domingo, 18 de maio de 2025

Simplesmente assim: Perfeição

Retratos e pinturas deveriam envelhecer

Com quem lhes serviu de inspiração.

As mudanças seriam percebidas aos poucos,

Acentuando-se na passagem das estações do ano,

Sentindo que o tempo percorrido

Cinzela a pele, preparada desde a Eternidade,

Para receber os sulcos que tramam imagens

Sem conseguir enganar o destino.

 

Quando a superfície estiver recoberta

Por desenhos aparentemente distorcidos, 

Numa imagem surrealista,

Ganha força o sorriso em que os olhos emolduram

Os vincos que os contornam e reinventam formas.

Entalham as referências de uma vida:

Os caprichos do artista que não

Se preocupa em se curvar à simetria,

Esculpindo mistérios com o olhar sobre 

O que a própria história ainda não contou…


sábado, 17 de maio de 2025

“Temporada de Cura no Ateliê Soyo”, de Yeon Somin.

Leituras e lembranças:

Na vertente literária que chega do Oriente, a Coreia do Norte tem sido pródiga em revelar jovens talentos. É o caso de Yeon Somin que, por lá, faz sucesso publicando livros e na produção para televisão. No recente “Temporada de Cura no Ateliê Soyo” conta a história de Jeong-min que, após sofrer uma crise, isola-se em casa. Por acidente, pensando em entrar num café, entra num ateliê de cerâmica chamado Soyo. 

Passa a interagir com pessoas que têm suas próprias dificuldades e feridas: um adolescente pré-vestibular, uma senhora recém-viúva, uma jovem com inseguranças na carreira e um homem que decide mudar completamente sua trajetória profissional. Através do trabalho com a argila e da convivência, os personagens encontram um caminho para desacelerar, processar suas dores e construir perspectivas de vida. 

O ambiente do ateliê é uma metáfora para a própria vida, como o lugar de expectativas, falhas, novas tentativas e a necessidade de moldar o futuro com paciência. Assim como o lugar, o livro é sensível e acolhedor, abordando temas como burnout, saúde mental, amizade, família e a busca por recomeços de forma delicada e inspiradora. A escrita de Yeon Somin mostra-se leve e cativante, capaz de proporcionar leitura reconfortante, que acalma e oferece profundas reflexões sobre a vida.

A cerâmica é elemento metafórico, ilustrando o processo de cura e transformação dos personagens. Assim como a argila precisa ser moldada com cuidado e paciência, a vida e as emoções também exigem tempo e atenção para se curarem e “descobrirem” novas formas. Segura pela mão quem já vivenciou ou se identifica com sentimentos de exaustão, isolamento ou necessidade de encontrar novo caminho.

A leitura é comparada a assistir a um k-drama (ou dorama, as novelinhas orientais) mais conceitual, com foco no desenvolvimento dos personagens e em temas profundos, o que pode agradar a quem aprecia narrativas mais introspectivas e menos focadas no romance tradicional. "Temporada de Cura no Ateliê Soyo" oferece uma experiência de leitura terapêutica, provocando o leitor a refletir sobre seu próprio ritmo de vida, a importância das relações humanas e a possibilidade de encontrar cura e renovação nos lugares mais inesperados. (Com pesquisa da i.a. Gemeini).

Este e outros textos em manoeljesus.blogspot.com. 


sexta-feira, 16 de maio de 2025

A bênção de ainda respirar

 Sexta com gosto de poesia:


Quando a chuva começar, para no meio da rua.

Ou diminui o passo, entra no ritmo da mudança do tempo

Que marca o breu da noite.

O cheiro da terra molhada preenchendo o ar, 

Na brisa leve que embala o galho das árvores, fará

Sentires o privilégio de estar em sintonia com a Natureza.

Então, não corre ao sentir no corpo os primeiros pingos...


Troca a pressa por chegar pelo gosto de sorver 

A vida que emana das coisas simples,

Escondidas no quotidiano das neuroses e preocupações.

Não te agonies quando raios, trovões e o vento 

Curiscarem, ribombarem, açoitarem.

Andar sozinho sob a chuva é perceber 

Que o Mundo ainda pode ser gentil.

Um momento privilegiado para se ouvir 

Os passos na calçada molhada.

E brincar em suas poças é tudo do que se precisa.


Os pingos que se acumulam sobre folhas e flores

Cachoeiram umas, jogam ao chão as outras,

Desenhando as cores de todas as estações.

O Sol, ao dar a derradeira espiada sob as nuvens,

Será testemunho do teu choro, de ajoelhar-te, de bater palmas. 

Não importa a reação.

Mesmo se apenas quedares em silêncio,

Entenderás que a chuva, removendo a maquiagem, 

O perfume, lava todas as vaidades.

Desafiando a erguer o rosto, fechar os olhos e 

sentir-se aspergido pela bênção de ainda respirar.



terça-feira, 13 de maio de 2025

O urbano e a vila de pescadores

Artigo da semana:

Recentemente, passei uma semana no hotel do SESC, em Torres, no litoral norte. Queria mudar de ares, por alguns dias, mesmo estando aparelhado para preparar algumas palestras que estão agendadas. Para uma delas, precisava ler a obra “As Cinco Linguagens do Amor”, que baseou, recentemente, minha participação numa Escola de Formação do Movimento Familiar Cristão.

O hotel fica encostadinho no rio Mampituba, exatamente ao lado da ponte pênsil, havendo muitas rotas a serem exploradas, de ambos os lados. Estive naquela praia, pela última vez, há cerca de 20 anos. As mudanças, especialmente depois da pandemia, foram muitas. Como a criação da orla gastronômica, no encontro do rio com o mar. Os pontos turísticos da alta temporada valem para quem procura belezas naturais (a Guarita é sempre deslumbrante) ou o "centrinho" comercial, que já não é tão “inho” (pequeno).

Quando fui, início de abril, foi um tempo de "turismo geriátrico". Trabalhava um pouco no início da manhã e da tarde, depois descia para o chimarrão ou um café, quando sempre aparecia alguém para uma conversa. Assim como ao percorrer o caminho até os dois faróis, encontrando pescadores e turistas, sem esquecer as excursões, em muitos casos da serra gaúcha, não faltando as cantorias italianas...

Fui surpreendido ao cruzar a “fronteira”, para Passo de Torres (SC). Ligados por ponte convencional, mas também uma de pedestres, que os antigos chamavam de "pinguela". Para, no máximo, 10 pessoas onde, mesmo os mais valentes, sentem um friozinho na espinha quando começa a trepidar… Do outro lado, um elemento chamou a atenção: é, ainda, uma vila de pescadores e, enquanto do lado de cá se vê, na maioria, idosos "turistando", do lado de lá são famílias aproveitando a orla para negócios, especialmente peixarias.

Todo tipo de pequeno comércio, ao longo do rio, até a barra. Idosos e jovens pescam, alguns por diversão, outros para vender o produto, e uma gurizada se oferecendo como guia turístico, claro, por alguns pilas. Um passeio diferente. A imersão em uma realidade que preserva a simplicidade dos barcos que saem cedo para pescar e de quem espia por sobre o rio os atrativos urbanos de uma cidade grande. Sem se importar em compartilhar o encanto do que permanece muito próximo do que já foi apenas uma vila de pescadores…


domingo, 11 de maio de 2025

Simplesmente assim: Eternamente, filho!

Mãe. Palavra estranha... Como lhe dar um conceito?

O que se encontra em dicionário

Não abrange todo o seu significado.

É como a busca por definir "amor".

A incapacidade de encobrir a essência com palavras

É vencida por um sentimento terno e

Aconchegante, do próprio ser que lhe dá sentido.

De quem a gente esquece de qualquer tratamento adequado 

E dispensa o nome pelo qual a chamaram no Batismo…

Simplesmente, Mãe!

 

Gerar é graça concedida a quem ama ao ponto

De renunciar a uma parte das próprias entranhas.

Uma vida de preocupações por quem

Ensinaste a andar e, quem sabe, a voar...

Sabendo que, bem mais tarde, sentirá a falta

Do abraço que é, em qualquer tempo, um porto seguro. 

Quando partes, semeias um gosto de saudade

Nos lábios de quem fica murmurando preces.

Na tua ausência se aprende que

Para sempre serás mãe… 

E por toda a Eternidade serei teu filho!


sábado, 10 de maio de 2025

Ruy Carlos Ostermann - Um Encontro com o Professor

 

Leituras e Lembranças:

Ruy Carlos Ostermann é uma lenda viva do jornalismo no Rio Grande do Sul. Comentarista esportivo, sem perder a noção de contextualização do tempo em que o futebol (especialmente) era praticado, com plena noção do cenário político e econômico gaúcho. "Ruy Carlos Ostermann, um encontro com o professor", de Carlos Guimarães, é um livro que interessa a quem atenta à história da comunicação no estado, tendo como pano de fundo a figura carismática do professor.

Oferece panorama da trajetória intelectual e profissional de Ruy Carlos Ostermann, um nome fundamental no jornalismo e da academia gaúcha. Através de entrevistas, depoimentos de colegas, alunos e admiradores, além de reproduções de seus próprios textos, o livro permite "encontrar" o professor em diferentes momentos de sua vida. Uma diversidade de vozes, resgate histórico, humanização da figura e, como era o seu feitio, muitas reflexões sobre a Comunicação, passando pela formação de seus profissionais, sem descuidar dos desafios que enfrenta em diferentes contextos. 

Dosando informação com uma de suas características: humor sóbrio, em que o foco regional não perde as características do universal. Para leitores de outras regiões, pode ser até que as referências não sejam familiares, exigindo maior atenção. No entanto, a importância de Ostermann para o cenário da comunicação justifica. Porque possui um tom de homenagem, natural em uma obra como esta, o que pode, em alguns momentos, suavizar possíveis controvérsias ou críticas à atuação do professor.

É leitura valiosa para quem deseja conhecer mais sobre a história do jornalismo e da comunicação no Rio Grande do Sul. Principalmente, para aqueles que foram de alguma forma tocados pela figura inspiradora de Ostermann. É um livro que emociona, informa e convida a refletir sobre o papel do professor e do comunicador na sociedade. Se você teve contato com ele - foi aluno ou ouvinte das rádios Guaíba e Gaúcha - ou se interessa pela área, essa é uma leitura que certamente valerá a pena.

Faz parte das minhas memórias afetivas. Quando frequentava os bancos escolares da Escola de Comunicação da Universidade Católica de Pelotas, já o acompanhava, assim como outras duas estrelas dos comentários esportivos: Lauro Quadros e Paulo Santana. Depois, quando, enfim, passei a ser professor do mesmo curso, contava histórias vividas com o aprendizado da escuta de um filósofo do futebol.


Uma delas era ajudar meus alunos a descobrir que a melhor forma de criar um estilo próprio de texto é iniciar como uma folha em branco. Aprender ouvindo, lendo, observando, quem sabe copiando alguns traços, com a certeza de que a identidade de cada um é, sim, o que se bebe no processo de formação, inspirado em mestres como o sempre lembrado Ruy Carlos Ostermann. (Com pesquisa i.a. Gemini).

sexta-feira, 9 de maio de 2025

Fazer um brinde à vida

Quando se pisam ausências, rememoram-se

Momentos marcantes de uma vida em comum.

Sabores guardados nas lembranças,

Sentindo o odor de ingredientes

Que se persegue, na memória, pelo aroma e o gosto.

Compartilhar receitas do dia a dia, 

Degustar antecipadamente lembranças.

Na doce mistura de sonhos e sedução.

No que, mais do que apenas algo com que se delicia, 

Torna-se o fascínio de um encantamento.

 

O ingrediente que apimenta a saudade,

Se chama ausência,

Presente em muitos e demorados momentos.

Passa pelo manjar feito para agradar ao paladar,

Repleto de intenções, que enleva e,

Fechando os olhos, revisita-se o coração da casa,

Onde a mão manuseia uma espátula

Enquanto o caldo borbulha.


A satisfação de quem encanta os olhos, 

Em prece pela dádiva de um alimento.

No caldeirão, onde o feitiço das mãos mágicas

Transmuta uma simples calda ou um molho,

Intensifica o sabor de um manjar,

Realça encantos que a Natureza 

Ocultou como possibilidades.

Harmonizar sabores é o condão mágico

De quem quer, apenas, fazer um brinde à vida!