O diálogo da Igreja com outra religiões é um tema que hoje tem muita força, porque em muitos países o convívio diário com outras culturas religiosas é uma realidade, com as suas riquezas, mas também com os seus desafios. Falando do contexto mais português, onde a religião católica é maioritária e a própria cultura é tradicionalmente ligada a ela, as outras religiões e confissões cristãs, se bem que existem, acabam por não ter uma expressão muito grande e nisso até podemos dizer que vivemos num ambiente bastante tranquilo e respeitoso, comparando com outros países onde isso não sucede.
Antes de mais nada, talvez seja uma informação desnecessária, mas pode ajudar a esclarecer algumas coisas que talvez não se saibam. Da parte da Igreja, há duas vertentes de diálogo com outras tradições religiosas. Uma é o Ecumenismo, o diálogo entre várias Igrejas cristãs, entre a Igreja católica e as Igrejas protestantes, a Igreja anglicana (sobretudo em Inglaterra) e as Igrejas ortodoxas (sobretudo na Europa de Leste, Grécia e Médio Oriente). Há outras Igrejas cristãs não católicas, mas apontei as mais numerosas e conhecidas. Todas têm como principais elementos em comum a fé em Jesus Cristo, sua morte e ressurreição, a Bíblia, o batismo e a celebração da Eucaristia.
A outra vertente de diálogo é o diálogo inter-religioso, com as outras religiões não cristãs: Judaísmo, Islamismo, Hinduísmo e Budismo, falando das mais representativas. Estas religiões têm em comum a crença no Divino, quer como Deus, quer como um princípio de Unificação, etc.
Quando se fala destes temas, imediatamente vêm à memória a história passada de guerras e violência, a inquisição, cruzadas, colonização, excomunhões mútuas... É evidente para nós que continuam a haver infelizmente guerras e violência a vários níveis, motivadas por algumas visões da religião mais extremistas, que acabam por ser o maior contratestemunho daquilo que a religião pode trazer à humanidade que é a paz, fraternidade, ajuda aos desfavorecidos...
A Igreja não condena um bom muçulmano, ou um bom judeu ou um bom anglicano. Na sua própria religião, cada um deve viver de coração o que lhe é transmitido. As religiões têm em comum, apesar das diferentes linguagens e culturas, o amor a Deus, o respeito e o serviço aos outros, sobretudo os pobres e necessitados, e a construção da paz.
Nos últimos anos, tem havido um esforço de diálogo entre igrejas cristãs e outras religiões não para se converterem uns aos outros, mas para partirem de bases comuns, a fim de ajudar a promover a paz e a justiça e a tornar visível o amor de Deus pela humanidade. Todos se foram dando conta que é impossível o regresso ou a existência de uma única religião, mas que é a partir das diferenças que se pode dar o maior sinal de unidade, rezando juntos e trabalhando juntos pela paz, pelo perdão e pela justiça.
Há, por fim uma questão: se o essencial é o bem, a paz, a boa consciência e a ajuda aos outros, como é que a Igreja diz ser a religião verdadeira? Não são todas iguais? E o mesmo em relação às outras religiões que se afirmam verdadeiras? É sempre uma questão de entender o que quer dizer a Verdade. A Verdade é que todos os homens são amados por Deus e chamados a amá-Lo. Quando isto acontecer plenamente, acontece o chamado Reino de Deus, que se está a construir, mas não está completo. A Igreja é o sinal que expressa, de forma humana - e por isso também contraditória, como todos nós - esta união que há de acontecer. Não há coincidência entre Reino de Deus e Igreja, mas a Igreja é e deveria ser cada vez mais o referente desta Verdade que está entre nós.
Texto de António Valério,sj
em http://amar-tesomente.blogspot.com.br/2009/02/cristianismo-e-outras-religioes.html - síntese.
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