Meu desejo por viajar fica mais no “desejo” do que na realização. Invejo amigos que embarcam em jornadas curtas ou longas, o suficiente para lhes dar ânimo e disposição e enfrentar a rotina do dia a dia. Infelizmente, me enquadro no grupo dos “bem-intencionados” - sabendo que é deles que o inferno está cheio! O jeito de sublimar é percorrer, com o olhar de uma câmera, paisagens apresentadas por diversos programas – já citei aqui – como “Mundo visto de cima” e “Brasil visto de cima”. Em muitas noites, companheiros para apaziguar o espírito e cair nos braços de Morfeu…
Minhas viagens acontecem pelos textos. As mal traçadas linhas que apresento nas mídias impressas e digitais são a minha liberdade de espírito. Embora admire, não tenho preocupação com a métrica ou estilo, mas apenas em deixar fluir aquilo que, creio, a maior parte das pessoas comuns - como eu - pensa e gostaria de colocar no papel. Recentemente, olhando algumas preciosidades publicadas por poetas e cronistas em páginas de espaços literários dei-me conta do quanto meus escritos são toscos. Mas, para o meu estilo, não será certamente aí que reside um pouco da minha identidade?
Não escrevo para receber elogios, escrevo por necessidade. Numa ocasião, admirei a casa de uma amiga que caprichou na escolha do estilo de cortinas com que fez a decoração. Meu primeiro pensamento foi: vou fazer algo igual. Passado um tempo, dei-me conta de que não poderia, não teria nada a ver comigo e ficaria estranho no cantinho onde me escondo. Assim como as palavras, que seduzem, encantam e, quando jorram em textos, representam o que vão despertar em quem curte, manda mensagem e alimenta meu espírito que necessita nem que seja de um sinal de fumaça...
A palavra ausente quando se despede de quem se ama: pessoa com a qual se conviveu por muito tempo; filhos que tomam o próprio rumo; pais que, sem dizer nada, cerram os olhos e, numa dor sentida, deixam marcas da saudade. O tempo vivido e o tempo passado calejam nossos corações com as marcas da ausência. Não tem mais jeito de seguir da mesma forma, se já diminuiu o número daqueles que nos acompanharam no início da jornada e a gente sente que este peso torna nosso caminhar mais lento - amparados nas inúmeras bengalas da vida - e o olhar mais sereno...
O andarilho Pedro dança na escuridão fria de uma região inóspita e clama pela “aurora!”. A busca da satisfação e do prazer, para além dos limites linguísticos, a expectativa do belo e do imaterial. Grito da palavra não expressa, o escrito dando a sensação de que não disse tudo, o entendimento e não o sentido, que se torna a nova palavra e o seu ressignificado! Instante em que o ser humano percebe as suas carências. Porque dançar, cantar, abraçar, olhar, sorrir fazem o conjunto de toda a comunicação que a palavra não reveste... o coração que se contenta com o próprio silêncio!