A compreensão ao invés de dogmas. Com um humor peculiar que permitia brincar com os brasileiros em diversas situações: “Vocês são ladrões... roubaram meu coração!”; “é muita cachaça e pouca oração” ou, referindo-se à sua escolha, “se Deus é brasileiro, o papa é argentino”. Francisco não foi apenas a referência de uma religião, mas de fé, em Deus e na humanidade. Foi a voz daqueles que precisavam ser visibilizados: gays, mulheres, separados, indígenas, povos naturais…
Fechou um ciclo desde que apareceu pela primeira vez na sacada do Vaticano brincando que seus irmãos cardeais o haviam buscado no fim do mundo, pedindo que rezassem por ele. Marcou com a imagem mais emblemática da pandemia, ao caminhar sozinho em busca de bênçãos para a humanidade na praça de São Pedro. Fazendo a sua Páscoa, na culminância da Semana Santa, quando chegou até o meio do povo, ouvindo sua gente, quebrando protocolo, olhar do pastor que não vê multidão, mas uma determinada senhora, ainda no hospital, que o acompanhou durante toda a internação, e trazia rosas amarelas…
Das entrevistas que vi, depois da sua morte, a que confessou precisar das pessoas me impactou. Deveria residir no apartamento papal, porém, por razões psicológicas, optou em viver em “família”, na casa de Santa Marta. Onde seu corpo foi exposto pela primeira vez, confirmando que estamos órfãos. Órfãos de pai, de avô, de tio que, até o último momento, pediu proteção para as vítimas da guerra. Como disse Bono Vox, “um homem extraordinário para um tempo extraordinário”. Obrigado, Francisco, por tua teimosia!
Já se disse que João Paulo II era para ser visto; Bento XVI, para ser ouvido e, Francisco, para ser tocado. Um tango é a justa despedida: “Francisco, te lloram las calles” (“Francisco, te choram as ruas”). A angústia tomou conta de quem rezou pela sua serenidade, depois do esforço, ao pedir: “não estacionem o coração na tristeza”. O coração que gostaria de não vê-lo partir, quando a gratidão seca as lágrimas por nos contagiar com o bem. Ele mesmo garantiu: “Não vivemos sem meta, sem destino. Somos esperados, somos preciosos. Deus nos preparou o lugar mais digno e belo: o Paraíso”. Segue à nossa frente. Vá em paz, Francisco!