Há um pensamento na tradição popular que diz mais ou menos isto: alguns homens traçam um círculo ao redor de si e protegem a sua família; outros fazem o mesmo, mas ampliam sua abrangência, protegendo mais pessoas; mas existem aqueles que são predestinados e podem proteger a muitos, sem que seja necessário contá-los.
A ideia é citada pelos antigos quando querem definir o caráter de um homem: os últimos são os que fazem do viver a arte do conviver, observando necessidades e imprevistos, sem descuidar de nenhuma das carências daqueles que os cercam. Seu oposto são os homens que fazem de todas as lutas – políticas, religiosas, esportivas – um autêntico combate contra moinhos de vento, esbravejam inutilmente, sem a capacidade de encontrar no outro um sentido para viver.
Meu recente trabalho com o atendimento à terceira idade tem provado que o passar do tempo, obrigatoriamente, não precisa ser o de amarguras e torturas. Por exemplo, uma pessoa que perde a visão, não abdica de ser feliz! Para isto, não foge de seus momentos de silencia físico e interior, mas faz com que estes deem sentido às festas, estudos, passeios, equilibrando o existir do dia a dia. O homem que se acostumou ao silêncio mostra-se um bom companheiro e também um mestre da culinária, com um toque mágico em suas mãos, que fazem de salgados e doces a tentação que extingue toda a possibilidade de regime.
As muitas mulheres silenciosas – de todas as idades, mas de olhares atentos – não se contentam apenas em ficar em casa esperando a morte chegar. Colocam como perspectiva o salutar convívio e o espírito que transborda de emoções quando as rugas nos rostos e os calos das mãos são abençoados pelas vidas que geraram, educaram e das quais, agora, esperam apenas uma réstia de amor como recompensa.
Todos eles não se contentam em ficar com suas famílias, ou o que lhes restou delas. Também não querem a vida daqueles que ficaram na mesmice da rotina da vizinhança. Olhar curioso, resolveram fazer do Mundo seu espaço de exploração. Correm riscos, podem até se machucar, mas têm muito mais histórias para contar. São privilegiados por adquirirem mais experiência e, especialmente, têm a alma lavada e mais leve porque não deixaram toldar seus horizontes: com unhas e dentes os alargaram e resultaram em pessoas que, na luta pela felicidade, podem até perder uma batalha, mas, com certeza não perderão a guerra - o maior de todos os círculos: ser e fazer de quem se ama feliz!
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