sexta-feira, 7 de março de 2025

Mesmo que seja um amor atrapalhado

Não peça desculpa novamente.

Precisamos de um tempo para

Sondar nossos mundos interiores.

Sou surpreendido por nuances

Que revelam aspirações e pesadelos.

A ânsia por desvelar um ao outro.

No meio do caminho há ruídos que assustam,

Sem que sejam suficiente para nos afastar.

 

Meus fantasmas não têm pressa.

Ainda acreditas que uma 

Outra metade está esperando por ti?

Pois é, aguardei ao lado do caminho,

E agora sei como é ficar sem a pessoa que se ama.

Quando paro diante da porta dos meus medos, 

Percebo que o tempo passando 

Me deu a aparência de maturidade.


Em lugares onde a consciência não alcança

Aprisionou-se um menino 

Que esticou o olhar para a juventude,

Sem ter coragem de viver com um adulto.

A ausência das tuas palavras foi a falta

Do abraço que sussurrava por meu corpo.

Eram murmúrios não entendidos, 

Sentidos na agonia de te compreender…


Errar e ser perdoado é inerente ao amor.

O tempo ensina que as palavras não faladas

Também portam a compreensão e carícias 

De quem se atrapalha ao multiplicar o que é dito.

Um silêncio cúmplice encerra a compreensão.

Apazigua a alma, serena o corpo, 

Eleva o espírito ao patamar da beleza interior, 

Tornando um olhar travesso pleno de doçura. 


Mesmo que seja um amor atrapalhado. 

Pedir perdão, quantas vezes for necessário,

Por mal-entendidos, teimosias, 

O afastamento que endurece o olhar.

O direito à cumplicidade,

Quando as desculpas se tornam desnecessárias,

A intimidade dispensa formalidades,

Bastando apenas aconchegar o ser que se ama…

O calor do Sol que somente tu consegues me dar.

A certeza de que amar é o que dá sentido à vida!


terça-feira, 4 de março de 2025

Conclave: os bastidores da escolha de um papa

Coincidência analisar, em curto espaço de tempo, dois livros de vertentes literárias distintas. É inesgotável falar da obra de Saint-Exupéry, especialmente, a respeito do Pequeno Príncipe, com sua ternura e lições de humanidade. Mas há uma outra tendência no universo dos livros que fascina: a ficção, de onde emergiram, nos últimos anos, autores como Morris West (As Sandálias do Pescador), Dan Brown (O Código da Vinci, Anjos e Demônios…), Ken Follet (Os Pilares da Terra) e, agora, Robert Harris, percorrendo os bastidores da Igreja Católica, naquilo que tem de santa e pecadora (para os escritores, bem mais de pecadora).

Robert Harris é autor do best seller Conclave, adaptado para o cinema e, neste momento, em evidência pelas diversas indicações ao Oscar. Aborda uma temática que causa arrepios nos leitores que gostam quando se trata de teorias da conspiração, isto é, aquilo que expõe, desnuda negociações políticas, como a obra, falando a respeito da sucessão do papa (que se parece com Francisco…), numa época de abertura para as realidades sociais e sair do mundinho italiano para se tornar, de fato, universal. Isto na ficção…

Encontra terreno fértil neste tempo em que o papa Francisco, com 88 anos e a saúde debilitada, esforça-se para continuar sua obra, com uma garra que poucos religiosos com menos idade têm. Conclave é um livro que prende, descrevendo a morte do papa e a eleição de um novo, na Capela Sistina. Com a demonstração de ambição e mistérios que envolvem os principais “candidatos”. Quem narra é o cardeal Lomeli, decano do Colégio Cardinalício, que tem a obrigação de assegurar a lisura da sucessão, em meio aos seus próprios conflitos de fé. Na Missa que antecede o enclausuramento dos 128 homens para votarem, Lomeli desabafa:

“Oremos para que o Senhor nos conceda um papa que tenha dúvidas e que, pelas suas dúvidas, continue a fazer da fé católica uma coisa viva capaz de inspirar o mundo inteiro. Oremos para que ele nos conceda um papa capaz de pecar, e de pedir perdão, e de seguir em frente. É isso que pedimos ao Senhor, através da intercessão de Maria, a mais santa, Rainha dos Apóstolos, e de todos os mártires e santos, que ao longo do curso da História tornaram esta Igreja de Roma gloriosa através dos tempos…”

Gosto da temática, mas não pretendo dar spoiler, contando o final. Levei um baque nas últimas páginas. Embora se apresentem as vaidades e interesses escusos, para os religiosos católicos, há uma clara sugestão da ação do Espírito Santo. Contudo, também a discussão de questões ligadas à sexualidade e afetividade. A verdade é que o papa Francisco não tem fugido desta temática, mas, com certeza, serão necessários ainda alguns “franciscos” para que este rosto divino da sua Igreja se ajuste ao jeito bem menos santo de viver do ser humano…

domingo, 2 de março de 2025

Simplesmente assim: Como água com mel

Meus pés deixam marcas por sobre o sereno

Que ainda teima em permanecer sobre a grama,

Mesmo depois do nascer do sol.

Anda ao meu lado o sentimento de que

O tempo dilacera a espera,

Mas não é capaz de apagar as memórias

Guardadas na ternura de quem luta por não desistir...

 

Aprender a amar desnuda de tudo

Pela ternura do olhar de um filho,

O afeto pelo reencontro de um amigo,

Aconchegar a pessoa que dá razão ao meu sorriso.

As múltiplas formas de acolher e ser acolhido.

O desejo de que, em qualquer etapa da vida,

Transpareça o sentimento da partilha

Incandescendo o olhar.

 

Como água com mel.

O sentimento do que parece inutilmente simples:

Saciar a sede pelo privilégio de viver em paz…