domingo, 18 de julho de 2021

A falta e o luto: os órfãos do coronavírus

As redes de televisão contaram histórias de crianças que nasceram durante a pandemia. Em muitos casos, foram partos normais, com os cuidados necessários para evitar a contaminação da mãe e de quem estava chegando ao mundo com tantas incertezas. Mas houve casos de mães que contraíram o vírus durante o parto e precisaram de tratamento especial; aquelas em que a febre resultou em mulheres sem condições de acompanhar o nascimento e, até mesmo, de casos em que a luta para salvar as duas fez com que unidades de tratamento intensivo fossem transformadas em sala de parto.

Casos em que o final acabou não sendo tão feliz… em que a mãe perdeu a vida ou o atendimento não teve condições de salvar a criança. Também, as sequeladas, que não conseguiram atender ao filho. Agora, levantamentos iniciais mostram que 45 mil crianças e adolescentes já perderam ao menos um dos pais. O caso da Cristina Sabino Gentil, arrimo de família e auxiliar de serviços gerais, morta aos 45 anos de covid, que deixou desamparadas a Rebeca, o João Lennon, o Jonathas e a Críssia, com três meses e desfrutou do aconchego dos braços da mãe por apenas uma semana…

Ravi não é um nome comum. De uma língua antiga, o sânscrito, significa o sol, luz, poder… A matéria da Michele Ferreira, no Diário Popular, contou a história da Eliziane e do Marcelo que sonhavam em ter um filho. O pai, no entanto, fazia tratamento oncológico e foi vítima do coronavírus. Mas o desejo não deixou de se transformar em realidade. Tiveram condições de se precaver e tornar possível a fertilização in vitro. De fato, a mãe fez o renascimento e transformou a dor em celebração da vida que se torna presente no fruto de um grande amor.

Histórias emocionantes em que a vida prevalece e fortalece relações familiares que se mobilizaram para dar suporte. 60% das crianças e adolescentes no Brasil encontram-se na faixa de pobreza e se escancara a realidade de que são vulneráveis, talvez não ao coronavírus, mas aos problemas sociais e, até, ao abandono que já se fazia sentir em muitos espaços públicos. As estrelas que vão reforçar o firmamento vão deixando olhinhos sem poderem compreender a dor de uma saudade e a ausência que não marca um tempo definido, mas que se prolonga, ao menos, por toda uma vida...

Um dito meio mórbido afirma que “ao nascer, começamos a morrer”. Mesmo com todos os problemas que se pode enfrentar, ainda assim, a esperança é de se viver o suficiente para constituir uma família, ou acompanhar o desenvolvimento daquela em que se entrou no mundo. Mas quando faltam pessoas que deveriam dar o suporte para o desenvolvimento dos mais novos, especialmente as mulheres, que se transformam em pai e mãe, nas famílias da faixa da pobreza e da miséria, está se colocando em risco o futuro de toda uma geração.

Há um lugar vazio em muitos lares de onde partiu quem teria sido referência por um longo tempo. Deixa sem chão aqueles que dependiam de sua mão estendida para aprender a caminhar. Expressões como – ele era um palhaço, brincava com as crianças como se fosse uma delas, nunca nos faltou quando a gente precisava, tinha um jeito diferente de olhar para cada um de nós… - são comuns em matérias onde se tenta entender a perspectiva e o futuro dos que perderam a mãe ou o pai. Muito cedo, alcançam a vivência da falta, sem a compreensão do que seja a dimensão do próprio luto...



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