terça-feira, 6 de maio de 2025

Obrigado, Francisco, por tua teimosia

O provérbio português “os carvalhos morrem de pé” aplica-se a Franciscus, argentino, batizado como Jorge Bergoglio. O homem que, desde sábado, está sepultado em Santa Maria Maior, no coração de Roma, preenchia, como poucos, o requisito de força, dignidade e resistência diante de qualquer situação, ou mesmo, em frente à morte. Seu último desejo - de que apenas seu nome papal estivesse sobre a lápide - coroou a história de uma liderança inclusiva, tendo incomodado quem desejava (e ainda deseja) fazer da igreja Católica um clube de poucos privilegiados…

A compreensão ao invés de dogmas. Com um humor peculiar que permitia brincar com os brasileiros em diversas situações: “Vocês são ladrões... roubaram meu coração!”; “é muita cachaça e pouca oração” ou, referindo-se à sua escolha, “se Deus é brasileiro, o papa é argentino”. Francisco não foi apenas a referência de uma religião, mas de fé, em Deus e na humanidade. Foi a voz daqueles que precisavam ser visibilizados: gays, mulheres, separados, indígenas, povos naturais…

Fechou um ciclo desde que apareceu pela primeira vez na sacada do Vaticano brincando que seus irmãos cardeais o haviam buscado no fim do mundo, pedindo que rezassem por ele. Marcou com a imagem mais emblemática da pandemia, ao caminhar sozinho em busca de bênçãos para a humanidade na praça de São Pedro. Fazendo a sua Páscoa, na culminância da Semana Santa, quando chegou até o meio do povo, ouvindo sua gente, quebrando protocolo, olhar do pastor que não vê multidão, mas uma determinada senhora, ainda no hospital, que o acompanhou durante toda a internação, e trazia rosas amarelas…

Das entrevistas que vi, depois da sua morte, a que confessou precisar das pessoas me impactou. Deveria residir no apartamento papal, porém, por razões psicológicas, optou em viver em “família”, na casa de Santa Marta. Onde seu corpo foi exposto pela primeira vez, confirmando que estamos órfãos. Órfãos de pai, de avô, de tio que, até o último momento, pediu proteção para as vítimas da guerra. Como disse Bono Vox, “um homem extraordinário para um tempo extraordinário”. Obrigado, Francisco, por tua teimosia!

Já se disse que João Paulo II era para ser visto; Bento XVI, para ser ouvido e, Francisco, para ser tocado. Um tango é a justa despedida: “Francisco, te lloram las calles” (“Francisco, te choram as ruas”). A angústia tomou conta de quem rezou pela sua serenidade, depois do esforço, ao pedir: “não estacionem o coração na tristeza”. O coração que gostaria de não vê-lo partir, quando a gratidão seca as lágrimas por nos contagiar com o bem. Ele mesmo garantiu: “Não vivemos sem meta, sem destino. Somos esperados, somos preciosos. Deus nos preparou o lugar mais digno e belo: o Paraíso”. Segue à nossa frente. Vá em paz, Francisco!


domingo, 4 de maio de 2025

Simplesmente assim: Andanças

Quando dobrares na esquina,

Mudarás o horizonte e o sentido da tua rua.

Ainda não sabes o que te espera,

Apenas acreditas que serão outros rumos,

Outros sonhos, os voos da tua imaginação. 

Restará afagar as memórias,

No distanciamento de tudo o que ficou

Confinado a um passado que embalou

Tuas andanças e o rumo dos teus tenros anos.


Ali encontras as casas com varandas, 

Onde as flores se debruçam por sobre as calçadas. 

As crianças brincando são ecos da

Algazarra que dá razão à vida.

Renovada por onde se anda no cosmos, 

Quando o mundo se ajusta para caber

Dentro das expectativas de cada um.

Ao expandir o olhar pelo que se torna universal, 

Deixam-se as pegadas que carregam 

A poeira de todas as nossas andanças…


sábado, 3 de maio de 2025

Cinco Linguagens do Amor

 Leituras e lembranças:

O livro "As Cinco Linguagens do Amor", escrito pelo pastor americano Gary Chapman, explora diferentes possibilidades pelas quais as pessoas expressam e experimentam o amor. É um exercício de autoconhecimento e de aprendizado no que se refere às pessoas marcantes em nossas vidas: esposos, esposas, filhos, pais, amigos…

Chapman sugere que alguns elementos são referenciais para melhorar os relacionamentos familiares, em especial, entre casais. Começa por “Palavras de Afirmação”, quando se expressa afeto e apreço por elogios, palavras de encorajamento e afirmações verbais. Segue com “Tempo de Qualidade”, onde se dedica atenção exclusiva e focada ao parceiro, realizando atividades juntos e criando momentos de conexão.

Na sequência, vem “Receber Presentes”, como a forma de expressar amor por presentes significativos e atenciosos, que demonstrem que a pessoa foi lembrada e valorizada. Segue “Atos de Serviço”, em que se demonstra amor mediante ações práticas que ajudem e facilitem a vida do parceiro(a).

Por fim, o “Toque Físico”, ao se expressar e receber amor através do contato físico, como abraços, beijos, carícias e proximidade. A vida afetiva e sexual sendo contemplada como laços criados depois do período inicial da paixão. Vencido este período, que define em torno de dois anos, é crucial estabelecer novas relações, baseadas no respeito e afetividade.

O livro argumenta que cada pessoa tem uma linguagem do amor primária, aquela que ressoa mais profundamente e faz com que se sinta verdadeiramente amada. Quando os parceiros aprendem e falam a linguagem do amor um do outro, seus laços emocionais se fortalecem e seus relacionamentos se tornam mais satisfatórios.

O livro não é “bíblia”, mas referencial para reflexão. Foi motivo para uma Escola de Formação do Movimento Familiar Cristão. Deixei claro que já terá prestado um grande serviço se conseguir fazer com que as pessoas se disponham a parar para pensar suas relações. O objetivo final é que importa: ajudar os casais a se comunicarem melhor, a cultivarem um amor duradouro e significativo. (Com pesquisa da I. A. Gemini).


sexta-feira, 2 de maio de 2025

Doces afetos, doces lembranças…

Envelhecer é o tempo em que

As memórias revisitam o passado,

Especialmente, quando preparavas

As folhas secas para a infusão de um chá.

O ritual de reunir plantas ou ervas

Fazia a existência não se importar em esperar.

Desde o momento em que a água estivesse no ponto

E a paciência para imergi-las, ainda borbulhante,

Mexendo com a leveza de uma bênção

E abafando, como quem preserva o Sagrado...

 

Aguardar pelo tempo que o relógio não marca,

Pleno da intuição do momento,

Onde apenas o sentimento trama os minutos e as horas.

Ao levantares a tampa do bule aloçado,

O aroma emerge, penetrando por todos os sentidos.

Cumpre-se a solenidade em que as mãos postas

Oferecem aos céus a xícara em que depositas

O líquido precioso com o qual partilhas a vida.

 

Um dia, quando o chá aquecer as lembranças,

Sentarei na cadeira que embala meus sonhos,

Repousando meu corpo no aguardo.

Ao sorver goles de encantamento,

Com as mãos aquecidas em torno da louça,

Revivo momentos em que esperei por ti 

Para compartilhar doces afetos, doces lembranças. 

Tomando chá… ou, quem sabe, um café,

Fumegante com o perfume da saudade!


terça-feira, 29 de abril de 2025

Nos ecos da Semana Santa…

Por muito tempo, o período da Semana Santa, que inicia no domingo de Ramos e vai até a celebração da ressurreição de Jesus, pelos cristãos, era a culminância da Quaresma. Adequado para a introspecção, o diálogo consigo mesmo, ou seja, a reflexão e a meditação. Nos trabalhos que faço com Comunicação Motivacional, defendo ser a chave para integrar autoconhecimento e a compreensão das emoções, num tempo em que a pressa do “fazer” tirou a capacidade do pensar e planejar a própria vida.

Quando se fala em “reflexão”, está se referindo ao momento de parar, observar pensamentos e sentimentos, e questionar experiências, revisando a própria vida. Podemos nos perguntar: "Por que reagi dessa forma?", "O que essa emoção está tentando me dizer?", "Quais padrões de pensamento estão influenciando minhas ações?". A reflexão ajuda a aprender com o passado, a entender o presente e a planejar o futuro com mais clareza.

Já a meditação é a prática que aquieta a mente e cultiva a presença no agora. Através da meditação, pode-se observar pensamentos e emoções sem nos identificarmos com eles, como se fossem nuvens passageiras no céu das nossas consciências. Essa prática fortalece a capacidade de concentração, reduz o estresse e conecta com uma parte mais profunda de nós mesmos.

Quando se descobre a beleza da prática da reflexão e da meditação, também se consegue fazer a retroalimentação. Pois quanto mais nos conhecemos, mais fácil fica identificar e compreender as emoções. E, quanto mais se cultiva o diálogo interno, mais profundo se torna o autoconhecimento e a capacidade de lidar com o nosso mundo emocional.

Tempos religiosos são propícios para se pautar a vida para além das necessidades imediatas. Infelizmente, a laicização penetrou no campo espiritual e transformou em “técnicas” o que é a capacidade de respirar, transcender o momento presente, angústias e necessidades imediatas. Não apenas o cristão que vivencia os tempos de fé, mas a oportunidade de se conectar com o transcendente no que sonha o espírito e no qual o próprio corpo anseia por serenar…


domingo, 27 de abril de 2025

Simplesmente assim: Desnudar-se

Percorro a ladainha dos meus sonhos

Como quem se joga na profundeza de uma prece.

O murmúrio das minhas intenções

Ganha eco nas palavras intencionadas.

Sem a profundidade do que brota do coração,

O que emerge dos sentidos

Apenas colore o horizonte dos desejos,

Com a ânsia de desvelar os olhos para o Infinito.

 

Denudar-se diante do Eterno é a oração 

Que alcança o espírito, quando se 

Chega mais perto do que transcende a realidade.

A sintonia que beira a perfeição.

A carência dos sentimentos antecipa

A possibilidade de serenar a alma,

Entregando-se ao que nos seduziu 

Pelo etéreo sentido da própria fé!


sábado, 26 de abril de 2025

Inverno Russo, de Daphne Kalotay

"Inverno Russo", da escritora americana Daphne Kalotay, é um romance que tece habilmente o passado e o presente, a Rússia pós-Segunda Guerra Mundial e a Boston contemporânea, através da vida da ex-bailarina do Bolshoi, Nina Revskaya. Daqueles livros que te prende aos poucos, situando, na Boston atual, a idosa e debilitada artista, que decide leiloar sua valiosa coleção de jóias. Cada peça detém memórias vívidas de seu tempo na Rússia, de seus amigos artistas sob o regime stalinista e do segredo obscuro que a levou a fugir para uma nova vida.

A narrativa intercala o presente, acompanhando a organização do leilão, enquanto as revelações surgem sobre o passado de Nina, com a história dela jovem na Rússia. Um mergulho em seu treinamento rigoroso no Bolshoi, relacionamentos complexos, o ambiente opressivo e a crescente paranoia da era stalinista. A história explora temas como amor, perda, traição, redenção e o poder duradouro da arte em meio a turbulências históricas.

O texto de Kalotay é elegante e envolvente, com personagens bem construídos e cenários ricamente detalhados. Equilibra suspense e emoção, conduzindo o leitor por segredos e revelações até um final surpreendente. "Inverno Russo" é um livro cativante que combina mistério, romance e drama, oferecendo uma visão fascinante do mundo do balé russo e da vida sob um regime totalitário. É uma leitura recomendada para quem aprecia ficção histórica bem escrita, com personagens complexos e uma trama envolvente.

Após tê-lo comprado num sebo, emprestei ou sugeri para poucos. É uma obra que possui toque refinado de algo que se degusta como um apreciador que reserva seu tempo para acarinhar um bom vinho... Um mergulho em dois mundos distintos, onde se surpreende com a descrição das paisagens e a densidade dos personagens. Ficção histórica é a literatura que compensa as lacunas dos registros oficiais, onde, quase sempre, estão ausentes as vivências das pessoas comuns que, de fato, sangram para descrever a própria vida. (com pesquisa da I.A. Gemini)  

Este e outros textos em manoeljesus.blogspot.com.