quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Um olhar de fé, um porto seguro

Participei, em agosto, do Mutirão de Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Realizado em Joinville, Santa Catarina, teve momentos especiais. Um dele foi quando, no encerramento do evento, aconteceu a consagração dos comunicadores à Nossa Senhora Aparecida, a estimada Padroeira do Brasil, mas também das grávidas e recém-nascidos, rios e mares, do ouro, do mel e da beleza.
Quando se completam 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora da Conceição pelos pescadores há muito o que se aprender com a fé popular que irradia daquele centro de evangelização. O momento de oração iniciou com a retirada do manto e da coroa que tradicionalmente conhecemos. Despida, a imagem é de um corpo negro, de uma mulher grávida.
A pequena imagem foi descoberta, inicialmente, pelo corpo e só bem mais tarde pela cabeça. Dom Darci Nicioli, referencial de Comunicação da CNBB, fez a motivação dizendo que sempre se perguntou porque, ao encontrar um pedaço de imagem, o pescador não atirou de volta ao rio. Afinal, era apenas uma parte de uma estátua, sem valor algum.
Mas o pescador tinha um "olhar de fé ". O suficiente para aguardar e ser recompensado com a outra parte. Conta a história que ele a envolveu em sua camiseta de trabalho, primeira proteção daquela que se tornaria a Padroeira do Brasil. Uma cobertura para não ser esquecida, já que também da família do pescador viria o primeiro lugar sagrado onde seria venerada pelo povo, assim como seu primeiro manto trabalhado.


No mesmo evento, duas estandes era dedicadas à Aparecida. Uma delas à televisão, que já alcança o território nacional e busca fazer seu trabalho de evangelização. No outro, o Memorial, ainda em formação, mas já com mais de uma centena de imagens de cera, representando figuras que fizeram a história do Santuário, assim como de muitos que contribuíram para se tornar o que é hoje - uma referência de fé.
Este ano, muitos são os caminhos que levam à Aparecida. A motivação do encontro dizia que havia uma explicação para Nossa Senhora não ter seu filho no colo: "para receber em seus braços todos aqueles que dela necessitam."
A consagração terminou quando lhe restituíram o manto e a coroa. Elementos que o povo lhe deu como adereços, numa justa e singela homenagem. Mas fiquei com a impressão de que aquela imagem - desnuda - era mais significativa. Uma mulher negra e grávida, cheia de sonhos e preocupações: uma humanidade que, no ir e vir de seus problemas, volta os olhos para o lugar onde fica a mãe de todos, numa súplica por um abraço e um colo que se torne um porto seguro de fé.
(Foto: imagem de Nossa Senhora sem o manto e a coroa)

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