Pouco vejo sem eles.
Aliás, minha miopia já transbordou dos olhos
E disseminou-se por outras partes do corpo:
Minhas mãos não alcançam o carinho que desejei;
Meus braços não enlaçam quem amei;
Sinto falta do cheiro das pessoas e dos lugares onde vivi;
Meu andar não tem a alegria da partilha de um mesmo caminho...
O esquecimento do que utilizo não é importante.
Apenas reflexo do acúmulo de lembranças que deveriam
Ter sido arquivadas no lugar que se chama "saudade".
Onde os mais jovens custam a chegar
E os mais velhos têm medo de perdê-las.
A concha, na cozinha; a caneta, na mesa de trabalho,
A cadeira de balanço e o ringir da porta na varanda.
Perdidos para, em algum momento, serem reencontrados.
As memórias armazenadas na saudade
Têm o gosto das coisas inspiradas pelo coração.
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