Texto ajustado para os jornais desta semana. Já publicado aqui no blog.
Participei, em agosto, do Mutirão de Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Realizado em Joinville, Santa Catarina, teve momentos especiais. Um deles foi quando, no encerramento, aconteceu a consagração dos comunicadores à Nossa Senhora Aparecida, a estimada Padroeira do Brasil, mas também das grávidas, recém-nascidos, rios, mares, ouro, mel e da beleza.Quando completam 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora da Conceição pelos pescadores há muito o que aprender com a fé popular que irradia daquele centro de evangelização. O momento de oração iniciou com a retirada do manto e da coroa que tradicionalmente conhecemos. Despida, a imagem é de um corpo negro e uma mulher grávida.
A pequena imagem foi descoberta, inicialmente, pela parte do corpo e só bem mais tarde pela cabeça. Dom Darci Nicioli, referencial de Comunicação da CNBB, fez a motivação dizendo que sempre se perguntou porque, ao encontrar um pedaço de imagem, o pescador não atirou de volta ao rio. Afinal, era apenas uma parte de uma estátua, sem valor algum.
Mas o pescador tinha um "olhar de fé". O suficiente para aguardar e ser recompensado com a outra parte. Conta a história que a envolveu em sua camiseta de trabalho, primeira veste daquela que se tornaria a Padroeira do Brasil. Uma cobertura para não ser esquecida, já que também da família do pescador viria o primeiro lugar sagrado onde seria apresentada ao povo, assim como o primeiro manto costurado pelas mãos calejadas dos ribeirinhos.
No mesmo evento, duas estandes era dedicadas à Aparecida. Uma delas à televisão, que alcança o território nacional e faz seu trabalho de evangelização. No outro, o Memorial, ainda em formação, com mais de uma centena de imagens de cera, representando figuras que fizeram a história do Santuário, assim como de muitos que contribuíram para se tornar o que é hoje - uma referência de fé.
Este ano, muitos são os caminhos que levam à Aparecida. A motivação do encontro dizia que havia uma explicação para Nossa Senhora não ter seu filho no colo: "para receber em seus braços todos aqueles que dela necessitam." A consagração terminou quando restituíram o manto e a coroa. Elementos que o povo lhe deu como adereços, numa justa e singela homenagem.
Mas fiquei com a impressão de que a imagem - desnuda - era mais significativa. Mulher negra e grávida, cheia de sonhos e preocupações. Tratando de uma humanidade que, no ir e vir em busca de solução para suas aflições, volta os olhos para o lugar onde fica a Mãe de todos, numa súplica por um abraço e um colo que se torne um porto seguro de fé.
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