Recentemente, uma africana que chegou ao Brasil fez uma triste declaração: não tinha vivido tão intensamente o preconceito racial até que desembarcou no país. De diversas formas, em hotéis, restaurantes, locais públicos, sentiu que a cor da sua pele afetava - e muito - a forma como era tratada. E não era para melhor.
Conhecia sua manifestação porque muitos conterrâneos angolanos vieram tentar a vida deste lado do Atlântico. Mas, como sempre, somente quando sentiu na carne a discriminação deu-se conta do quanto era dolorosa.
Convivi com três padres angolanos - Quintino, Augusto e Martinho - e outro durante pouco tempo - José - quando tive a certeza de que precisava aprender com gente que saiu de uma guerra civil sem perder a espiritualidade e a alegria em ritos onde a fé é demonstrada por cores, gestualidade e vivências que apontam para a esperança e confiança no direito de viver.
Numa conversa, um senhor disse: "o preconceito é inerente ao ser humano". Não tive condições de concordar. Mas também não tive coragem de discordar. Lembrei de pessoa próxima que dizia: "não sou preconceituoso. Preconceito é coisa de negro!" Forma pouco gentil de brincar com algo sério e expressar o seu preconceito!
Desde que os amigos citados voltaram para Angola tenho um sonho: ir a algum dos países africanos de fala portuguesa. Num primeiro momento, pensei, ajudar a formar lideranças, especialmente, no que se refere à comunicação.
Hoje, penso diferente: quero ir para aprender. Conviver para entender o quanto ainda precisamos caminhar para derrubar as barreiras do preconceito. Desarmar espíritos não é somente aceitar seres com cores diferentes. As diferenças acontecem porque alguns se julgam melhores e no direito de impor o que pensam por guerras, economia, meios de comunicação ou religião.
Há aqueles que já estão entre nós há mais tempo e, sabemos, subsistem em condições difíceis. E aqueles que migram. Os que aculturamos precisam redescobrir sua identidade. Os que chegam, serem recebidos como membros da mesma raça - a humana - que nos faz iguais, independente de gênero, país de origem, cor ou religião.
O brilho nos olhos de quem valorizar a própria cor (e enquanto ser humano) ou de quem é acolhido faz pessoas melhores por saber que estão na trilha certa de realizar seus sonhos. De outro lado, o preconceito faz vítimas ao condenar à depravação mental e espiritual homens e mulheres que abrem mão do direito de serem solidários.
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