Estava sentado esperando iniciar a Missa quando chegou o Miguel com seus avós. Como toda a criança de três anos, curioso por caminhar e ver o que havia naquele amplo espaço, sem perder a referência do banco onde nos encontrávamos. Mas foi no momento em que começaram os cânticos que se deu o inusitado: toda a vez que um deles acabava, batia palmas. A explicação era simples: na creche, os orientadores ensinavam que aplaudissem sempre que terminavam uma das canções.
Sexta-Feira Santa. Na celebração das 15 horas não há Missa, faz-se memória da paixão e morte de Jesus. No dia anterior é consagrada a eucaristia para que as pessoas possam ter aquele alimento também num dia de dor. Voltava para meu lugar quando ouvi um choro forte... A mãe tentava explicar para a criança - que foi no seu colo para a comunhão - porque não podia comer o "pãozinho" que o adulto havia recebido. Não havia explicação que a consolasse...
Na mesma cerimônia, há o beijo na cruz. O diácono, em frente do altar, oferece às pessoas o madeiro que recebeu o corpo do Senhor. O "louquinho" se aproxima murmurando uma mistura de trechos de canções religiosas antigas com músicas não tão cristãs assim... Oferecem-lhe a cruz para beijar e ele vira de lado... A fila anda. Quando se volta para ele, novamente, aproxima-se, beija a imagem e silencia... Afaga a representação do corpo de Jesus e dá duas batidinhas nas costas do diácono...
Gosto das igrejas como espaço em que se pode parar para rezar - ou apenas silenciar... Mas, especialmente, onde há o encontro com pessoas... Homens, mulheres, crianças e "louquinhos" num lugar sagrado vivenciando uma forma especial de proximidade com Deus. Muito tempo atrás, ouvi de um padre que a maior parte dos que participam de uma Missa não tem a compreensão total do que seja. Sabem que estão diante do Sagrado para pedir ou agradecer, consagrar ou apenas existir...
As crianças e os "louquinhos" desafiam nos momentos em que desejamos apenas o "nosso" silêncio. O jeito como Deus nos retira de nossas redomas, mostrando a procissão dos que andam, dos que correm, dos que gritam, dos que se arrastam, dos que fazem a vida ser o permanente desafio de comprender o que nos leva a murmurar uma prece, apenas uma prece... na certeza de que em todas as formas de celebrar sente-se a presença de algo que supera o conhecimento e as fragilidades. O dedo de Deus que brinca nas palmas e no choro das crianças, nas palavras altas e sem nexo do "louquinho" que silencia diante do Mistério...
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