domingo, 15 de agosto de 2021

A Eternidade com meus pais...

Boa tarde, Pai. Completou dez anos que o senhor nos deixou. Pensei em dar notícias, contando o que está acontecendo pela nossa terrinha, assim como pela família, nesta Crônica de uma tarde de domingo. Claro, o senhor nem sabe o que é isto. Inventei pra fazer companhia aos amigos nestes tempos de pandemia. Pois é, temos uma pandemia. Uma gripe muito forte, que andou por todos os cantos do Mundo e matou muita gente, especialmente os mais velhos. Nossa Senhora! Se o Senhor voltasse, não reconheceria, e se contasse, não acreditaria nas encrencas que esta doença causou.

O senhor lembra dos campos dos Carúccio? Local por onde o senhor e a dona França andavam para colher chás, especialmente na Sexta-Feira Santa, quando procuravam Macela? O lugar para onde, quando a Leonice precisava deixar o Renan, arrebanhava mais alguns guris e levava para se divertirem jogando futebol ou correndo pelos campinhos? Voltavam prontos para um banho, jantar e dormir… Ali estão construindo dois bairros novos, um se chama Quartier e o outro Quinta do Lago, na área de onde as olarias tiravam o barro para tijolos e telhas e as garças se recolhiam ao anoitecer.

Lembra das inúmeras vezes que tivemos que levar o senhor e a mãe para atendimento na Unimed, ainda nos fundos da Santa Casa, com muitas dificuldades para estacionar? Pois, agora, fica bem pertinhos de casa, logo do outro lado da sanga, que os antigos chamavam de Sanga da Dona Sinhá, em direção à avenida Fernando Osório. A mãe ainda esteve ali, para exames. Na volta, passei no lugar onde construíam a rua que ligaria as duas áreas. Brinquei que, em seguida, poderíamos pegar a cadeira de rodas e trazê-la a pé. Seria um bom passeio. Infelizmente, ela não chegou a ver isto...

As crianças, então, eram a Alessa e o Murilo, da Vânia... a Maria Eduarda e a Loci, do Miro; a Amanda e a Tamires, da Vanessa, que tem uma fila de filhos e chegavam o Luís, o Carlos e a Camila. Acho que completei… Vieram o José Manoel, pelo lado do Miro, a Júlia e o Pedro, pela Vânia. A Leonice também tem netos: o Miguel, da Daniele, e o Mathias, do Renan. Veja só, pai, até o Miro já tem um netinho, seria, então, tataravô… Eles estão espalhados por Caxias, Florianópolis e Montividiu (em Goiás). O senhor teria viagens para fazer e uma penca de crianças para cuidar!

Lembra da feira livre? Sexta pela manhã, com a temperatura boa, saiam o senhor e a mãe. Tinha uma que o senhor dizia ser “mais forte” (mais bancas) e a outra era mais pobrezinha… Mas, com tempo bom, era um ritual sagrado. Devagarinho, o senhor com o carrinho, a mãe com as mãos para trás, “batiam o ponto” com os vizinhos que encontravam e trocavam um dedo de prosa. Agora, tem feira às quintas, na frente da igreja da Santa Teresinha. Ia gostar. Uma das bancas é especializada em tudo que era do seu gosto: frios, como torresmo, linguiça e morcilha… e outra de bolachinhas!

Não sei se no Céu se consegue ter saudades. Os anos passam e as memórias ficam impregnadas de lembranças, especialmente em datas como hoje e o seu aniversário. Eu e a Leonice, que ficamos, só temos que agradecer. Deus nos concedeu o privilégio de sermos amados, do jeito que vocês sabiam amar. Agora estão em vantagem, com um maior número de parentes e amigos. Nosso amor e a saudade são um caminho por onde se faz uma viagem em que se espia pela janela. Sabendo que, em algum momento, se desembarca na estação em que poderei passar a Eternidade com meus pais…

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