O Super Chef 2011 do programa Mais Você (diga-se Ana Maria Braga e louro José), da Rede Globo, teve como vencedor o gaúcho Charlie Colonetti. Tímido e quieto, soube vencer, num primeiro momento sendo capaz de circular pelos dois grupos contendores, mas também sabendo se definir, depois, assumindo suas simpatias e sua dificuldade em entender as artimanhas que eram feitas por alguns dos integrantes do jogo.
Acompanhei diversas etapas do concurso e sempre me atraiu a atenção o fato de que o gaúcho sempre procurava, nos momentos em que um especialista estava presente para fazer oficinas, sugar o máximo possível de informações a respeito da culinária ou do prato específico.
Já disse aqui que gosto de cozinha, embora sendo um cozinheiro limitado às receitas das quais gosto. Mas vejo que muitos fazem da preparação de um alimento, autênticas obras de arte e, outros, que vão mais longe, autênticos rituais mágicos que encantam pela seleção dos produtos, temperos, ingredientes.
Pois era isto que eu via no Charlie: o prazer de tratar cada um dos ingredientes como uma especiaria que iria entrar na panela. O respeito no trato de cada um de seus componentes, assim como a certeza de que o carinho com que colocava em cada etapa de seu trabalho faria a diferença.
Sei que o cozinhar no dia-a-dia pode ser extremamente enfadonho. Mas aqueles que ali estiveram presentes me pareciam ir além de um simples ato de cozinhar. Faziam com prazer e viviam cada momento com tamanha intensidade que despertavam, para além da curiosidade, a alegria de partilhar de um alimento.
Sim, porque nenhum daqueles pratos teria significado se, depois, alguém não pudesse sorver seus elementos com o prazer característico de quem ergue os olhos aos céus e apenas pode dizer: "hum"!
Lembrei da cozinha de muitas de nossas "mães" e de nossas "nonas", onde o sentido da acolhida estava presente e se tinha prazer de sentar à mesa para poder assistir àquele festival gastronômico, com direito a uma provada do molho, pedacinhos de toucinho fritos, uma primeira fatia de pão, ainda quente, com um pouco de manteiga se derretendo por seus costados ...
Quando me dizem que cozinhar pode ser um ato religioso, eu acredito. Quem coloca a mão na panela, está olhando para além dos ingredientes que ali vão, aos poucos, se misturando. Está seguindo a liturgia que agrega uma família ou amigos em torno da mesa, num ritual que celebra os sabores da vida e entusiasma corações.
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