Possivelmente você não conhece o Ceron - Centro de Radioterapia e Oncologia. Pessoas que não precisaram atendimento para câncer desconhecem a atividade de uma empresa da área da saúde que, na região sul do Estado, presta serviços, especialmente nas áreas da quimioterapia e radioterapia. A Santa Casa de Pelotas é uma das principais clientes e atrasou seus pagamentos. Consequência: suspensão de atividades.
É uma briga de gente grande em que, infelizmente, as explicações técnicas e financeiras não resolvem o problema de quem não têm alternativa e depende do tratamento para sobreviver. Pode parecer exagero, mas numa entrevista de televisão, uma senhora era taxativa: "estão colocando mais um prego no nosso caixão!"
Tive experiência com esta instituição quando meu pai fez radioterapia. Nosso tratamento era particular, mas fizemos relação com pessoas que vinham de municípios vizinhos, através de ambulâncias, com o mesmo atendimento. Na recepção acompanhei gestos de puro carinho: menina em tratamento, sentava ao lado da mãe, com bolsa de maquiagem. Enquanto esperava, usava espelho para retocar o rosto, se voltava para a senhora, que baixava a revista, e sorria. A filha retomava seu "trabalho", a mãe esquecia a publicação e ficava embevecida contemplando a pequena maquiadora.
O outro caso era de um rapaz que levava a mãe idosa. Ao sentar para a espera, a senhora dormitava. Ele ficava ao lado e segurava sua mão. Quando despertava, olhava para as mãos, tendo a certeza de que continuava amparada, levantava os olhos e fitava confiante o filho. Ambos sorriam e, gradativamente, a mãe retomava a sonolência.
As lembranças voltaram por dois motivos: leitura das notícias a respeito da suspensão do serviço essencial, pois lida com a sobrevivência das pessoas. E do que fez a Leka - junto com a Gilse, responsável pelo nosso almoço - ao escrever meu nome no marmitex que busquei - como todos os dias - mas, em dois, de forma especial, por flores que desenhou: uma tulipa e uma gérbera.
Em comum? um gesto de carinho. Administradores e homens públicos também precisam de quem lhes faça as refeições, têm filhos, mães idosas... Precisam aprender a balizar decisões que impactam na vida das pessoas também pelos números. Mas não só.
Uma canção diz: "fica sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem flores." Que pode ser um desenho, uma maquiagem, a certeza de ter alguém ao lado. A certeza de não estar só. Confirma o que os antigos diziam de que, ao receber energias positivas, o Universo conspira a nosso favor. É preciso sentir e, de alguma forma, retribuir!
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