Pelotas repetiu uma catástrofe anunciada: na quarta-feira (28 de janeiro), durante cerca de dez horas, caiu sobre a área urbana uma chuva prevista, em média, para dois meses. Fazia esquecer a estiagem, mas colocava em risco todas as regiões baixas, que cortam a cidade. Estando, em média, a cerca de sete metros acima do nível do mar, a cidade foi sendo construída em áreas mais altas, como o centro, Fragata, Três Vendas e Areal. Mas o avanço urbano levou a uma ocupação legal, mas desaconselhável do ponto de vista ecológico, dos pontos em que existiam os banhados, regiões naturais para a absorção do excesso de chuvas.
Num primeiro momento, estas “esponjas” foram transformadas em sangas, que cortavam a cidade e auxiliavam no recolhimento das águas. Falaram mais forte, novamente, interesses políticos e econômicos, e a população de baixa renda ocupou estas áreas, que foram aterradas. Some-se isto o fato de que se multiplicaram o asfalto, o cimento, os telhados etc.
Infelizmente, mesmo os canais que sobraram não foram suficientes para dar vazão ao volume de água que caiu naqueles três dias. Na verdade, nenhum sistema coletor conseguiria sanar os problemas causados pelo excesso de água que encobriu canaletas, ruas, casas, arrastando árvores, postes, provocando, enfim, uma destruição que impressionou e chocou a quem viu ao vivo, ou assistiu pela televisão.
Há duas questões a serem levantadas: a primeira é de que estas áreas de risco precisam ser, terminantemente, transformadas em espaços desocupados e se manter assim porque são de interesse público e não se pode infringir àqueles que vão morar naqueles locais a repetição da desgraça. E uma ação pronta e rígida por parte do setor público. Em segundo, mais do que consciência, é necessário penalizar quem joga lixo de todo o tipo nas canaletas – sacos, pneus, móveis, pedaços de árvores – a única forma de serem contidos, pois já se sabe que não basta o alerta.
Fica uma lição: as águas são traiçoeiras. A seca dos últimos dias não pressentia as chuvas que caíram sobre o município. Juntando com as águas que vieram da serra fizeram em breve espaço de tempo a barragem do Santa Bárbara recuperar seu nível e ultrapassá-lo em quase um metro e meio. Neste momento, o melhor é não haver heroísmo: infelizmente, muitos daqueles que perderam a vida acreditavam poder vencer a força e a esperteza das correntes, mesmo que fosse por uma boa causa. Ficaram na intenção e aconteceu a repetição de uma desgraça.
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