segunda-feira, 30 de outubro de 2017

A partida do Chico

Na semana passada, o Chico partiu. Depois que a Vera se foi, acreditei que ele iria desandar. Tinha todos os motivos para isto. Mas não foi o que aconteceu. A morte da esposa não o desanimou, mesmo seguindo-se do diagnóstico de uma doença que, certamente, o levaria à morte. Soube enfrentar, dar testemunho de uma da suas opções maiores: era preciso continuar vivendo. E viver intensamente!
A primeira lembrança do Francisco Neto de Assis foi ainda pelos corredores da Escola de Comunicação. Naqueles bons tempos em que se trabalhava bastante na Agência de Comunicação, onde seu filho, o Érico, era um dos mais animados nas atividades de extensão. Foi quando ouvi pela primeira vez falar da ADOTE (Aliança Brasileira pela Doação de Órgãos e Tecidos).
Foi simpatia à primeira vista. Do nosso primeiro encontro já saí com minha carteira de identidade marcada com o selo de doador. Aquele nordestino de olhar inteligente e atento fazia colocações objetivas, facilitando em muito o que a academia podia fazer em apoio a uma causa que tinha ganho a sua vida.
Passei a acompanhar suas atividades. Era elétrico. Presente em muitos setores da socidade - em especial na área da saúde - com capacidade de mobilização, mas também não se furtando a um embate quando julgasse necessário. O Rotary tem uma dívida para com ele, inclusive quando do exercício de seus dotes culinários.
Raramente o encontrei depois da morte da Vera, mas tornou público o diagnóstico de sua doença, a busca pela cura e seu reencontro com valores espirituais. Nunca me pareceu que fosse um homem de religião, mas, com certeza, era um homem de fé. Suas narrativas mostravam pelas redes sociais que não tinha medo de experimentar alternativas em busca da cura. Mas, também, a certeza de que vivia e buscava fazer com que outros vivessem, sem medo de enfrentar a morte.
Homens como o Chico sempre fazem falta. Muitos são aqueles que, hoje, graças ao seu trabalho, conseguiram transplante e sobrevida. Fiquei imaginando que Deus reuniu quem já recebeu alguma doação, familiares e admiradores que o aplaudiram na chegada. Parodiando Manuel Bandeira, em seu poema "Irene no Céu": Chico se apresentou no umbral do paraíso. "Dá licença, posso entrar? E São Pedro bonachão: você não precisa pedir licença. A casa é sua!" Vai em paz, Chico!

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