Duas matérias foram destaque na semana que passou: a diminuição do número de suicídios no Estado e uma pesquisa entre adolescentes e jovens a respeito da dificuldade de estabelecer relações afetivas mais permanentes. Em ambos os casos, um elemento em comum: encontrar um sentido que se quer dar para a própria vida.
Embora os números continuem altos e assustadores, começa-se a entender o porquê de pessoas atentarem contra a própria vida. Em especial, entre os jovens. Dizem que, além de um ato de desespero, procurar a morte é um ato de coragem que nem todos conseguem realizar. É o sentimento da nulidade: nada há que eu possa fazer, nada vejo como perspectiva de vida, não há ninguém para quem eu signifique alguma coisa, não há sentido em viver.
Por outro lado, jovens que precisam, ao menos, de um arrimo. Contava um pai que sentiu a falta do filho no final do dia, havendo passado duas horas do horário em que chegava em casa. Ligou para o celular: “tudo bem, filho?”. “Tudo bem, pai”. Foi saber, muito tempo depois, que um simples telefonema restituiu a confiança ao filho e impediu um suicídio. O filho confessou que tinha dificuldade de encontrar alguém em quem confiar. Mas que a preocupação do pai ao menos tinha lhe mostrado que não estava só.
Já o que ocorre nas relações afetivas é que elas exigem compromissos. Compromissos que o Mundo de hoje nos mostra como “desnecessários e inibidores da nossa liberdade”: corpos existem para serem usados e descartados. Infelizmente, a linha de raciocínio é muito próxima à do suicídio: conviver exige desprendimento, ousadia para superar a si mesmo, capacidade de se colocar disponível.
Em ambos os casos, amadurecer é construir caminhos. Cada um constrói os seus, mas ninguém é capaz de estabelecer sozinho: a presença de um familiar, de um amigo, de um parceiro ou parceira mostra que o sentido da vida está exatamente em conviver. Numa sociedade umbigocêntrica, este é o diferencial entre quem deseja passar apenas pela vida ou sorver cada minuto como se fosse único.
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