Dunkirk é um filme pesado. Pesado e triste. Uma síntese se apresenta em duas frases emblemáticas - do comandante que organiza a evacuação: “muitas vezes a distância para casa acaba sendo muito longa”. E do garoto que faz de tudo para sobreviver e quando fica estendido no tombadilho de uma embarcação de turismo que o resgatou apenas murmura: “me levem para casa!”....
Mais de 300 mil homens foram encurralados no norte da França e seus comandantes sabiam que pela lógica macabra da guerra poderiam ser sacrificados pois ainda não acontecera a tentativa de invasão à Inglaterra. Os recursos da marinha e aeronáutica seriam reservados para a proteção da ilha. Homens jovens são transformados em massa de manobra, mas, se recuperados por embarcações civis, teriam aumentado o seu prazo de validade.
Olhar para os jovens que andavam pelo shopping na noite em que assisti o filme apertava o coração imaginando que no jogo pelo poder econômico e político estariam nas frentes de batalha, muitas vezes até pensando na obrigação “moral” de defender uma causa. Mas ceifando ou aleijando o futuro de tal forma que suas chagas até hoje ainda não cicatrizaram.
Há um dito segundo o qual “o primeiro que morre numa guerra é a verdade”. Pode ser, mas na sequência morrem também os sonhos. Em determinado momento já não importa mais lutar, mas sobreviver. As feridas físicas têm impacto semelhante ao das marcas psicológicas. São terríveis para quem viveu os horrores dos bombardeios, mas também calam naqueles que recebem um corpo ferido, um corpo sem vida, ou ainda um corpo em que a vida perdeu o sentido.
Os meninos que se fazem de homens indo para a guerra são os mesmos que choram encolhidos pedindo para voltar para casa. Em ambos estão certos: acreditaram naqueles que lhes incutiram sonhos e razões de sobra para fazer uma guerra. Na prática, no entanto, acaba sendo uma escola de sobrevivência, onde não se premiam os mais capazes, mas o destino sorteia aqueles que vão viver.
A guerra é a violência exacerbada. Sacrificar jovens por pendências internacionais é o mesmo que aceitar a reclusão em casa porque perdemos o controle sobre a violência nas ruas. Nos dois casos, os jovens são sacrificados: na guerra correm atrás de um sonho que vira tortura. Nas ruas, atrofiam seu amadurecimento: em muitos casos querem apenas encurtar distâncias, o simples e elementar direito de voltar para casa.
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