terça-feira, 19 de novembro de 2024

Rezemos pela Terra…

O cenário internacional do xadrez político, econômico e militar preocupa. Vive-se a incerteza nas três áreas há algumas décadas. Até aí, nenhuma novidade. Em especial, a partir do momento em que a globalização aboliu fronteiras. Com mudanças que inquietam, pois, num passado não tão distante, havia “mocinhos” contra “bandidos”, que foram “misturados” e hoje não se reconhece quem é um e o que é o outro. As grandes potências esqueceram de ser “boazinhas” para mostrar o que realmente querem: poder e dinheiro.

Referências morais e éticas praticamente desapareceram. As que restam no campo social e religioso foram relativizadas tanto por seus próprios “pecados” (igrejas em que problemas como a homossexualidade foram expostos), quanto por campanhas de descrédito em que “interpretações” justificam atuações e distorção das mensagens de seus fundadores, caso do Cristianismo e do Islamismo. Além do papa Francisco, sobraram poucos (para não dizer nenhum) líder mundial que ainda tem a voz escutada e algumas vezes atendida.

Comentaristas chegaram a dizer que as eleições americanas deveriam ser deixadas para os americanos. Que não nos diziam respeito. É um engano. O comportamento dos Estados Unidos ainda é referência para países que fazem parte do seu quintal de interesses, especialmente através da balança comercial. Com o crescimento da China, surge um novo protagonista que já não se importa com a pressão americana e tem seus próprios satélites. Comprova que a política excita. E pode ser perigosa, assim como a guerra…

Desde a II Guerra Mundial existe o fantasma de uma disputa nuclear. Já foi maior, mas, mesmo assim, assusta pensar que este botão maligno, hoje, está nas mãos da China, Coreia do Norte, Estados Unidos, França, Índia, Israel, Paquistão, Reino Unido e Rússia. Países que defendem a sorrateira máxima de que, “se queres a paz, prepara-te para a guerra”. Imagine se um dirigente detonar a primeira. Acredita que ficará numa só? E o potencial armazenado já é suficiente para acabar com a vida na Terra algumas vezes…

Rezemos pela Terra… É o que resta para todas as pessoas de boa vontade. Num mundo de autoridades ensandecidas - à direita e à esquerda - falar em bom senso parece um sonho. A crença nas lideranças atuais é muito mais por necessidades de se compensar frustrações, especialmente na enrascada da polarização em que nos metemos. Mesmo assim, é preciso falar e praticar a política. Com um detalhe: “Não há nada de errado com quem não gosta de política. Simplesmente, será governado por aqueles que gostam…”


domingo, 17 de novembro de 2024

Simplesmente assim: Feridas

Paridas na terra, as pedras são lágrimas incontidas,

Emergindo no silêncio dos tempos,

Sem pressa, sem prazo, sem lógica…

Rompem as barreiras do que habita as profundidades.

Apenas seguem o curso da Natureza,

Expondo feridas com as marcas de um destino.

O rasgo desvela as entranhas da vida,

A cicatriz do que caleja a própria alma…


sexta-feira, 15 de novembro de 2024

O lugar em que a alma suspira

A música esgueira-se pelo ar.

Acarinha a lágrima que

Marca o rosto do passante desavisado.

Músicos de rua cantam

Um triste Aleluia…

São irmãos.

Ela, mais velha, o incentiva 

Com a proximidade do carinho.

Ele, adolescente, inseguro,

Arrima-se no corajoso olhar da irmã.

 

Enquanto música e voz flutuam,

No íntimo de cada um

Há uma saudade que atravessa o Infinito.

Não é mais a letra que extasia.

As dobras da existência se confundem

Com um lampejo de Eternidade.

Inalcançável para o ser humano,

Provocante o suficiente para

Deixar um gostinho de felicidade possível.

 

Fechar os olhos e

Partilhar do deslumbramento de

Seres Celestes que não resistem

Ao encantamento e ao êxtase.

Cohen não entendeu o efeito de sua canção.

Sua música surpreende ao fazer com que

As lágrimas cheguem devagarinho, 

Arrastando tristezas e arrependimentos.


A música de rua é uma hipnose coletiva.

Flutua pelos espaços possíveis

E faz esquecer o porquê se passou por ali,

Para onde se estava indo,

O que se pretendia fazer…

Envolvidos pela sonoridade,

Se esquece de tudo o que

Prende ao dia a dia,

No cotidiano que asfixia e amedronta.


No primeiro dedilhar de um instrumento,

A sensação de que se evocam espíritos,

Compartilhando o que não cabe na lógica.

O lugar em que a alma suspira, 

Se desvencilha da realidade e 

Alcança o portal dos sonhos. 

No arco-íris de cada acorde,

Cada entonação de voz,

O horizonte se faz esperança

Pois, logo, logo, 

o Sol vai reger o nascer de um novo dia,

Nas notas que se desenham por entre as nuvens…


terça-feira, 12 de novembro de 2024

Educação: pelo direito de também ser feliz

Vamos partir do princípio de que uma educação cristã precisa ser, antes de tudo, uma educação humanista. É na "humanidade" que nosso Deus se revela. Enquanto, muitas vezes, tentamos entender os “céus”, Ele quis fazer uma imersão no mais profundo do ser que criou à sua imagem e semelhança. A pedagogia de Jesus é o ponto de partida para entender, assumir e vivenciar o papel social de um educador cristão/católico.

Esta imersão é função do leigo cristão em ser “presença da Igreja no coração do mundo e presença do mundo no coração da Igreja” (documento de Aparecida). Isto é, o processo de educação formal não pode prescindir da capacidade de interação social. Incluindo a capacitação política (cidadania, aquele que ajuda a cuidar da “polis”), em sua concepção mais ampla, e formação político-partidária, na sua forma mais específica.

Na história recente, a igreja foi capaz de formar lideranças sociais pela existência da Ação Católica, que se concretizou na Juventude Agrária Católica (JAC), Juventude Estudantil Católica (JEC), Juventude Operária Católica (JOC) e Juventude Universitária Católica (JUC). As narrativas fundamentalistas de alguns supostos “cristãos” veem nesses grupos uma influência marxista, enquanto a realidade mostra a riqueza de se ter como referência a própria (e pouco conhecida) Doutrina Social da Igreja.

Nossa geração de educadores viveu e vive um processo de transição. Para quem amplia seus horizontes, onde alguns veem problemas, os mais atinados (e preparados) encontram oportunidades. O momento é de menos intelectualidade e academicismo e mais coração (sensibilidade), chão (realidade) e fé (inspiração). 

Não sou um erudito, nem sou um intelectual, sequer sou mais um acadêmico. Percebi que todos os três podem ser apenas formas de satisfação pessoal, que estão distantes da realização daquelas pessoas que nos foram confiadas para que auxiliássemos a ver mais distante, com maior abrangência e esperança. O desafio, no entanto, recentemente, foi a pandemia que, por um lado, acelerou o uso dos recursos eletrônicos nas redes sociais e, por outro, acirrou o individualismo.

Mostrou o quanto também nós somos eternos aprendizes. Demonizar o instrumento é uma demonstração de incompetência. Educação não é um processo de conversão, sequer de proselitismo. Tentar um apagamento da história ou se negar a fazer uso do que são simples ferramentas, mostra que o discurso dos “formadores dos formadores” não bate com as práticas. Ensinar a pensar necessita do ensino formal, mas, ainda mais, mostrar seu pertencimento a uma sociedade que lhe será, quando for preciso, capaz de alcançar as bengalas necessárias para sua própria vida.

Educação tem que rimar com felicidade. Mais do que um instrumento funcionalista, precisa ser a ferramenta com a qual se constrói a integralidade do ser humano. Que passa pela realização pessoal, social e espiritual. Como? Este é o desafio. Possivelmente as formas com as quais fomos educados precisem ser superadas. Um novo instrumental de comunicação e de produção intelectual desafia a que se reinicie o processo, sem negar o que já adquirimos, mas capazes de fazer uma “mea culpa” de nossos erros. Respirar fundo e pensar que assim como se deseja fazer aqueles que se ama felizes, também se tem o direito de ser feliz…


domingo, 10 de novembro de 2024

Ausências

Quando foi que me dei conta 

De que teu lugar continua vazio?

Quando foi que teu riso deixou 

A realidade e emergiu nos meus sonhos?

Quando foi que se extraviou o brilho 

Do teu rosto e a ausência toldou o meu olhar?

Sonhei experimentar todas as emoções… 

Em especial, o amor incondicional entre almas  

Que, mesmo depois da partida, 

Ainda deixam um rastro de saudades!


sexta-feira, 8 de novembro de 2024

A distância entre dois corações...

Qual distância separa dois corações?

Quando a vida toma outro rumo e sentido?

Ou que a gente se perde no curso e no destino?

Os afastamentos não

Se medem em metros ou quilômetros.

São os que afastam as pessoas

Ao perderam a oportunidade do encontro

Por mal entendidos, receios, timidez…

 

É o olhar que ainda não compreendeu

O quanto de ternura cabe num sorriso.

Leva-se toda uma vida para entender que

Não existem encontros perfeitos, 

Mas encontros possíveis.

Precisa-se de tempo, disponibilidade e

Abrir o coração para acolher as contingências

Do que se tem receio de arriscar. 

 

Arriscar é a regra que afasta

Quem se acomodou na vida

De quem aceita os perigos,

Com marcas na pele,

Podendo ser dos anos ou das feridas,

Testemunhando

As vezes em que não deu certo e,

No entanto, sempre acreditou

Que valia a pena tentar uma vez...

E, novamente, se preciso fosse!

 

O ocaso é sempre o tempo de aceitar

O destino que se traçou e auscultar as mãos.

Comprovam que as rugas e os lanhados

São as páginas que contam a própria história.

Com momentos felizes, também

De tristezas e muitas expectativas.

Ali, cada letra, cada palavra, cada linha

Testemunham o gosto do que se chama viver.

 

Ao passar o tempo,

A cumplicidade compartilhada

Na proximidade entre dois corações

Desacelera,

Tornando vívida a necessidade

De receber (e dar) apenas afago e carinho.

O doce sentir de alguém que estende a mão e

Anuncia a finitude como um caminho

Que não se precisa percorrer sozinho…


terça-feira, 5 de novembro de 2024

Medalhas no remo: entre o peito e a lápide…

Pelotas parece estar fadada a que, ciclicamente, precise conviver com uma fatalidade que abale o emocional de boa parte da sua população. A mais recente acabou sendo a que vitimou nove integrantes do Projeto Remar, quando voltavam em uma van, numa estrada do Paraná, e perderam a vida. Treinavam no Centro Português, na atividade que tinha a iniciativa da Universidade Federal e o apoio da Prefeitura Municipal de Pelotas. Mais de 150 jovens já passaram pelo seu atendimento, nos últimos dez anos.

Pode-se imaginar o ambiente: mesmo cansados do retorno de uma competição nacional onde o esforço e a garra foram premiados com diversas medalhas, a adrenalina os fazia brincar. Típico da idade, com vozes alteradas, risos e zoações. A certeza de que suas conquistas eram mais um degrau para abrir perspectivas, certos do encontro com amigos(as), namorados(as) e parcerias. Os sonhos despertados por incentivadores, quando os prospectaram nas escolas, agora estariam no peito, o fruto de um grande e solidário esforço.

O projeto social é conhecido de quem é do remo. A primeira vez que ouvi a respeito foi pela Lyl Recuero, também da área, falando da paixão que encontrou às margens das águas do arroio Pelotas. Ao recordar, fica claro que as medalhas agora recebidas foram a marca de que o orgulho de tê-las no peito é a conquista de toda a sua curta vida. E não podem ser esquecidas. Infelizmente, uma lição que ficou incompleta. Mesmo que sejam referência para outros jovens que continuam em busca de uma perspectiva de vida.

O envolvimento da universidade, da prefeitura e do clube nada mais é do que a corresponsabilidade social em que se possibilitam oportunidades. O conforto das famílias, neste momento, não é o discurso dos políticos e oportunistas. Realizaram e viveram um sonho bom que, de outra forma, não teriam conseguido, em busca, quem sabe, de uma bolsa atlética do governo federal. Os meninos e meninas precisaram morrer para que representantes públicos reconhecessem o quanto o grupo lutou por um lugar ao sol…

Tragédias brasileiras sempre guardam uma pitada de ironia. O que as autoridades gastaram para enterrá-los poderia ter salvo suas vidas. E nenhuma delas fez publicamente um “mea culpa”. Os remos ficaram à beira da lagoa, à espera de meninos e meninas que aceitem ser desafiados. Ali, onde chegam os barcos, também atracaram seus sonhos…. Porém, as medalhas que transcendem a vida já repousam na Eternidade. Ficou o sentimento de que fazem e farão falta para preencher o vazio que restou nas família e entre seus amigos…