domingo, 7 de abril de 2019

A Páscoa da inclusão

Não conheço o Gabriel. Ele foi pauta de uma matéria da RBS TV no último sábado porque teve um gesto inusitado: sendo cobrador do transporte coletivo de Pelotas resolveu aprender a linguagem de sinais para se comunicar com uma passageira, o que lhe valeu o reconhecimento daqueles que precisam desta forma de expressão, assim como dos demais usuários e até mesmo da direção da empresa onde trabalha.
Esta semana antecede as comemorações cristãs da Páscoa. Para os judeus, a saída de um povo do jugo dos egípcios e a tão sonhada busca pela terra prometida. Para os cristãos, lembrança do sofrimento, morte e ressurreição de Jesus. Em ambos os casos, período de passagem, adequado para que se faça preparação - individual ou em grupo - em busca da compreensão dos mistérios sagrados.
O que as duas coisas tem em comum? O Gabriel diz ter sido um desafio aprender a linguagem de sinais. "Treinou" com sua conhecida e tornou mais fácil a vida com outras pessoas com igual deficiência. A matéria queria ressaltar isto: a capacidade de gastar seu tempo aprendendo algo que, mais do que pessoal, tornou-se uma "passagem" do apenas servir como transporte coletivo para uma vivência comunitária.
A Páscoa é - mais do que festa e guloseimas - uma provocação para refletir. Fazer silêncio e, em meio a tantos motivos para se estar "ocupado", gastar um tempo para a introspecção. Não sei se foi fruto disto a atitude do Gabriel, mas é disto que precisamos: achar espaços de sanidade mental onde possamos dar um "alô" para nós mesmos, redescobrindo fórmulas simples de reencontrar as pessoas, não apenas deixando que passem por nossas vidas, mas que deem sentido a ela.
A linguagem de sinais é um jeito de tirar boa parte da população do silêncio. Mergulhar neste mundo é fazer a diferença. Um motivo de aproximação ou a exclusão e a marginalidade. Lutar para que mais "gabrieis" saiam de suas rotinas e sintam-se desafiados a estender a mão é um belo jeito de viver a Páscoa: a passagem do silêncio que deprime para o "barulho" das mãos que gesticulam e aproximam.
Embora os avanços da psicologia, o maior mistério para o homem continua sendo o próprio homem. Ele é capaz de causar dor ao seu semelhante, mas também de alimentar resquícios de esperança. Viver bem este tempo é fazer de pequenos gestos formas inclusão. A generosidade de quem agradece a Deus por todos os benefícios e também estende a mão para um idoso, um deficiente mental, um deficiente físico... o diferente que anda pelas ruas da cidade reclamando o direito de ser reconhecido como gente, apenas um cidadão pedindo ajuda para viver a sua própria Páscoa!

Nenhum comentário: