavam orientação espiritual. Passou o tempo e acompanhei o pastor que se preocupava em fazer funcionar as pastorais, dinamizando a capilaridade que as paróquias e comunidades dão à Igreja Católica.
Como toda a figura pública, pode se contar aqueles que o amaram e aqueles que o odiaram. Mas, em nenhum momento, acusar de incoerência com seus princípios. Em tempos difíceis, como o final da ditadura, precisava ter a voz do equilíbrio e da sensatez - sem perder o profetismo - a capacidade de evangelizar e testemunhar, com a prudência de fazer com que andassem os vagarosos e refrear os mais dispostos a investir em mudanças sociais.
O religioso que percorreu diversas instâncias de representação, também dentro da Igreja Católica, sempre foi ouvido em nível estadual e nacional, e passou a ser referência quando esteve à frente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Sem perder a simplicidade, conhecendo a maior parte do seu rebanho e, muitas vezes, provocando quem chegasse a uma Missa com uma simples expressão: “o que tu tá fazendo aqui?”
Voltei a conviver com ele em 2017, quando o levava para celebrar a Missa no Santuário de Guadalupe. Como tínhamos um histórico de “provocações” fui cobrado de porque resolvera reencontrar alguém de quem estivera afastado. A resposta era simples: eu não precisava de nada dele, nem ele de mim. Apenas o retorno ao convívio com alguém pelo qual sempre tive respeito e admiração.
O afastamento de funções de direção seleciona “amizades”. Resignar (como a Igreja chama a aposentadoria) é tempo de silêncio, amadurecer para o estágio onde se acumulam conhecimentos e lembranças... Completar 50 anos como bispo é graça! O que distingue alguém como o sempre "padre Jayme" são as marcas do seu testemunho e espiritualidade nos corações. Que o tempo não apaga, gravadas a partir de seus sonhos, concretizados na crença de que nunca abriu mão dos alicerces da sua fé!
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