Reunião de fim de ano do Rotary. Convite para tratar do tema "dar de si antes de pensar em si". Conduzi a reflexão partindo do conceito de que alguém que trabalha pelo outro precisa ser bem resolvido e, antes de mais nada, saber cuidar de si mesmo. Um depoimento forte veio da Olga: "a gente luta a vida inteira para ser independente e, muitas vezes, no avançar dos anos, o que se quer é apenas alguém que nos cuide!"
Pode parecer uma questão semântica, mas expliquei que uso o termo "autonomia". Toda a vida esta é a nossa busca, primeiro na interação com os pais e, depois, como pais, tios, avós, respeitar um ente querido que dá seus próprios passos, com o direito de acertar, mas também de cometer os seus próprios erros.
Recentemente, um grupo de autistas e portadores da síndrome de down fez uma experiência de autonomia. Durante um período ficou distante dos pais ou responsáveis e tinha que dar conta desde as tarefas mais simples - arrumar a cama, por exemplo - até a interação com outros jovens em condições semelhantes.
Creio que o projeto se chama "Te vira!" Dos depoimentos, se percebia que, para os jovens, era um desafio. Na hora do "vamos ver" tinham condições de aprendizado e, se não conseguissem, a solidariedade falava mais alto. O coração nas mãos ficava com quem estava fora da casa, que, na ânsia de "compensar" suas restrições, negava a oportunidade de que, no que fosse possível, conduzissem as suas próprias vidas.
Na vivência com idosos tenho encontrado casos em que já perderam os movimentos - deixaram de caminhar e, muitas vezes, passam a maior parte do tempo na cama; não têm forças com a fala, restringindo-se a poucas e esparsas palavras; mas capazes de interagir com aperto de mão, o olhar, o sorriso ou um leve menear da cabeça...
Nestes casos, uso a palavra "independência", que poderia ser trabalhada como sinônimo de autonomia, mas que recebe especial importância por expressar algo que não temos critérios para medir: a condição do nosso espírito de sobreviver, em muitos casos, à deteriorização do próprio corpo.
O que nos atrapalha é a falta de capacidade de olhar para além dos limites que o corpo impõe. Durante toda a vida, o que dá sentido é a sensação de que somos úteis. Envelhecer é tomar consciência do que se pode ou não fazer. Tornar-se vítima de um "coitadismo" é transformar a vida dos outros e a própria num Inferno! No convívio com um grupo, interação de diversas formas, no olhar que "fala" há um espírito determinado a viver, alerta, aproveitando a vida até a derradeira gota de felicidade...
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