domingo, 28 de maio de 2017

Padre Carlos Rômulo

No dia em que o Vaticano anunciou que Montenegro tinha um novo bispo - de Pelotas - monsenhor Carlos Rômulo, convidei colegas de aula - Lyl, Mônica, Maurício e Michel - para ir à capela do Seminário fazer uma oração agradecendo pela vida do nosso professor e colocando nas mãos de Deus o futuro que o esperava.
Dias depois, numa segunda etapa de estudos - padre Rômulo conosco - fomos ao mesmo local  confirmar que, aquele que foi companheiro, animador, mestre, merecia que repassássemos a energia das nossas preces para que, até em momentos difíceis, não se sentisse só, mas amparado pelo amor que conquistara.
Contei, então, a história de um pastor missionário no interior da África, que fazia um dia de viagem até cidade maior para buscar dinheiro e suprimentos. Numa ocasião, encontrou um rapaz ferido. Cuidou dele e levou-o a um hospital. Soube, então, ser um ladrão que tinha feito um assalto mas, na divisão do saque, brigara e levou a pior.
O pastor disse os motivos que o traziam à cidade. E continuou com a vida normal. Algum tempo depois, encontrou o ladrão, que contou uma história: soube que chegara e convocou parceiros para assaltá-lo. Seguiram-no. Quando dormia, atacaram. Surpresos, se depararam com 12 "anjos", ao seu redor, zelando por seu sono!
Esta história, o religioso contou para sua congregação, já na Europa. O mais velho da comunidade perguntou quando teria sido. Confirmada a data e hora, contou ter sentido necessidade de rezar pelo pastor. Passou pela casa dos parceiros e foram para a Igreja. Quantos eram? Aos poucos, levantaram-se, emocionados, exatamente 12 homens!
Durante muito tempo, depois que se tornou bispo, dom Jayme Chemello ainda era chamado de padre Jayme. Havia toda uma história, um caminho trilhado. Muitos anos em que as pessoas - especialmente os casais - se acostumaram com o pastor que tinha na orientação espiritual um carisma especial.
50 anos depois, o olhar se volta para um jovem padre, que será sagrado bispo no dia 4 de junho. A caminhada recém iniciou e, por muitos anos, pessoas o chamarão de padre Rômulo, na certeza de que a marca "padre", "pai" não se apaga. Afinal, ser "pastor" é cuidar de gente.
A oração de amigos e anônimos garante o sucesso da sua missão. Ir para a "Diocese da Alegria" o compromete com o pedido do papa Francisco, de que, em meio a tantos e graves problemas sociais, sua ação sinalize o caminho de homens e mulheres ao procurar abrigo em seu rebanho, que será, com certeza, lugar de fé e de esperança. (na foto, ao centro, no Seminário Diocesano, acompanhado de padres que atuam naquela casa e seminaristas, no tríduo preparatório aos 78 anos da instituição)

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Ensino básico: princípio da cidadania

O Lorenzo é daquelas crianças vivas que, quando chego no muro para um papo com seus pais – o Marcos e a Nice – dá  um jeito de fazer parte da conversa. Passei a chamá-lo de “formiguinha” e ele, prontamente, rebateu me chamando de “formigão”. A mãe  achou demais e tentou acertar o tratamento, pedindo respeito. Olhou-me com a serenidade da inocência, e corrigiu: “seu formigão”!
O Lorenzo faz parte de um grupo de crianças de língua  afiada, com presença de espírito para rebater com humor as provocações. Outro dia, ao invés  de “formiguinha”, chamei-o de “feioso”. Olhou pra mim e corrigiu: “feioso, não, formiguinha”. Junto com o Bernardo e a Júlia completam quatro anos, com o direito de frequentar uma escola pública, com tudo aquilo que, especialmente os pais, sabem serem benefícios: convívio social, aprendizado, abrir novos horizontes.
Mas não foi  fácil. Todos tiveram que batalhar por uma vaga. No que muitos pensam ser um privilégio, mas que não é, apenas o cumprimento de um dos direitos constitucionais. Ao chegar nesta idade, os pais não deveriam ter a preocupação se teriam ou não um lugar garantido, mas apenas exercer seu direito. Não é assim. Hoje, no Brasil, cerca 2,8 milhões de crianças estão fora da sala de aula.
Porquê? Simples, os pais se preocupam, mas o Estado não cumpriu seu papel: planejar e colocar recursos à disposição. Onde está o dinheiro? A  verdade o senhor e a senhora estão vendo todos os dias: no bolso de políticos e administradores sem escrúpulos, que negam direitos para usufruir de mordomias.
Num noticiário, jurista defendia penalizar políticos e administradores de forma mais contundente para não serem tentados a desviar recursos dos cofres públicos.  Citou exemplo de pena com reclusão de 10 anos. A forma diferenciada manteria na cadeia o criminoso pelo dobro do tempo, devolvendo o que desviou, com correção.
O Lorenzo, o Bernardo e a Júlia tem país alertas, dispostos a correr atrás e lutar por seus direitos. Mas há  aqueles que a sociedade degradou para as periferias e não têm nem voz, nem vez. Lutar contra a corrupção e a impunidade – em todas as instâncias e em todos partidos – é  ajudar as crianças a recuperar a dignidade.
Rubem Alves pediu a mudança de referencial: educação correta ensina às crianças que “manter a dignidade é  mais importante do que juntar dinheiro”. Não deixar que morra a energia da infância e a confiança de que os adultos cuidam para lhes dar um futuro feliz é preparar os cidadãos que podem fazer uma sociedade diferente.

sábado, 20 de maio de 2017

Foi o tempo...

Foi o tempo...
Que marcou meu rosto e deixou estes sulcos
para lembrar do passado.

Foi o tempo...
Que fez meu sorriso mais cansado
e uma imensa ternura que se esconde
por detrás de cada gesto de carinho que,
agora, vivo com mais intensidade.

Foi o tempo...
Que me fez caminhar mais lentamente
e ter a certeza de que olhar para trás
só tem sentido se ainda puder seguir adiante.

O tempo não me cobrou pedágio.
Não me pediu sacrifícios.
Não condicionou cada passo - acertado ou não -
com o qual construí meu destino.

Quando posto minhas mãos em prece,
tenho certeza de que foi generoso comigo.
Fez de mim o retrato do que eu fiz com a vida.
E deixou a certeza de que pode ser cúmplice,
mas cobra o direito de zombar de nossas pretensões.

Aprendi, quando encaro o tempo, que não é ele quem passa,
mas nós que o deixamos escapar por entre os dedos.
O tempo perdido e não encontrado é o tempo da saudade.

Pode magoar, nos deixar melancólicos, mas provoca a viver:
dá sentido ao caminhar.
Mais serenos, com mais dificuldades, mais experientes.
Mais próximos da finitude e da paz.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

A luz no final do túnel

As discussões a respeito do que é necessário para mudar a situação brasileira afunila para um pensamento: educação. Parece simples, mas não é. Bastariam recursos em grande escala? Um início, mas não: a educação é capaz de abrir leques que, se não forem enfrentados, novamente caracteriza desperdício do dinheiro público. Um deles, com certeza é aquele em que o cidadão forma princípios éticos e morais.

Migrantes que vieram para o Brasil dizem que seus países eram pobres - até miseráveis - mas não enfrentavam a violência existente aqui, hoje, um componente psicológico do caráter brasileiro. Crescente número aceita a lei lhe sendo favorável e, na prática, acredita que a violência é um jeito de conseguir alguma coisa ou, até, de fazer "justiça". A moral e a ética podem até ser relativizadas. Exemplos não faltam.
Pessoa parecendo do interior. Pede informação, Conduz a vítima até próximo de um carro. Em pouco tempo é cercado, empurrado para dentro do veículo. Recebe choques, desmaia. Acorda, um telefonema de mulher o chama pelo nome e diz que o grupo controla sua família. Deve retirar o que tem no banco. Vai até uma agência, atordoado, retira suas economias, dão algumas voltas, é deixado à beira de uma rua.
O repórter passou pela rua depois de uma manifestação pela greve do dia 28, quando o espaço ficou ocupada por galhos de árvores e pneus queimados. O inusitado, a população mesma estava limpando, apagando o fogo e retirando os entulhos. Na volta, a surpresa: os mesmos "cidadãos", viraram badidos: cobravam um, dois e três reais de "pedágio" para motos, carros e veículos maiores passarem pela alternativa a uma rodovia.
Beira de estrada, cena rotineira: carro estragado. Sempre tem um bom samaritano que para a fim de prestar auxílio. Recentemente, a surpresa: na grande Porto Alegre, já no meio da noite, ao voltar para o interior, a cena merece a mesma atenção, com uma diferença: os incautos que param para prestar socorro são assaltados. Ficam no local com um carro que foi roubado de uma vítima anterior.
Ficção? Não. Situações que já nem frequentam as páginas de polícia porque as pessoas não acreditam em solução ou tem medo de, ao enfrentar o crime, sofrer represálias. Encastelados, perdemos o sentido da solidariedade e da corresponsabilidade. Muros, eletrônicos, alarmes indicam que se perdeu a batalha para a violência e falta de senso de valores. Algum dia, no passado, erramos o caminho, tornando-nos uma sociedade atordoada. Reencontrar o fio perdido faz a diferença para que a luz no fim do túnel seja de esperança e não um trem em sentido contrário!

 

sexta-feira, 12 de maio de 2017

Obrigado, Mãe!

Acariciar tuas mãos é percorrer
caminhos que o tempo esculpiu.
Os anos passaram e da juventude
restaram marcas em sulcos de doces lembranças.

Teu silêncio abriga vozes dos que partiram.
Ao fechar os olhos, encarnas a
serenidade de quem vive a paz
e contemplas caminhos que levam ao Paraíso.

Obrigado, Mãe!

Tua existência alimenta o meu dia a dia.
Hoje, estás mais próxima de reencontrar quem amastes,
onde, com certeza, Deus tem um cantinho especial para receber seus anjos.

Quando partires, para mim, restará a saudade. E as lembranças.
A certeza de que conviver contigo me deixou mais perto da Eternidade!

segunda-feira, 8 de maio de 2017

Sindicatos, associações, igrejas...

As mobilizações recentes contra os pacotes que o governo federal organizou na política, previdência e regulando as relações de emprego fizeram a sociedade redefinir o papel dos agentes envolvidos, especialmente daqueles que não estavam em cena ou confundidos nos ambientes políticos partidários.
Ponto um, como recurso de lembrança, todo cidadão faz política, a "arte do bem comum". Fazer política partidária é outra história. Este cidadão pode ser atraído a participar de grupos como sindicatos - defender interesses da sua categoria; associação de bairro - resolver problemas da vizinhança; ou religião, congregar quem leva a vida para celebrar nas igrejas e traz para as ruas ideiais de paz e de justiça.
São papeis distintos. Importantes, socialmente, mas que não podem e não devem ser confundidos. Nem misturados. A política, em si, deve dar abrigo a todas as causas. O lugar onde todos se sentem acolhidos e encontram respaldo para discutir e encontrar soluções para seus problemas.
Há momentos de mobilização geral - este é um deles - porque "um bem maior se levanta". É preciso defender especialmente quem já não tem forças, coragem, ou informação suficiente para lutar. Mesmo nestes momentos, é preciso manter a própria identidade. Não deixar de ser "sindicato", "associação", "igreja" para fazer política.
Em todos os casos, sempre existem os inocentes... e os nem tão inocentes assim... Historicamente, políticos profissionais manipulam entidades com falsos discursos em que incorporam falas, mas mantêm fechado um cofre de maldades! As instituições aprenderam - da forma mais difícil - que devem participar, mas não se deixar seduzir.
Em aula, lembramos o surgimento do PT, no ABC Paulista. Respaldados pelo bispo, utilizou espaços da igreja, enquanto as ruas eram ocupadas pelos militares. Com o restabelecimento da democracia foi hora de cada um tomar o seu rumo. Houve quebra de pratos: uma posição lúcida e ponderada foi vista como abandono das lutas. Muitos se afastaram, até abandonaram a Igreja.
A tutela é inconveniente: as Igrejas não devem controlar o processo político ou os políticos manipularem religiosos. O poder político seduz. Victor Hugo dizia: "entre um governo que faz o mal e o povo que o consente há uma cumplicidade vergonhosa". Consciência crítica muda representantes que elegemos. Somos corresponsáveis também por fazer mudanças que se anunciam, não como ação de partidos, mas de uma sociedade que volta a se organizar para exigir seus direitos.

 

domingo, 7 de maio de 2017

A pobreza das nossas omissões

Te amo...
Quantas vezes apenas duas palavras ficaram aprisionadas nos olhos que te envolveram,
mas não tiveram coragem de libertar-se de preconceitos que pareciam antiquados?
Eu te amo...
Seria melhor assim...
Mas também faltou vencer a timidez e dizer o quanto queria que sentisses a vontade que tinha de manter-te em meus braços.
Eu te amo muito...
Com um sorriso tímido acenastes.
Só então consegui murmurar: "eu te amo..."
Não sei se a brisa levou minhas palavras até teus ouvidos.
Estavas longe.
Na etérea luz do dia que adormece em busca da paz, voltastes teus olhos.
Não. Não eram necessárias as palavras ditas.
O silêncio também tem o poder de dar significado à pobreza das nossas omissões.

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Princípios para a comunicação cristã

Toda a comunicação inicia pelo silêncio.
Meditação, oração, reflexão. Termos utilizados no meio religioso ou nos espaços leigos. Tempo de amadurecer e formatar uma mensagem, de tal forma que ela tenha o destinatário adequado, a forma condizente com o meio e a estrutura trabalhada para atingir objetivos.

Seu corpo é seu melhor meio de comunicação.Os meios de comunicação são instrumentos a serem utilizados. Então, o primeiro meio é a nossa própria estrutura física - gestualidade, expressão corporal, olhar, sorriso...

Invista na sua formação - física, espiritual e intelectual.Muitos e bons "mensageiros" foram relegados ao esquecimento porque investiram num e deixaram os outros de lado. Estão interligados e precisam de igual atenção para que não haja um desenvolvimento capenga.

Você é um formador de opinião. Então seja coerente: seu anúncio precisa ter o respaldo do seu testemunho.Ouvi uma ocasião que "temos uma bela mensagem, mas maus mensageiros". Consciência da capacidade de influenciar é fundamental, mas saber que as pessoas acompanham de forma especial aqueles que se destacam e querem ver estes dois elementos andarem juntos: anúncio e testemunho.

Postura não é apenas um jeito de colocação do seu corpo, mas uma atitude de vida.Há muitos exercícios para adquirir postura. Também para relaxamento físico. E aqueles que são de respiração para uma melhor atuação. Mas este conjunto precisa estar em sintonia com as convicções assumidas, inclusive religiosas.

Comunicação tem a ver com persuasão, não com proselitismo.Argumentos não faltam para o discurso religioso. A capacitação dá a competência para atuar. Mas cuidado, pregar é a arte de convencer, não de tentar doutrinar à força.

Comunicação não se faz fora da realidade. Mesmo a religiosa.Cada comunicador é um ser inserido na sua realidade cultural. A própria religião precisa se valer da realidade local para adequar sua pregação. Não sendo assim, perde a sintonia com as necessidades das pessoas, consequentemente, muitas pregações entram por um ouvido e saem pelo outro.

Religião é prática coletiva. Fé é atitude individual. A comunicação precisa atuar nas duas áreas.Pessoas que vão às igrejas levam a sua fé para a sua prática religiosa. No entanto, há elementos de fé que ficam na sua individualidade e que, muitas vezes, preferem não externar. Lidar com estes elementos demanda sensibilidade e perspicácia, dosando elementos que são da razão, mas também com a emoção.

Respeite, admire e fique atento a quem faz a boa comunicação.Temos homens e mulheres que são excelentes comunicadores dentro de nossas igrejas. Muitos o fazem por uma prática ligada à vivência do seu dia a dia. Este fazer igreja, especialmente nos meios populares, é uma fonte de aprendizado para quem motiva comunicadores.

A Igreja não anda no ritmo das mudanças sociais, portanto saiba trabalhar com todos os segmentos da Igreja.Repito o que ouvi de um bispo: "tenho que caminhar de tal forma que auxilie a acelerar o passo de quem anda mais devagar, mas também de conter aqueles que são mais apressadinhos". A Igreja Católica ainda vive o impacto de uma sociedade que deixou de ser rural para ser urbana. No meio rural, o que era dito do púlpito era lei. Hoje, precisa encontrar seu lugar referencial no meio urbano.

Comunicação em grupo

O que é comunicar? Tornar comum, estabelecer comunhão, participar da comunidade através da troca de informações. Comunicar não é só gesticular, falar, escrever, mas sim estabelecer uma ligação de compreensão entre quem emite e quem recebe.

Fatores constitutivos de um ato de comunicação:
- Contexto: O ambiente onde se encontra a comunidade.

- Mensagem: aquilo que se quer transmitir.

- Emissor: é aquele que envia a mensagem (pode ser uma única pessoa ou um grupo de pessoas).

- Receptor: é aquele a quem a mensagem é endereçada (um indivíduo ou um grupo), também conhecido como destinatário.

- Canal de Comunicação: é o meio pelo qual a mensagem é transmitida.

- Código: é o conjunto de signos e de regras de combinação desses signos utilizados para elaborar a mensagem: o emissor codifica aquilo que o receptor irá descodificar.

Postura de comunicação:
- Quando alguém pergunta - Escutar - Calo-me; Respeito, silêncio; Olho o outro; Concordo ou me mantenho neutro...

- Quando questiono - Questões claras e pontuais.

- Quando reformulo - (Atitude de Compreensão) -

- "redizer" o que o outro disse - Eco, Clarificando, Apoiando, Interrogando...

- Quando falo - Regra dos 5 "Cs": Curto, Conciso, Claro, Completo, Compreensível.

Condução de Reuniões
Determinar a finalidade da reunião

Explorar o assunto - Recolha de fatos e dados

Fazer esboço da discussão - Contextualização

Limites de tempo para os vários pontos

Preparação de materiais necessários

Assegurar discussão eficaz - experiências

Promover interesse e envolvimento do grupo

Estabelecer conclusões - pontos de acordo e desacordo

Observar reações e mudanças de opinião...

Verificar se existe compreensão e aceitação

Obter empenho para o plano de ação

Identificar os responsáveis pelas ações

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Uma reforma inoportuna

Apenas um casal: dona Joana e seu Henrique. Chegaram à aposentadoria com mais de 40 anos de trabalho, nem sempre com carteira. Portanto, tiveram que esperar os 60 e 65 anos, respectivamente. Dona Joana continuaria suas atividades domésticas, seu Henrique pensava conseguir outro trabalho.
Mas se até para os novos era difícil emprego, para um idoso, quase impossível. Neste meio tempo, cuidaram de um filho que faleceu. Conseguiram seu benefício e juntaram uma renda de três salários mínimos, cerca de R$ 2.800,00. Não tinham do que reclamar. A casa era própria e ainda gastavam pouco com remédio.
Seu Henrique faleceu. Dona Joana não conseguiu ficar com toda a renda, mas com um salário a mais, benefício do marido. Foi quando caiu e começou seu martírio: virou cadeirante, dependendo do uso de fraldas geriátricas e suplementos. Os dois salários tornaram-se insuficiente para pagar cuidadores. A família pequena e todos trabalhando. Fechar as contas ao final de um mês passou a ser uma tortura.

Nomes mudam, mas todos conhecem histórias parecidas. A grande massa que sobrevive da previdência não é a que exorbita nos seus vencimentos, chegando a valores que pessoas como o casal nem consegue entender, pois retiram dos cofres públicos mais de R$ 30.000,00 (trinta mil reais).
Contentam-se com as migalhas que o governo estabelece de salário mínimo, quando algumas instituições apontam que deveria alcançar, ao menos, R$ 1.800,00 (hum mil e oitocentos reais). O grande "pecado" que está sugando pelo ralo o dinheiro de quem pagou uma vida inteira para ter o direito a uma aposentadoria não se refere aos que ganham salário mínimo ou chegam ao limite máximo da previdência.
Um governo de transição que tem a empáfia de querer marcar pela "competência" às custas das massas não entendeu seu papel na História. As reformas precisam ser feitas por um Congresso renovado pelo voto (eleições de 2018?) e um governo que limpe a máquina pública, freie a corrupção e a sonegação. Ainda, se resolvam as pendências na Justiça e a "cassação" de figuras que grudaram e se perpetuam no poder.
Instituições - inclusive Igrejas - aprovaram a greve para frear os descalabros. Mas há outra parte: esquecer discursos vazios e politiqueiros e convencer a maioria silenciosa. A mudança depende das pessoas de bem serem mais ousadas, esquecerem diferenças e que tem jeito de fazer um Brasil melhor. Se não foi possível para dona Joana e seu Henrique, ao menos que o seja para nosssos filhos e netos, as próximas gerações.