Tornou-se rotineiro: na segunda-feira, o balanço do final de semana aponta o número de acidentes com vítimas fatais e assusta. Alguns perguntam: “qual é a novidade?”, mas não há como se acostumar a uma realidade que dizima jovens, especialmente homens, cada vez mais novos. Os números arrepiam: morre nas estradas, por ano, o mesmo número de pessoas que morreram em três anos de guerra declarada no Afeganistão!
Garotos com 16 anos, como um caso recente, em que o pai contava: “ao sair, ele me disse: eu volto. E sorrindo, acrescentou: nem que seja nas tuas preces”. Terrível vaticínio. Restaram lembranças e preces, porque a presença física, nunca mais. Vivi algo semelhante com o Vinícius, quase 20 anos atrás, beirando os 15 anos. Não queria ir pra Serra, ficaria comigo. Mas, na véspera, decidiu o contrário e telefonou para dizer: “eu volto”. Não voltou. Ou melhor: recebi de volta o seu corpo e uma saudade dolorida.
Dizem que estas perdas é que vão cicatrizando a nossa pele e que doem permanentemente, deixando, além das marcas, a sensação de que diminuímos pela angústia e pela dor. Não há como esquecê-las e muito menos como curá-las definitivamente. Mas há como preveni-las. Não consigo entender o pai que julga um filho de 16 anos amadurecido para lhe entregar um carro. Mesmo que me contestem, creio que é aquela necessidade de se sentir “macho”, “meu filho é homem, assume perigos”. E vão dizer o quê quando devolverem seus corpos e ficar aquele sentimento de que eles nunca mais irão voltar?
Dias atrás, ouvi que pessoas adultas compensam frustrações com “brinquedos próprios para a idade”. O carro é um deles. Há pessoas que o vestem como uma armadura ou uma máquina de guerra. E saem pelas ruas procurando desafios: adrenalina que vem com a velocidade, o álcool, drogas, os rachas. Que pena, o que deveria ser apenas um final de semana tranqüilo e capaz de propiciar repouso e reposição das forças, acaba colocando um nó na garganta e o desejo de que “eu volto” seja, mais do que uma intenção, uma realidade que nos devolva aqueles que amamos e que não queremos perder.
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