A mãe esteve hospitalizada na Beneficência Portuguesa. Uma noite antes da internação, depois da medicação para dormir, perguntei se queria rezar. Alcancei-lhe um anjinho que está na sua cabeceira, que, acionado, reza a oração do “Pai nosso”. Peguei sua mão e a mão do meu sobrinho, enquanto uma voz de criança balbuciava a prece que o próprio Jesus ensinou: Pai nosso...
Foi um momento mágico. Depois da oração, o sinal da cruz e o beijo no anjinho, com um rosto feliz e sereno. Assim como o pai, que nos seus últimos dias nos dava boa noite, disse: "boa noite, mãe". Com uma lenta, mas intensa resposta dada já no limiar do sono: "boa noite, meu filho".
A força da oração está, exatamente, em auxiliar a enfrentar um determinado momento difícil, nos aproximar das outras pessoas, além de nos aconchegar a Deus. Aí reside a força para enfrentar os dias que estamos vivendo: acompanhar uma pessoa doente não é um fardo difícil de ser carregado, pois dela, quase sempre, já recebemos muito e, agora, nos pedem, apenas, que não as abandonemos quando declinam seus dias. Acredito no dito popular: Deus não dá o fardo maior do que a capacidade que temos de carregá-lo.
Voltar para casa, quase sempre, é a sensação de que se venceu uma batalha, mas que muitas outras precisarão ser enfrentadas. A força está em ver uma melhor alimentação, alguns resmungos, ou até o sentimento de que a fala é coerente, quando vence 86 anos de idade.
Então, na calada da noite, vale a pena balbuciar uma oração que tem cheiro dos tempos de infância, que embalaram nossos sonhos, nossas esperanças e decepções, e no final de nossos dias, a tranquilidade para aceitar as consequências da vida que vivemos e a aproximação do encontro com Deus. Ao unir as mãos e fechar os olhos para a prece de boa-noite - ou ao ouvir a voz de um pequeno anjo - fazemos uma das grandes experiências místicas do nosso dia-a-dia e repetimos palavras que se jogam para a eternidade: “Pai nosso...”
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