domingo, 27 de maio de 2018

Um tempo para envelhecer...


Seu Osmar já tem 93 anos, a mãe vai fazer no dia 1º de junho. Ambos lúcidos, embora a mãe tenha dificuldades em se expressar, enquanto o seu Osmar fala pelos cotovelos! Nesta idade, infelizmente, a mãe é a regra, seu Osmar a exceção.
Entrei no banco atrás dele numa manhã. Estava preenchendo um envelope para depósito quando me abordou. Também queria fazer um depósito. Ajudei, notando a atenção, a presteza como usou a senha e o cuidado como revisou o comprovante.
Saímos juntos à rua. Atento, atravessou na faixa de segurança em busca do ponto de ônibus. Ia para o centro. Eu não sabia onde ficava a parada. Os taxistas informaram. Precisava voltar. Orientado, fez o sentido inverso, com a mesma precaução.
Não sem antes, ainda no banco, tecer comentários a respeito de temas da atualidade. Bem informado sobre política, administração pública e assuntos relacionados à Vila Silveira, onde moramos, há quase 60 anos. Reside sozinho, tendo uma família de vizinhos que o "adotou" e zela pelo seu bem-estar. De resto, dispensa outros cuidados.
Seu Osmar é uma figura que dá uma santa inveja. Foi dono de comércio e manteve boas relações com a vizinhança. Como "botequeiro" fazia as "informações" circularem na vila... A esposa faleceu e preferiu ficar na mesma casa. Pode ser encontrado na rua ou dentro das grades da residência esperando por um papo. E isto ele é: um bom papo. Lembra dos antigos moradores, mas também sabe os que estão vivos e pede notícias.
Cuidando da mãe, já acamada e cadeirante, impossível não fazer um paralelo. Admirar a natureza que faz o mesmo ser humano, numa situação, precisar de tantos cuidados; noutra, ainda que em idade avançada, mostrar tanta autonomia. Não há regras para envelhecer, porém sabe-se que é o tempo de colher o que se plantou.
Um homem e uma mulher que trabalharam muito e garimparam o direito de sobreviver. Mas o corpo os atendeu de forma diferente. Mostrando que esta é mais uma etapa da vida - a última - que também merece ser vivida intensamente. O que demonstram quando olham com veemência para quem lhes dá atenção.
Confiam que vizinhos, amigos e pessoas de boa vontade podem auxiliar no banco, a encontrar uma parada de ônibus ou gastar uns minutos numa boa conversa. O tempo que fluiu lhes deixou marcas, mas elas já não importam mais. Pedem, simplesmente, um pouco de carinho e atenção. Receita que pode ser a diferença quando - no caso dos dois - querem apenas terminar a vida com dignidade. Um tempo para envelhecer, em que, vencido o cansaço e a desilusão, alcancem, enfim, a paz!

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